segunda-feira, 1 de junho de 2015

DEPRESSÃO – O MAL DO SÉCULO


Quantas pessoas sofrem de depressão?
De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), a depressão atinge 121 milhões de pessoas ao redor do mundo e está entre as principais causas que contribuem para incapacitar um indivíduo. A OMS prevê que até o ano de 2020 a depressão passe a ser a segunda maior causa de incapacidade e perda de qualidade de vida.

A doença só atinge um grupo específico de pessoas?
Não. A depressão pode ocorrer tanto em homens como em mulheres, de todas as idades e de qualquer classe social. No entanto, a incidência é muito maior entre as mulheres do que entre os homens (a proporção é de dois casos entre elas para cada caso entre eles). Entre os indivíduos que também apresentam maior risco de desenvolver a doença estão as pessoas com casos de depressão na família, usuários de drogas, medicamentos e álcool, e notamos que houve um aumento no afetamento de adolescentes e jovens entre 15 e 30 anos.

E quais são as causas da doença na terceira idade?
No idoso, é comum que a depressão esteja associada à diminuição da autonomia, da capacidade funcional, ao isolamento e à perda de familiares e amigos. Conforme a Associação Brasileira de Psiquiatria, cerca de 15% da população de idosos apresentam os sintomas clínicos da doença.

Quais são os principais sintomas da depressão?
A depressão diferencia-se das normais mudanças de humor pela gravidade e permanência dos sintomas. Os sintomas mais comuns são:
  • Modificação do apetite (falta ou excesso de apetite);
  • Perturbações do sono (sonolência ou insônia);
  • Fadiga, cansaço e perda de energia;
  • Sentimentos de inutilidade, de falta de confiança e de autoestima, sentimentos de culpa e sentimento de incapacidade;
  • Falta ou alterações da concentração;
  • Preocupação com o sentido da vida e com a morte;
  • Desinteresse, apatia e tristeza;
  • Alterações do desejo sexual;
  • Irritabilidade;
  • Manifestação de sintomas físicos, como dor muscular, dor abdominal, enjôo.

Quais são as suas consequências?
Se não tratada devidamente, pode levar a uma incapacidade de gerenciar a própria vida e à perda da responsabilidade em relação aos outros. A depressão pode levar a casos extremos como o suicídio. A doença está associada à morte de cerca de 850.000 pessoas por ano, conforme dados da Organização Mundial de Saúde (OMS).
Fonte :http://portal.saude.gov.br/portal/saude/


 A DEPRESSÃO NA VISÃO MÉDICA  
Este é o parecer do Prof. Dr. Mario Rodrigues Louzã Neto, Médico formado pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, Psiquiatra e Psicanalista, sobre os aspectos médicos da depressão:

"Depressão (Transtorno depressivo)
A tristeza é dos sentimentos humanos o mais doloroso. Todos nós tomamos contato com ela em algum momento de nossas vidas. A tristeza passageira, a "fossa" ou "baixo-astral", o "estar down" fazem parte da vida, e são superados após algum tempo. O luto, após a perda de um ente querido, manifesta-se por um sentimento de tristeza e vazio e também é superado com o correr do tempo. Devem-se distinguir a tristeza e o luto normais da depressão.
A depressão é uma doença, como outra doença qualquer, que se caracteriza por uma tristeza profunda e duradoura, além de outros sintomas e que dispõe hoje de tratamentos modernos para alívio do sofrimento que acarreta. A depressão é uma doença bastante comum. A cada ano, uma em cada vinte pessoas apresenta depressão. As chances de alguém ter uma depressão ao longo da vida são de cerca de 15%.
É muito importante que as pessoas saibam perceber a depressão para poder procurar ajuda especializada e tratamento. A pessoa sente uma tristeza intensa, que não consegue vencer. Ela pode achar que isso é uma "fraqueza de caráter" e tem vergonha de pedir ajuda, ou então não sabe que se trata de uma doença como outra qualquer, passível de tratamento com grandes chances de sucesso. Nessa situação é muito importante que os familiares ou amigos próximos tomem a decisão de levá-la ao médico, seja o clínico ou médico da família, seja o psiquiatra. Este fará uma avaliação minuciosa do quadro, orientando na realização de eventuais exames laboratoriais, bem como no tratamento.
Os principais sintomas da depressão são: tristeza profunda e duradoura (em geral mais que duas semanas), perda do interesse ou prazer em atividades que antes eram apreciadas, sensação de vazio, falta de energia, apatia, desânimo, falta de vontade para realizar tarefas, perda da esperança, pensamentos negativos, pessimistas, de culpa ou autodesvalorização. Além desses, a pessoa pode ter dificuldade para concentrar-se, não dorme bem, tem perda do apetite, ansiedade e queixas físicas vagas (desconforto gástrico, dor de cabeça, entre outras). Em casos mais graves podem ocorrer ideias de morte e suicídio, havendo até pessoas que tentam o suicídio. A depressão é frequentemente uma doença recorrente, a pessoa tem episódios de depressão que se repetem de tempos em tempos.
A causa da depressão não é conhecida. Sabe-se que vários fatores biológicos e psicológicos podem contribuir para seu aparecimento. Em algumas pessoas a hereditariedade tem um peso importante, outros parentes também apresentam depressão. Com muita frequência a depressão começa após alguma situação de estresse ou conflito e depois persiste, mesmo após a superação da dificuldade. As pesquisas mostram que na depressão há um desequilíbrio químico no cérebro, com alterações de neurotransmissores (substâncias que fazem a comunicação entre as células nervosas) principalmente da noradrenalina e da serotonina. A descoberta destas alterações permitiu o desenvolvimento de medicamentos específicos para o tratamento da depressão: os medicamentos antidepressivos.
A DEPRESSÃO NA VISÃO ESPÍRITA
Este é o parecer do Dr. Jaider Rodrigues de Paula – Psiquiatra/AMEMG  Associação Médica Espírita de Minas gerais.

Conceito:
É um transtorno do humor, com baixa da atividade geral, levando ao sofrimento íntimo profundo, desesperança, falta de fé em Deus, em si próprio e na vida.

