Mediunidade
Acena-nos a antiguidade terrestre com brilhantes manifestações
mediúnicas, a reportarem da História.
Discípulos de Sócrates referem-se, com admiração e respeito, ao amigo
invisível que o acompanhava constantemente.
Reporta-se Plutarco ao encontro de Bruto, certa noite, com um dos seus
perseguidores desencarnados, a visitá-lo, em pleno campo.
Em Roma, no templo de Minerva, Pausânias, ali condenado a morrer de
fome, passou a viver, em Espírito, monodeizado na revolta em que se
alucinava, aparecendo e desaparecendo aos olhos de circunstantes
assombrados, durante largo tempo.
Sabe-se que Nero, nos últimos dias de seu reinado, viu-se fora do corpo
carnal, junto de Agripina e de Otávia, sua genitora e sua esposa, ambas
assassinadas por sua ordem, a lhe pressagiarem a queda no abismo.
Os Espíritos vingativos em torno de Calígula eram tantos nos jardins de
Lâmia, eram ali vistos, freqüentemente, até que se lhe exumaram os
despojos para a incineração.
Todavia, onde a mediunidade atinge culminância é justamente
no Cristianismo nascituro.
Toda a passagem do Mestre inesquecível, entre os homens, é um cântico
de luz e amor, externando-lhe a condição de Medianeiro da Sabedoria
Divina.
E, continuando-lhe o ministério, os apóstolos que se lhe mantiveram
leais converteram-se em médiuns notáveis, no dia de Pentecostes,
quando, associadas as suas forças, por se acharem "todos reunidos",
os emissários espirituais do Senhor, através deles, produziram
fenômenos físicos em grande cópia, como sinais luminosos e vozes
diretas, inclusive fatos de psicofonia e xenoglossia, em que os
ensinamentos do Evangelho foram ditados em várias línguas,
simultaneamente, para os israelitas de procedências diversas. Desde
então, os eventos mediúnicos para eles se tornaram habituais. Espíritos
materializados libertavam-nos da prisão injusta. O magnetismo curativo
era vastamente praticado pelo olhar e pela imposição das
mãos.
Espíritos sofredores eram retirados de pobres obsessos, aos quais
vampirizavam.
Um homem objetivo e teimoso, quanto Saulo de Tarso, desenvolve a
clarividência de um momento para outro, vê o próprio Cristo, às portas
de Damasco, e lhe recolhe as instruções. E porque Saulo, embora
corajoso, experimente enorme abalo moral, Jesus, condoído, procura
Ananías, médium clarividente na aludida cidade, e pede-lhe socorro para
o companheiro que encetava a tarefa.
Não somente na casa dos apóstolos em Jerusalém mensageiros espirituais
prestam contínua assistência aos semeadores do Evangelho; igualmente
no lar dos cristãos, em Antioquia, a mediunidade opera serviços
valiosos e incessantes. Dentre os médiuns aí reunidos, um deles,
de nome Agabo, incorpora um Espírito benfeitor que realiza
importante premonição. E nessa mesma igreja, vários instrumentos
medianímicos aglutinados favorecem a produção da voz direta,
consignando expressiva incumbência a Paulo e Barnabé.
Em Troáde, o apóstolo da gentilidade recebe a visita de um varão, em
Espírito, a pedir-lhe concurso fraterno.
E, tanto quanto acontece hoje, os médiuns de ontem, apesar de guardarem
consigo a Bênção Divina, experimentavam injustiça e perseguição. Quase
por toda a parte, padeciam inquéritos e sarcasmos, vilipêndios e
tentações.
Logo no início das atividades mediúnicas que lhes dizem respeito,
vêem-se Pedro e João segregados no cárcere. Estêvão é lapidado. Tiago,
o filho de Zebedeu, é morto a golpes de espada. Paulo de Tarso é preso
e açoitado várias vezes.
A mediunidade, que prossegue fulgindo entre os mártires cristãos,
sacrificados nas festas circenses, não se eclipsa, ainda mesmo quando o
ensinamento de Jesus passa a sofrer estagnação por impositivos de ordem
política. Apenas há alguns séculos, vimos Francisco de Assis
exalçando-a em luminosos acontecimentos; Lutero transitando entre
visões; Teresa d'Ávila em admiráveis desdobramentos; José de Copertino
levitando ante a espantada observação do papa Urbano VIII, e Swedenborg
recolhendo, afastado do corpo físico, anotações de vários planos espirituais que ele
próprio filtra para o conhecimento humano, segundo as concepções de sua
época.
Compreendemos, assim, a validade permanente do esforço de André Luiz,
que, servindo-se de estudos e conclusões de conceituados cientistas
terrenos, tenta, também aqui, colaborar na elucidação dos problemas da
mediunidade, cada vez mais inquietantes na vida conturbada do mundo
moderno.
Sem recomendar, de modo algum, a prática do hipnotismo em nossos templos
espíritas, a ele recorre, de escantilhão, para fazer mais amplamente
compreendidos os múltiplos fenômenos da conjugação de ondas mentais,
além de com isso demonstrar que a força magnética é simples agente, sem
ser a causa das ocorrências medianímicas, nascidas, invariavelmente, de
espírito para espírito.
Em nosso campo de ação, temos livros que consolam e restauram, medicam
e alimentam, tanto quanto aqueles que propõem e concluem, argumentam e
esclarecem. Nesse critério, surpreendemos aqui um livro que estuda. Meditemos,
pois, sobre suas páginas.
Emmanuel
(Uberaba, 6 de agosto de 1959)
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