Etiopatogenia[1]:
A ciência médica ainda não tem, claramente, o conhecimento da origem da depressão. Fala-se em distúrbios dos neurotransmissores a nível do sistema nervoso central, de herança genética de pressão social, frustrações, perdas precoces importantes e outras mais; porém, embora todas as possibilidades acima sejam verdadeiras como desencadeadoras, não explicam porque alguns indivíduos, sofrendo as mesmas contingências, não desenvolvem um quadro depressivo. Todas as possibilidades acima são efeitos e não causas.
A causa da depressão vige na alma e não somente no corpo físico. O conflito do deprimido remonta a causas pretéritas, provavelmente longínquas, com repercussão no presente. O cerne da questão liga-se a não identificação do amor divino e da paternidade do Criador. Por isso a rebeldia tão comum no deprimido.
Revolta-se contra as leis, desdenha a própria vida, não concordando em ter sido criado, vai com facilidade ao suicídio (10 a 15% dos deprimidos se suicidará). Num ato de rebeldia extrema tentam devolver a própria vida ao Criador.
O deprimido apresenta duas características: – egoísmo e agressividade. Egoísmo por crer que sua dor é a maior do mundo e agressividade voltada principalmente contra si próprio. Não pensam que seus atos irão fazer sofrer os que vão ficar.
A essência da existência é o elo Criador-criatura, Pai-filho.
A ruptura deste elo pelo deprimido suicida é extremamente sofrida, pois, talvez, repete o desligamento havido outrora, quando da separação Pai e filho. Por isso as perdas precoces falam alto ao coração do deprimido.
Entendemos que a primeira queda forma um clichê mental na vida do espírito, de modo que haveria uma tendência neurótica à repetição do mesmo erro durante as futuras reencarnações. Estão incitas no perispírito as matrizes da depressão. O corpo físico reflete o corpo espiritual. Se o reencarnante traz insculpido no seu psicossoma as matrizes da depressão, elas influenciarão ativamente na seleção genética dos elementos que poderão viabilizá-la na vida física, caso o interessado deseje. Doenças são efeitos e não causas.
As excrescências do egoísmo são a vaidade, orgulho, inveja, revolta. E observando, vamos encontrar como ponto central da mente dos encarnados uma destas excrescências como núcleo motor da personalidade. Se for a rebeldia, a tendência pode ser a depressão. A taxa de prevalência é de 7 a 17 % e o gene participante é dominante e deve encontrar-se no cromossoma 11, embora haja uma tendência entre os geneticistas em aceitar como mais provável uma interação poligênica.
Tratamento:
O tratamento deverá ser abrangente, holístico. Para efeito didático, diremos: – médico, psicológico, social e principalmente espiritual.
O tratamento médico é imprescindível na fase crítica.
O uso de antidepressivos é decisivo para restabelecer a fase aguda.
Sabe-se que alguns neurotransmissores estão envolvidos na depressão, tais como: noroadrenalina, serotonina, dopamina e outros.
O uso dos antidepressivos estabelece a harmonia químico cerebral, melhorando o humor do paciente. Cuidam simplesmente do efeito, pois os medicamentos não curam a depressão; provavelmente restabelecem o trânsito das mensagens neuroniais, melhorando o funcionamento neuroquímico do SNC (sistema nervoso central).
A orientação social é necessária em especial naquela porcentagem de deprimidos (20%) que apresentam sequelas profissionais após várias crises. Perdem empregos, família e consideração social, entrando num círculo vicioso agravante de seu problema. O tratamento espiritual é importantíssimo porque o
"espírito é o fundamento da vida". Quando não valorizamos o tratamento espiritual, os resultados costumam ser precários, as recidivas constantes, com uma tendência ao envelhecimento precoce.
Sua crença é voltada para o negativo, é muito voltado para si e seus males (muito egoísta). Seduz o mundo com sua dor. É pouco responsável em seus atos (embora pareça o contrário). E tem dificuldade no auto e eterno perdão. É perfeccionista por orgulho e vaidade. Tem convicção no fracasso. Apresenta extrema agressividade voltada para si. Vinga-se de Deus e dos que amam-no (70% pensam no suicídio e de 10 a 15% cometem-no). Vive criando culpa por recapitularem o erro primeiro. É cheio de remorso por bagatelas – muitas doenças são originadas nele ou tem nele seu desenvolvimento acelerado.
A depressão é a tristeza deteriorada. O duplo etérico é gravemente acometido apresentando dificuldades em fazer circular as energias necessárias à vida.
A aura é acinzentada demonstrando uma existência sem vida. No tratamento temos que orientar para a respiração a longos haustos (exercícios respiratórios), melhorando a captação da vitalidade e dissolvendo as energias negativas.
Alimentação que estimule o bom funcionamento dos intestinos, tais como frutas, verduras, banhos de sol em horários convenientes, evitar alcóolicos, fumos e excessos de carne. Passes fluídicos nos centros de forças genésico, esplênico e gástrico. Fazer exercícios físicos como caminhadas, natação e outros salutares.
Exercitar a mente de maneira consciente para olhar o lado bom das pessoas e das coisas. Fazer meditação, relaxamento e pequenas tarefas em favor dos semelhantes (sair de si). Buscar melhor convivência familiar e no trabalho, desenvolvendo o sentimento de gratidão com as pessoas, com a vida, com o Criador. Cultivar a oração regularmente restabelecendo a comunhão com Deus, o hábito de leituras nobres, melhorando o padrão vibratório e estimulando o sentimento de esperança.
Não podemos esquecer das obsessões espirituais que têm nos deprimidos fértil terreno para o seu assentamento.
Há outro aspecto muito interessante, abordado pelo Espírito François de Genève, no capítulo V, de "O Evangelho Segundo o Espiritismo":
"Sabeis porque, às vezes, uma vaga tristeza se apodera dos vossos corações e vos leva a considerar amarga a vida? É que o vosso Espírito, aspirando à felicidade e à liberdade, se esgota, jungido ao corpo que lhe serve de prisão, em vãos esforços para sair dele. Reconhecendo inúteis esses esforços, cai no desânimo e como o corpo lhe sofre a influência, toma-vos a lassidão, o abatimento, uma espécie de apatia e vos julgais infelizes.

QUANDO A MEDICINA E A ESPIRITUALIDADE TRABALHAM JUNTAS
O médico neuropsiquiatra e psicoterapeuta, Dr. Franklin Antônio Ribeiro, dirigente do Grupo Espírita Hosana Krikor e membro do Núcleo de Estudos dos Problemas Espirituais e Religiosos (NEPER), do Instituto de Psiquiatria da USP, esclarece quais são seus principais agentes causadores e como a ciência e a doutrina espírita podem trabalhar juntas.

A depressão pode ocorrer em qualquer idade?
Acontece em todas as idades, inclusive na infância. A depressão pode ocorrer também na adolescência, tendo como sintoma mais comum a irritabilidade, aliás, o número de jovens com depressão vem aumentando devido ao uso exagerado do álcool e das drogas.

Como a depressão é analisada do ponto de vista médico, humanístico e espiritual?
A depressão tem várias faces. Do ponto de vista humanístico, o amor, desde a infância, é fator primordial e começa dentro da família. Se há uma relação sincera entre os parceiros, a criança vai crescer dentro de um lar estruturado, mesmo com todas as dificuldades naturais de uma relação humana. O indivíduo aprende desde cedo a lidar com a insatisfação, com as crises, com o respeito, amizade, desprendimento e outros aspectos importantes nos relacionamentos.
Muitas vezes, se a pessoa está com a auto-estima baixa, sem autoconfiança, desanimada, desinteressada, sem prazer na vida e sente que alguém se interessa por ela, sua imunidade melhora muito.  O ser humano precisa se sentir reconhecido. Sem isso, começa a sentir uma sensação de vazio e angústia.
O deprimido tem equívocos em relação ao que pensa sobre si mesmo. O indivíduo não se conforma com aquilo que está podendo ser e o que gostaria de se tornar.
Do ponto de vista médico, a depressão é uma falta de neurotransmissores no cérebro, que necessita de medicamento, ou seja, de um controle químico.
Pelo ângulo espiritual, a culpa, o remorso, a mágoa e o ressentimento levam a pessoa a estados depressivos, podendo causar o desenvolvimento de doenças psicossomáticas e até mesmo câncer. Portanto, o amor e o perdão que a doutrina espírita tanto nos ensina são sentimentos também preventivos.

Quais são os tipos de depressão?
Na depressão primária o indivíduo nasce com falta de neurotransmissores e com doses de remédio e amor a depressão pode ser evitada. Lembramos também que a depressão recebe os fatores genéticos. Estudos com irmãos gêmeos comprovam o fato.
Na secundária, há fatores que podem desencadear a depressão como alguns medicamentos que afetam o humor, períodos pós-cirurgia, pós-parto, pré-menstruais, menopausa, entre outros.
O que fazer diante dos sintomas de uma depressão?
Primeiro procurar um médico psiquiatra para que não sejam tomados remédios ministrados de forma errada. Cada paciente necessita de um antidepressivo específico. Se além do remédio, da terapia, dos cuidados com o sono, com a alimentação e das relações, o deprimido fizer um tratamento espiritual com passes magnéticos, água fluidificada e leitura do Evangelho, tanto melhor. O tratamento completo engloba o biológico, psicológico, social e espiritual.
Como prevenir?
Se o fator genético for muito forte, pode-se evitar os fatores psicológicos e espirituais. Psicologicamente, podemos ensinar a criança a lidar com a falta das coisas e das pessoas, estabelecendo limites.  Educar é frustrar, porque a vida na Terra possui perda, dor, sofrimento e inevitavelmente passaremos por situações assim. Se formos educados desde cedo a enfrentar as situações, estaremos mais bem equipados. Se a cada sofrimento os pais derem um presente, ou de certa forma, satisfizerem o princípio do prazer o tempo inteiro, estarão criando seres inseguros, rebeldes, que aprenderão a ver na matéria a solução para seus problemas. Ao contrário disso, devem ensinar o princípio do perdão, da verdade, sinceridade, respeito, lealdade, companheirismo e diálogo.
A verdadeira prevenção está no autoconhecimento, no amor a si mesmo e ao próximo, tendo consciência de que os seres humanos são como são, e não da forma como gostaríamos que fossem. Só conseguimos compreender o outro, quando nos compreendemos, aprendendo a aceitar, a lidar com a insatisfação. Não há como prevenir depressão senão passarmos por nós mesmos. Deus está dentro de nós, então agradeça a Ele pela vida. Quando o temporal passa, surge um lindo sol.

A assistência espiritual que foi implantada na Federação Espírita do Estado de São Paulo tem sido um grande recurso para a recuperação de pessoas com depressão grave e vem atendendo, com sucesso, a um grande número de pessoas.
A assistência espiritual, atualmente, está sendo aprimorada com procedimentos e técnicas novas visando acelerar o processo de recuperação. Na nossa experiência, observamos uma recuperação mais rápida no início da implantação do trabalho, com atendimento em grupos menores – no máximo de 40 a 50 pessoas – com técnicas específicas desenvolvidas na apresentação dos temas, recursos especiais de comunicação e experiência com a depressão e com pessoas deprimidas.
O crescimento dos trabalhos exige a utilização de colaboradores em grande número, cuja experiência mais limitada diminui a eficácia do trabalho aumentando o citado período de recuperação. O maior número de pessoas atendidas em cada grupo também dificulta a interação necessária, diminuindo a eficácia do trabalho.

Fonte:http://www.rcespiritismo.com.br/
Entrevista publicada na Revista Cristã de Espiritismo, edições 24 e 62.

[1] etiopatogenia sf (etio+patogeniaMed Estudo das causas das doenças ou do seu desenvolvimento.
http://nossacasa-rs.com.br/ARTIGOS/DEPRESSAO/DEPRESSAO-%E2%80%93-O-MAL-DO-SECULO.html

Espiritismo e sofrimento


corredor escuro
O caminho não é assim tão árduo…
http://www.espiritoimortal.com.br/espiritismo-e-sofrimento/
Sempre me disponho a esclarecer dúvidas sobre o Espiritismo ou dar orientações que estejam ao meu alcance. Quase sempre são questões importantes, envolvendo sofrimento, que exigem uma resposta rápida. Ocorre, algumas vezes, de surgirem dúvidas ou pedidos de conselho que me parecem banais. Preciso relê-los com calma para perceber que, para a pessoa que vive essas situações, elas parecem sérias e importantes.
Às vezes aparece alguém criticando tudo e todos, despejando revolta e inconformismo. Querem respostas. Mas não querem respostas para ponderar, refletir. Querem discutir, e eu não discuto. Não sou de participar de longas discussões e intermináveis polêmicas.
Essas pessoas querem explicações para as suas vidas, para os seus problemas. Mas não aceitam serem responsabilizadas por seus próprios atos. Não aceitam a reencarnação, acham Deus injusto, acham a vida cruel. Não se dão ao trabalho de estudar, não conseguem se esvaziar dos preconceitos, das ideias pré-concebidas, das opiniões formadas sobre tudo.
Um mergulho no Livro dos Espíritos quase sempre é suficiente para dissipar a maior parte das dúvidas acerca da existência. Mas é preciso estar disposto a aprender, a apreender novos conceitos.
São essas pessoas que, num estágio posterior, quando conseguem acreditar em algo, associam esse algo a alguém. Não conseguem aceitar a ideia isoladamente da pessoa que a gerou ou forneceu. Se aceita uma verdade, acolhe junto com ela a pessoa que lhe repassou essa verdade. São as pessoas que cultuam ídolos, que idolatram gurus, que precisam de mestres infalíveis.
Quando percebem que o ídolo é humano, que o guru é também aprendiz e que o mestre falha, se decepcionam, têm crises, recaem na descrença e no azedume.
Todos precisamos de alguém que nos aponte caminhos, que nos dê pistas a seguir, que divida conosco seus conhecimentos e experiências. Mas cada um deve caminhar por si mesmo. O máximo que alguém pode fazer por nós é mostrar a estrada, talvez afastar duas ou três pedras do caminho pra nos facilitar o começo da caminhada. Mas temos que caminhar com as nossas próprias pernas. Um passo de cada vez.
Em lugar algum vamos encontrar algo de produtivo para a reforma íntima, ou mesmo para a resolução de problemas mais imediatos, em pseudoverdades que nos satisfaçam o ego. Por que tanta dificuldade em aceitar a própria responsabilidade sobre o que se faz da vida? Como o orgulho é capaz de cegar dessa maneira?
Quem contata com o Espiritismo em busca de soluções fáceis nem se dá o tempo necessário para perceber que o caminho não é assim tão árduo. O Espiritismo não impõe grandes sacrifícios, não pede ou proíbe, apenas orienta e indica.
Acho uma pena quando aparece em meu caminho um revoltado. A revolta é ainda anterior ao sofrimento. Só depois de gastar muita energia com a revolta contra tudo e contra todos é que a pessoa revoltada vai amainando o coração e sofre. Então é a culpa, o remorso e, se houver um pouco de humildade, o arrependimento. É nesse estágio de sofrimento que muitos chegam ao Espiritismo. Essa é uma das causas do Espiritismo ter a sua imagem erroneamente associada ao sofrimento.
Há os que chegam ao Espiritismo por amor, por bondade, por necessidade de fazer o bem. Há os que chegam movidos pelo apelo científico, pela infinita área de pesquisa e conhecimento que o Espiritismo oferece. Mas você pode observar, no seu círculo de convívio, que a maior parte, ainda, vem trazida pelo sofrimento.
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TREINO PARA A MORTE


“Preocupado com a sobrevivência além do túmulo, você pergunta, espantado, como deveria ser levado a efeito o treinamento de um homem para as surpresas da morte.
A indagação é curiosa e realmente dá que pensar.
Creia, contudo, que, por enquanto, não é muito fácil preparar tecnicamente um companheiro à frente da peregrinação infalível.
Os turistas que procedem da Ásia ou da Europa habilitam futuros viajantes com eficiência, por lhes não faltarem os termos analógicos necessários. Mas nós, os desencarnados, esbarramos com obstáculos quase intransponíveis. 
A rigor, a Religião deve orientar realizações do espírito, assim como a Ciência dirige todos os assuntos pertinentes à vida material. Entretanto, a Religião, até certo ponto, permanece jungida ao superficialismo do sacerdócio, sem tocar a profundeza da alma.
Importa considerar também que a sua consulta, ao invés de ser encaminhada a grandes teólogos da Terra, hoje domiciliados na Espiritualidade, foi endereçada justamente a mim, pobre noticiarista sem méritos para tratar de semelhante inquirição.
Pode acreditar que não obstante achar-me aqui de novo, há quase vinte anos de contado, sinto-me ainda no assombro de um xavante, repentinamente trazido da selva mato-grossense para alguma de nossas Universidades, com a obrigação de filiar-se, de inopino, aos mais elevados estudos e às mais complicadas disciplinas.
Em razão disso, não posso reportar-me senão ao meu próprio ponto de vista, com as deficiências do selvagem surpreendido junto à coroa da Civilização.
Preliminarmente, admito deva referir-me aos nossos antigos maus hábitos. A cristalização deles, aqui, é uma praga tiranizante. 
Comece a renovação de seus costumes pelo prato de cada dia. Diminua gradativamente a volúpia de comer carne dos animais. O cemitério na barriga é um tormento, depois da grande transição. O lombo de porco ou o bife de vitela, temperados com sal e pimenta, não nos situam muito distantes dos nossos antepassados, os tamoios e o ciapós [sic], que se devoravam uns aos outros.
Os excitantes largamente ingeridos constituem outra perigosa obsessão. Tenho visto muitas almas de origem aparentemente primorosa, dispostas a trocar o próprio Céu pelo uísque aristocrático ou pela nossa cachaça brasileira.
Tanto quanto lhe seja possível, evite os abusos do fumo. Infunde pena a angústia dos desencarnados amantes da nicotina.
Não se renda à tentação dos narcóticos. Por mais aflitivas lhe pareçam as crises do estágio no corpo, agüente firme os golpes da luta. As vítimas da cocaína, da morfina e dos barbitúricos demoram-se largo tempo na cela escura da sede e da inércia. 
E o sexo? Guarde cuidado na preservação do seu equilíbrio emotivo. Temos muita gente boa carregando consigo o inferno rotulado de "amor".
Se você possui algum dinheiro ou detém alguma posse terrestre, não adie doações, caso esteja realmente inclinado a fazê-las. Grandes homens, que admirávamos no mundo pela habilidade e poder com que concretizavam importantes negócios, aparecem, junto de nós, em muitas ocasiões, à maneira de crianças desesperadas por não mais conseguirem manobrar os talões de cheque.
Em família, observe a cautela com testamentos. As doenças fulminatórias chegam de assalto, e, se a sua papelada não estiver em ordem, você padecerá muitas humilhações, através de tribunais e cartórios. 
Sobretudo, não se apegue demasiado aos laços consangüíneos. Ame sua esposa, seus filhos e seus parentes com moderação, na certeza de que, um dia, você estará ausente deles e de que, por isso mesmo, agirão quase sempre em desacordo com a sua vontade, embora lhe respeitem a memória. Não se esqueça de que, no estado presente da educação terrestre, se alguns afeiçoados lhe registrarem a presença extraterrena, depois dos funerais, na certa intimá-lo-ão a descer aos infernos, receando-lhe a volta inoportuna. 
Se você possui o tesouro de uma fé religiosa, viva de acordo com os preceitos que abraça. É horrível a responsabilidade moral de quem já conhece o caminho, sem equilibrar-se dentro dele.
Faça o bem que puder, sem a preocupação de satisfazer a todos. Convença-se de que se você não experimenta simpatia por determinadas criaturas, há muita gente que suporta você com muito esforço.
Por essa razão, em qualquer circunstância, conserve o seu nobre sorriso.
Trabalhe sempre, trabalhe sem cessar.
O serviço é o melhor dissolvente de nossas mágoas. 
Ajude-se, através do leal cumprimento de seus deveres.
Quanto ao mais, não se canse nem indague em excesso, porque, com mais tempo ou menos tempo, a morte lhe oferecerá o seu cartão de visita, impondo-lhe ao conhecimento tudo aquilo que, por agora, não lhe posso dizer.”
FONTE: Cartas e Crônicas, psicografado pelo médium Francisco Cândido Xavier, pelo Espírito Irmão X [Humberto de Campos]. Rio de Janeiro: FEB, 1974. Capítulo 4 (Treino para a Morte)
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O DOIS DE NOVEMBRO



 Almerindo Martins de Castro

"O dia de Finados” não tem origem em ensinamentos dos Espíritos. Derivou da festa católico – romana de 1º de novembro – "Dia de todos os Santos".
Quando da destruição dos templos pagãos, em Roma, um entre todos foi poupado, porque constituía obra–prima de arquitetura e riqueza. Construído por Marco Agripa, denominava-se – Panteão e nele, a 1º de novembro, era celebrada, pelos pagãos, com excessos, a "festa de todos os deuses". O Papa Bonifácio IV obteve-o, por doação do Imperador Focas e fê-lo purificar, recolhendo a ele os tesouros e despojos mortais das catacumbas dos cristãos e consagrou-o a Santa Maria dos Mártires. Nesse templo (que estivera fechado durante dois séculos) Gregório IV, em 835, instituiu em antítese, a "festa de todos os santos", em homenagem aos santos que não tinham culto em dia destacado no calendário, universalizada depois para todo o orbe católico. Mas, para que não ficassem esquecidos ante Deus os fiéis da Igreja e os pecadores, foi estabelecido que no dia seguinte, 2 de novembro, se fizessem no templo orações em intenção desses mortos.

Só em 998, dez séculos depois do Cristo, o Abade da Ordem dos Beneditinos, em Cluny, instituiu, em todos os mosteiros da Ordem, na França, a "comemoração dos mortos", o "dia de finados", nesse 2 de novembro, culto que a Santa Sé aplaudiu e oficializou para todo o Ocidente. Assim foi o mundo profano levado a cultuar os seus mortos (outrora enterrados nas igrejas e em "campo santo") num dia determinado, quiçá na ingênua, ilusória esperança de que os Espíritos desencarnados fruiriam venturas celestiais, recebendo, nas covas das necrópoles, as flores e as luzes das velas, que, não raro, exalam hipocrisia e iluminam as trevas das maldades e rancores de quem as acende. O tempo decerto conseguirá esculpir nos corações o ensinamento dos mestres da espiritualidade, fazendo com que as criaturas regressem à sincera e modesta maneira de encarar e reverenciar o nascimento e o decesso dos seres na face da Terra, práticas desvirtuadas pelas deturpações dos interessados e dos ignorantes. Os antigos tinham intuição ou ensinamentos bem mais aproximados do verdadeiro modo de interpretar o sentido da vida e da morte dos seres humanos.

Heródoto (o denominado – Pai da História) diz que, na Trácia remota (território cujas fronteiras estão hodiernamente diluídas numa das províncias da Turquia), o nascimento de uma criança reunia a família em torno do berço para, por entre lágrimas e tristeza, lamentar as provações a que viera o recém-nascido; enquanto que o falecimento de um ente querido era saudado jubilosamente, na antevisão de que o Espírito liberto iria fruir as venturas e galardões do Além.
O Espiritismo contemporâneo veio encontrar o automatismo dos costumes e estipulações seitistas, consuetudinárias, que obscurecem de algum modo o lídimo sentido espiritual da vida e da morte; mas, suavemente, sem contundir a sinceridade dos que ainda não evoluíram para a integral espiritualidade, irá encaminhando as Almas para a verdadeira comunhão com os chamados mortos.

Não está nos cemitérios o mundo dos Espíritos. Ali apenas podem permanecer transitoriamente os cegos desesperados, cujo passamento não os pôde desligar da matéria em decomposição. Fora dali, no indefinível templo do nosso coração é onde devemos orar pela paz e pelo esclarecimento dos Espíritos liberados do corpo. Mas, principalmente, pelos sofredores.

Os Espíritos de Luz, aqueles que misericordiosamente, ajudam os grilhetas da Terra, descem pela escada espiritual das nossas preces, dos nossos pensamentos de abnegada solidariedade com os chagados da alma, que gemem nos ergástulos da dor e do remorso, com os surdos e cegos, que ainda não ouviram, nem lobrigaram as harmonias iluminadas da Verdade que as "vozes do silêncio" entoam para glória de Deus e bênção dos arrependimentos. Em cada dia da existência, nas horas de recolhimento, oremos pelos tristes, pelos abandonados que, na desolada noite de sua provação, não conheceram amor, carinho, consolo, bálsamo para as suas dores de alma.

Deixemos os cemitérios onde se dissociam as moléculas da carcaça humana, e pensemos no Mundo do Alto, de onde tudo vem para a Terra e aonde sobem, de regresso, as refrações de todos os diferentes mundos dispersos no Infinito.

Espiritualizemos os estágios da existência terrena, mantendo o recôndito do nosso ser em ressonância com o mundo espiritual de amanhã, vivendo em harmonia com os imperativos naturais da matéria, conservando, porém, o Espírito alertado para a devida obediência às leis que regem, nas trajetórias das vidas sucessivas.
Ante a morte do corpo, não nos impressionemos com o fogo-fátuo, que é luz da matéria e que não pode ficar dentro da cova; busquemos o santelmo, Luz do Alto, que se acende no cimo dos mastaréus, na vastidão dos mares, com as fosforescências que têm contato nas rutilâncias das claridades celestiais.

Não façamos treva onde a vida se ilumina; não choremos ante o corpo inerte, porque o Espírito se está movendo no júbilo da libertação. Os espíritas não podem esquecer o simbólico ensinamento do Mestre: "...deixai que os mortos enterrem seus mortos" (Mateus, 8:22).

A comemoração que, rotineiramente, se celebra, a dois de novembro, deve ser substituída pela permanente comemoração dos - vivos verdadeiros- porque a noite da morte do corpo é a alvorada esplêndida do Espírito, despido da negra libré do cárcere, imergindo nas suaves, eternas claridades da aurora redentora...

Texto retirado do Reformador - novembro /1999, transcrito do número de novembro de 1950
http://www.trabalhadorespirita.com.br/desencarnacao.html


DIA DOS VIVOS


Richard Simonetti
Antigas culturas orientais pranteavam o nascimento e festejavam a morte, partindo de dois princípios:
* Nascer é iniciar uma jornada de dores e atribulações, enfrentando longo degredo neste vale de lágrimas.
* Morrer é desvencilhar-se das amarras e ganhar a amplidão.
São perfeitamente compatíveis com a Doutrina Espírita, que nos fala da reencarnação como uma experiência difícil, complicada, mas necessária, no estágio de evolução em que nos encontramos.
É, digamos, uma materialização a longo prazo, uma armadura de carne que vestimos, a limitar nossas percepções.
Ligação tão íntima, tão entranhada, que o corpo passa a integrar nossa alma, como um apêndice, colocando-nos em contato com vicissitudes como a dor, o desajuste, a doença, a senilidade, próprios dos seres biológicos, a se acentuarem na medida em que se desgastam suas células.
Por outro lado, o esquecimento das experiências anteriores gera boa dose de insegurança. O reencarnante situa-se perdido no presente, a caminhar para o futuro sem o referencial do passado.
E há, ainda, o contato com pessoas e situações que dizem respeito ao pretérito, envolvendo afetos e desafetos. Estará às voltas com sentimentos gratuitos e contraditórios de simpatia e antipatia, afeto e desafeto, amor e ódio, envolvendo gente de seu relacionamento, particularmente os familiares.
Isso tudo é necessário, uma contingência evolutiva.
A carne é a lixa grossa que desbasta nossas imperfeições mais grosseiras.
O esquecimento do passado é a bênção do recomeço, a fim de que possamos superar paixões e fixações que precipitaram nossos fracassos no pretérito.
A convivência com afetos e desafetos de vidas anteriores é a oportunidade de consolidar afeições e desfazer aversões.
Mas… enfrentar tudo isso em estado de amnésia, sem a mínima noção do porquê dessas experiências!…
Barra pesada!
...
A literatura psíquica nos dá notícia das angústias do Espírito, quando se prepara para o mergulho na carne, considerando suas próprias limitações e as dificuldades inerentes à jornada humana.
Em O Livro dos Espíritos, há a questão 341:
Pergunta Kardec:
Na incerteza em que se vê, quanto às eventualidades do seu triunfo nas provas que vai suportar na vida, tem o Espírito uma causa de ansiedade antes da sua encarnação?
Responde o mentor:
De ansiedade bem grande, pois que as provas da sua existência o retardarão ou farão avançar, conforme as suporte.
No livro Nosso Lar, psicografia de Francisco Cândido Xavier, André Luiz reporta-se à ansiedade de Laura, nobre senhora que se preparava para reencarnar. Não obstante seus incontáveis méritos, encarava com apreensão o mergulho na carne.
E comenta com o Ministro Genésio, um benfeitor espiritual:
– Tenho solicitado o socorro espiritual de todos os companheiros, a fim de manter-me vigilante nas lições aqui recebidas. Bem sei que a Terra está cheia da grandeza divina.
Basta recordar que o nosso Sol é o mesmo que alimenta os homens; no entanto, meu caro Ministro, tenho receio daquele olvido temporário em que nos precipitamos. Sinto-me qual enferma que se curou de numerosas feridas… Em verdade, as úlceras não mais me apoquentam, mas conservo as cicatrizes.
Bastaria um leve arranhão, para voltar à enfermidade.
Laura reporta-se àquele que talvez seja o maior problema do Espírito reencarnado – a reincidência.
Tornar aos mesmos enganos do passado.
Nas reuniões mediúnicas é comum o contato com Espíritos que simplesmente refugam as oportunidades de reencarnar, alegando que estão muito bem e não se sentem dispostos a enfrentar o mergulho nas incertezas da carne.
Embora tenham que fazê-lo, mais cedo ou mais tarde, resistem o quanto podem.
Em face disso tudo, amigo leitor, podemos afirmar, sem sombra de dúvida, que reencarnar é complicado.
...
Já desencarnar é o alijar da armadura, a retomada das percepções, o reencontro com os afetos caros.
É o retorno à amplidão, uma celebração da Vida em plenitude, sem as limitações humanas.
Se desencarnarmos levando um mínimo de vitórias, na luta contra nossas imperfeições, se algo fizemos em favor do bem comum, combatendo o egoísmo; se aprendemos a conjugar os verbos amar, perdoar, compreender, na vivência do Evangelho, então seremos muito bem amparados, e nos situaremos felizes como o viajor que finalmente retorna ao lar.
Estavam certas as antigas culturas orientais.
Quem sabe, um dia, quando essa realidade for melhor assimilada pela Humanidade, haveremos de mudar as comemorações do dois de novembro.
Não mais o dia dos mortos.
Mais apropriadamente, o dia dos vivos.
Fonte: Revista Reformador, de novembro de 2003
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JÓIAS DEVOLVIDAS


Existe uma palavra-chave para enfrentarmos com serenidade e equilíbrio a morte de um ente querido: Submissão.
Ela exprime a disposição de aceitar o inevitável, considerando que, acima dos desejos humanos, prevalece a vontade serena de Deus, que nos oferece a experiência da morte em favor do aprimoramento de nossa vida ...
A esse propósito, oportuno recordar antiga história oriental sobre um rabi, pregador religioso judeu que vivia muito feliz com sua virtuosa esposa e dois filhos admiráveis, rapazes inteligentes e ativos, amorosos e disciplinados.
Por força de suas atividades, certa vez o rabi ausentou-se por vários dias, em longa viagem. Nesse ínterim, um grave acidente provocou a morte dos dois moços.
Podemos imaginar a dor daquela mãe! ... Não obstante, era uma mulher forte. Apoiada na fé e na inabalável confiança em Deus, suportou valorosamente o impacto. Sua preocupação maior era o marido. Como transmitir a terrível notícia?!. .. Temia que uma comoção forte tivesse funestas conseqüências, porquanto ele era portador de perigosa insuficiência cardíaca. Orou muito, implorando a Deus uma inspiração. O Senhor não a deixou sem resposta ...
Passados alguns dias, o rabi retornou ao lar. Chegou à tarde, cansado, após longa viagem, mas muito feliz. Abraçou carinhosamente a esposa e foi logo perguntando pelos filhos ...
Não se preocupe, meu querido. Eles virão depois. Vá banhar-se, enquanto preparo o lanche.
Pouco depois, sentados à mesa, permutavam comentários do cotidiano, naquele doce enlevo de cônjuges amorosos, após breve separação ...
- E os meninos? estão demorando! ...
- Deixe os filhos ... Quero que você me ajude a resolve um grave problema ...
- O que aconteceu? Notei que você está abatida! ... Fale! Resolveremos juntos, com a ajuda de Deus! ...
- Quando você viajou, um amigo nosso procurou-me e confiou à minha guarda duas jóias de incalculável valor. São extraordinariamente preciosas! Nunca vi nada igual! O problema é esse: ele vem buscá-las e não estou com disposição para efetuar a devolução.
- Que é isso mulher! Estou estranhando seu comportamento! Você nunca cultivou vaidades! ...
- É que jamais vira jóias assim. São divinas, maravilhosas!
- Mas não lhe pertencem ...
- Não consigo aceitar a perspectiva de perdê-las ...
- Ninguém perde o que não possui. Retê-las equivaleria a roubo!
-Ajude-me! ...
- Claro que o farei. Iremos juntos devolvê-las, hoje mesmo!
- Pois bem, meu querido, seja feita sua vontade. O tesouro será devolvido. Na verdade isso já foi feito. As jóias eram nossos filhos. Deus, que no-los concedeu por empréstimo, à nossa guarda, veio buscá-los!
O rabi compreendeu a mensagem e, embora experimentando a angústia que aquela separação lhe impunha, superou reações mais fortes, passíveis de prejudicá-lo.
Marido e mulher abraçaram-se emocionados, misturando lágrimas que se derramavam por suas faces mansamente, sem burburinhos de revolta ou desespero e pronunciaram, em uníssono, as santas palavras de Jó:
Deus deu, Deus tirou; bendito seja o seu nome ...
Richard Simonetti
BIBLIOGRAFIA 
KARDEC, A. O Céu e o Inferno, Cap. II; O Livro dos Espíritos, questões 68 a 70 e 2ª Parte, Cap. III; A Gênese, Cap. XI, FEB. 
DENIS, L. O Além e a Sobrevivência do Ser. FEB. 
DELANNE, G. A Alma É Imortal. FEB. 
PIRES,  H. "Educação para a Morte". Correio Fraterno do ABC. 
BOZZANO, E. Na Crise da Morte, "Fenômenos Psíquicos no Momento da Morte". FEB. 
FLAMMARION, C. A Morte e Seu Mistério, vols. I, II e III. FEB. 
SIMONETTI, R. Quem Tem Medo da Morte? CEAC. 
OLIVEIRA, T. Iniciação ao Espiritismo. Allan Kardec. 
XAVIER, F. C.; EMMANUEL (Esp.). Religião dos Espíritos. FEB. 
NERVO, A. Mensagens de Saúde Espiritual. EME.
Fonte: livreto Ante os que partiram, de Therezinha Oliveira
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NÃO MORRERAM, PARTIRAM ANTES


Choras teus mortos com tamanho desconsolo que, dir-se-ia, és imortal.
Not dead, but gone before, diz sabiamente o prolóquio inglês:
Não morreram, partiram antes.
Tua impaciência se move como loba faminta, ansiosa de devorar enigmas.
Pois não morrerás logo depois, e forçosamente não virás a saber a solução de todos os problemas que são de uma diáfana e deslumbrante sutilidade?
Partiram antes ... por que interrogá-los com nervosa insistência?
Deixa que eles sacudam o pó do caminho, que descansem no regaço do Pai e ali curem as feridas de seus pés andarilhos; deixa que ponham seus olhos nos verdes prados da paz ...
O trem espera. Por que não preparar o bornal de viagem? Esta seria mais prática e eficaz tarefa.
Ver teus mortos é de tal modo premente e inevitável que não deves alterar com a menor ansiedade as poucas horas de teu repouso.
Eles, com um conceito total do tempo, cujas barreiras transpuseram de um salto, também te aguardam tranqüilamente. Foi que simplesmente tomaram um dos trens anteriores.
Amado Nervo
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ANTE OS QUE PARTIRAM


Morrer é mudar continuando em essência o mesmo

O que a morte parece ser
Costuma-se simbolizar a morte por um esqueleto chacoalhante (o que restaria do corpo), armado de foice (com que cortaria o fio da vida), portando uma ampulheta (para contar o tempo de vida das criaturas) e vestindo um manto preto (no qual esconderia para sempre de nós, a pessoa que morreu).
Será a morte feia e terrível assim?
Para os materialistas, que somente acreditam na matéria, a morte é o fim da vida nos seres, a completa e irresistível desorganização dos corpos, o fim de tudo.
Mesmo entre os espiritualistas, grande parte encara a morte com temor. Crêem em algo além do corpo, mas apenas de modo teórico. Como não se utilizam do intercâmbio mediúnico, faltam-lhes a experiência pessoal, as provas quanto à sobrevivência do Espírito. Em conseqüência, a morte lhes parece porta de entrada para o desconhecido. E nada mais assustador do que aquilo que não se conhece.

O que a morte realmente é
A morte é apenas o processo pelo qual o Espírito se desliga do corpo que perdeu a vitalidade e não lhe pode mais servir para a sua manifestação no mundo terreno.
O Espírito não morre quando o corpo morre. Não depende dele para existir. Antes de encamar neste mundo, o Espírito já existia e vai continuar existindo depois que o corpo morrer.
Desligado do corpo que morreu, o Espírito continuará a viver, em condições diferentes de manifestação, em outro plano de atividades: o mundo espiritual, sua pátria de origem.
Para entendermos bem isso, recordemos como é que encarnamos e desencarnamos.

Como encarnamos
A ligação do espírito com a matéria se dá por meio do perispírito (corpo espiritual) e se faz desde a concepção. Ligado ao ovo, o perispírito vai servir de molde para a formação do corpo material, sendo utilizados nessa formação os elementos hereditários fornecidos por pai e mãe. As células se multiplicam em obediência às leis da matéria e em conformidade com a influência que o perispírito do reencarnante exerce.
Quando o corpo apresenta condições de vida independente do organismo materno, se dá o nascimento físico.

A desencarnação
A carga vital, que havíamos haurido ao encarnar, um dia se esgotará, acarretando a morte física. Esse esgotamento ocorre por velhice, por excessos e desregramentos ou porque uma doença ou acidente danifiquem o corpo material de modo irrecuperável.
Morto o corpo, vem o desprendimento perispiritual, que começa a fazer sentir seus efeitos pelas extremidades do organismo. Desatam-se os laços fluídicos nos centros de força, sendo o centro cerebral o último a se desligar.
Às vezes, médiuns vêem o desprendimento dos fluidos perispirituais, que vão formando um outro corpo - o fluídico - acima dos agonizantes.

Por que temos de morrer? Não poderíamos ficar vivendo para sempre na Terra?
O objetivo do Espírito não é permanecer no plano terreno. Seu ambiente natural e definitivo é o plano espiritual.
O Espírito encarna em mundos corpóreos para cumprir desígnios divinos. Deus quer que o Espírito cumpra uma função na vida universal e, ao mesmo tempo, vá se desenvolvendo intelectual e moralmente.
Cada encarnação só deve durar o tempo suficiente para que o Espírito cumpra a tarefa que lhe foi designada e enfrente as provas e expiações que mais sejam necessárias à sua evolução, no momento.
Depois de cada encarnação, o Espírito se desliga da vida terrena e retoma o seu estado natural, que é o de Espírito liberto.
No intervalo entre duas encarnações, o Espírito vive de modo muito mais amplo do que quando encarnado, porque o corpo lhe limitava um tanto as percepções e atividades espirituais.
Então, avalia os resultados da encarnação que findou e prossegue se aperfeiçoando espiritualmente na vida do Além.
Encarnará novamente, quando isso se fizer necessário e oportuno para a continuidade de seu progresso intelectual e moral e para o cumprimento da função que Deus lhe designar na vida universal.

Desencarnar é um processo doloroso?
Não mais do que as dores e dificuldades que muitas vezes experimentamos aqui na Terra. Depende muito de como a pessoa encara os acontecimentos e das condições que ela tenha para os solucionar ou suportar.
É comum o recém-desencarnado sentir, de início, uma certa perturbação.

Por que a perturbação? Não estamos voltando ao nosso verdadeiro mundo?
Tudo deveria ser muito natural
Deveria e assim acontece com os Espíritos mais evoluídos. Mas, geralmente, prendemo-nos demais às sensações físicas durante a vida do corpo, canalizamos muito as sensações em nossos órgãos dos sentidos. Desencarnados, ainda queremos continuar a ver com os olhos, ouvir com os ouvidos, sentidos corpóreos que já não temos. Por isso, de início não percebemos bem o novo plano em que passamos a viver. Temos de habituar-nos às percepções perispirituais em vez das percepções dos sentidos materiais.
É uma readaptação ao plano do espírito. Quando nascemos na Terra, levamos algum tempo adaptando-nos ao novo corpo. Ao desencarnar, também precisamos de uma fase de readaptação ao plano espiritual.

Demora muito essa readaptação ao mundo espiritual?
A duração vai depender da evolução do Espírito. Para alguns, breves instantes bastam. Para outros, demora até o equivalente a muitos dos nossos anos terrenos.
Quem não se preparou para a vida espiritual, sentirá maior dificuldade em se readaptar ao novo plano de vida, razão por que há Espíritos que se comunicam dizendo estarem perturbados, desorientados.
Quem se preparou bem, passa rapidamente pela fase e logo se sente readaptado ao plano espiritual.
O preparo para a vida espiritual vem do cultivo de nossas faculdades de espírito e da busca do equilíbrio com as leis da vida. Para isso, nada melhor do que manter a conduta moral cristã.

O que influi no processo de desencarnação
O processo todo da desencarnação e reintegração à vida espírita dependerá:
1. Das circunstâncias da morte do corpo
Nas mortes por velhice, a carga vital foi se esgotando pouco a pouco e, por isso, o desligamento tende a ser natural e fácil e o Espírito poderá superar logo a fase de perturbação.
Nas mortes por doença prolongada, o processo de desligamento também é feito pouco a pouco, com o esgotamento paulatino da vitalidade orgânica, e o Espírito vai-se preparando psicologicamente para a desencarnação e ambientando-se com o mundo espiritual que, às vezes, até começa a entrever, porque suas percepções estão transcendendo ao corpo.
Nas mortes violentas (acidentes, desastres, assassinatos, suicídio etc.), o rompimento dos laços que ligam o Espírito ao corpo é brusco e o Espírito pode sofrer com isso, e a perturbação tende a ser maior. Em casos excepcionais (como o de alguns suicidas), o Espírito poderá sentir-se temporariamente preso ao corpo que se decompõe, o que lhe causará dolorosas impressões.
2. Do grau de evolução do Espírito desencarnante
De modo geral, quanto mais espiritualizado o desencarnante, mais facilmente consegue desvencilhar-se do corpo físico já sem vida. Quanto mais material e sensual tiver sido sua existência, mais difícil e demorado é o desprendimento.
A perturbação natural por se sentir desencarnado é menos demorada e menos dolorosa para o Espírito evoluído. Quase que imediatamente ele reconhece sua situação, porque, de certa forma, já se vinha libertando da matéria antes mesmo de cessar a vida orgânica (vivia mais pelo e para o espírito). Logo retoma a consciência de si mesmo, percebe o ambiente em que se encontra e vê os Espíritos ao seu redor. Para o Espírito pouco evoluído, apegado à matéria, sem cultivo das suas faculdades espirituais, a perturbação é difícil, demorada, sendo acompanhada de ansiedade, angústia, e podendo durar dias, meses e até anos.

A ajuda espiritual
A bondade divina, que sempre prevê e provê o de que precisamos, também não nos falta na desencarnação.
Por toda parte, há bons Espíritos que, cumprindo os desígnios divinos, se dedicam à tarefa de auxiliar na desencarnação os que retornam à vida espírita.
Alguns amigos e familiares (desencarnados antes) costumam vir receber e ajudar o desencarnante na sua passagem para o outro lado da vida, o que lhe dá muita confiança, calma e, também, alegria pelo reencontro.
Todos receberão essa ajuda, normalmente, se não apresentarem problemas pessoais e comprometimento com Espíritos inferiores. Em caso contrário, o desencarnante às vezes não percebe nem assimila a ajuda, ou é privado dessa assistência, ficando à mercê de Espíritos inimigos e inferiores, até que os limites da lei divina imponham um basta à ação destes e o Espírito rogue e possa receber e perceber a ajuda espiritual.

Depois da morte
Após desligar-se do corpo material, o Espírito conserva sua individualidade, continua sendo ele mesmo, com seus defeitos e virtudes.
Sua situação, feliz ou não, na vida espírita será conseqüência da sua existência terrena e de suas obras. Os bons sentem-se felizes e no convívio de amigos; os maus sofrem a conseqüência de seus atos; os medianos experimentam as situações de seu pouco preparo espiritual.
Através do perispírito, conserva a aparência da última encarnação,já que assim se mentaliza. Mais tarde, se o puder e desejar, a modificará.
Depois da fase de transição, poderá estudar e trabalhar na vida do Além e preparar-se para nova existência terrena, a fim de continuar evoluindo.

O conhecimento espírita garante uma boa situação no Além, ao desencarnarmos?
O conhecimento espírita nos ajuda muito a entender a questão da desencarnação e pode fazer com que o Espírito, ao desencarnar, compreenda rapidamente o que lhe está acontecendo e saiba o que deve fazer para se readaptar melhor ao plano espiritual.
Mas não nos assegura uma boa situação no Além, se a ela não fizermos jus por nossos pensamentos, sentimentos e atos.
Somente a prática do bem assegura ao Espírito um despertar pacífico e sereno na pátria  espiritual.

Os que ficam na Terra não podem ajudar?
Podem, sim. As atitudes e ações de quem fica, em relação ao desencarnado, influem muito sobre ele.
Revolta, desespero, angústia pela partida do desencarnado podem repercutir nele de modo triste, desfavorável, deprimente, desanimador.
É por não entendermos a morte, o seu porquê e os seus efeitos, que agimos assim? Convém, então, estudarmos as informações espirituais quanto à desencarnação, para sabermos como nos comportar ante esse fato inevitável.
Sentir saudade é natural e, por vezes, não há como evitar o pranto. Mas que não resvalemos para o choro excessivo, exigente e inconformado. Ante os que nos antecederam na grande viagem, podemos e devemos:
- orar por eles, com resignação e esperança no futuro espiritual;
- não guardar demais objetos e coisas da pessoa que desencarnou, nem os ficar contemplando e acariciando indefinidamente;
- ocupar-se de seus deveres e da prática de ações boas, do auxílio ao próximo, em vez de ficar remoendo improdutivamente sua dor e saudade;
- procurar fazer o bem que a pessoa desejaria ou deveria ter feito quando estava aqui na Terra.

Podemos ter notícias de quem desencarnou?
Podemos rogar a Deus que nos conceda essa bênção, essa misericórdia.
Se vierem notícias por via mediúnica, analisemos as mensagens e informações recebidas.
Condizem com a realidade espiritual e a boa orientação cristã? Em caso afirmativo, agradeçamos a Deus o consolo recebido. Não correspondem à identidade do nosso querido desencarnado? Com tranqüilidade, sem revolta nem desanimar na fé, ignoremos a mensagem recebida.
Do ponto de vista espiritual, nem sempre é considerado útil e oportuno que tenhamos notícias sobre os desencarnados. Neste caso, é preciso saber aceitar a ausência de notícias, continuando a confiar na sabedoria e no amor de Deus por todos nós, seus filhos.
Por vezes, as notícias vêm por meio de sonhos especiais, porque, ao dormir, desdobramo-nos espiritualmente e, então, podemos nos encontrar com outros Espíritos no plano invisível.

A criança após a morte
Que significado ou valor espiritual pode ter a vida de alguém que desencarnou ainda bebê?
Essa curta vida teve também sua finalidade e proveito, do ponto de vista espiritual. Pode ter sido, por exemplo:
- uma complementação de encarnação anterior não aproveitada integralmente;
- uma tentativa de encarnação que encontrou obstáculos no organismo materno, nas condições ambientes ou no desajuste perispiritual do próprio reencarnante; serviu, então, para alertar quanto às dificuldades e ensejar melhor preparo em nova tentativa de encarnação;
- uma prova para os pais (a fim de darem maior valor à função geradora, testemunharem humildade e resignação), ou para o reencarnante (a fim de valorizar a reencarnação como bênção).

Qual é, no Além, a situação espiritual de quem desencarnou criança?
É a mesma que merecia com a existência anterior ou que já tinha na vida espiritual, porque na curta vida como criança, nada pôde fazer de bom ou de mau que alterasse a evolução, que representasse um desenvolvimento, um progresso.
Mas pode estar melhor na sua conscientização e no seu equilíbrio espiritual e, também, ter reajustado, no processo de ligamento e desligamento com o corpo, algum problema espiritual de que fosse portador.

Como é visto o espírito de quem desencarnam criança?
Uns se apresentam "crescidos" perispiritualmente e até já em forma adulta, pois, como Espíritos, não têm a idade do corpo.
Se desejam se fazer reconhecidos pelas pessoas com quem conviveram, podem se apresentar com a forma infantil que tiveram.
Se vão ter de reencarnar em breve, poderão conservar a forma infantil do seu perispírito, que facilitará o processo de nova ligação à matéria.
E assim como há, para o espírito de adultos, moradas no mundo fluídico, também há ali, para os Espíritos que ainda conservam a forma infantil, as chamadas "colônias", em que são carinhosamente acolhidos e auxiliados por "tios" e "tias" benfeitores e onde permanecerão, enquanto necessitarem.

Cremação de cadáveres e transplante de órgãos
O corpo é uma veste e um instrumento muito valioso e útil para o Espírito, enquanto está encarnado. Depois de morto, nenhuma utilidade tem mais para o Espírito que o animou. Poderá vir a ser cremado ou lhe serem retirados órgãos para transplantar em quem os necessite, sem que nada disso traga nenhum prejuízo real para o Espírito desencarnado.
Pensam alguns que se o corpo for queimado ou lesado haverá prejuízo para a sua ressurreição no mundo espiritual. Entretanto, não é o corpo material que continua a viver além-túmulo nem é ele que irá ressurgir, reaparecer, mas sim o Espírito com o seu corpo fluídico (perispírito), que nada tem que ver com o corpo que ficou na Terra. ?
No caso de cremação, é recomendável um intervalo razoável após a morte (Emmanuel diz 72 horas), a fim de se ter maior segurança de que o desligamento perispiritual já se completou.
No caso de doação de órgãos, basta que as pessoas se acostumem com a idéia de a fazerem de boa vontade e estejam bem esclarecidas a respeito. Encarnados doam órgãos por amor, para ajudar alguém, e não receiam nenhum sofrimento ou inconveniente que isso lhes traga. Por que não doar órgãos depois de estar morto o nosso corpo, quando eles já nem nos servem mais, nem sofreremos quando forem retirados do corpo que houvermos abandonado?

Comemorações fúnebres
Variados são os costumes, idéias e atitudes que a sociedade e a religião adotam, ante os corpos mortos e os Espíritos que os deixaram.
O espírita respeita tais procedimentos mas nem a todos aceita; e, nos que aceita, age sempre em função da realidade espiritual e não das aparências.
Assim, o espírita:
Nos velórios - não se desespera; mantém-se em atitude respeitosa, pois sabe que o Espírito desencarnante está em delicada fase de desprendimento do corpo e de transformação de sua existência. Não usa velas, coroas, flores, pois o Espírito não precisa dessas exterioridades; mas procura oferecer o que o desencarnante realmente precisa, que é o respeito à sua memória, orações, pensamentos carinhosos em favor de sua paz e amparo no mundo espiritual. É fraterno com os familiares e amigos do desencarnante, ajudando-os no que puder.
Nos sepultamentos - não adota luxo nem ostentação nem se preocupa em erigir túmulos; mas lembra sempre com afeto os entes queridos já desencarnados e procura honrá-los com atos bons e carinhosos em sua homenagem.
Nas orações - ora sempre pelo bem-estar e progresso espiritual dos desencarnados, mas sabe que não é indispensável ir aos cemitérios para isso, porque as vibrações alcançam o Espírito, onde quer que ele esteja.

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O CULTO A FINADOS


Ora o último inimigo que há de ser aniquilado é a morte.” 
Paulo (I Cor., 15:26)
Inaldo Lacerda Lima
O culto aos mortos, precisamente àqueles que se encontravam no purgatório, à espera do dia do julgamento final, foi estabelecido inicialmente por Odilon, Abade de Cluny, da Ordem dos Beneditinos, no final do século X e, em seguida decretado pela Igreja de Roma com o nome de Finados, a ser comemorado no dia 2 de novembro de cada ano, logo após o dia de Todos os Santos.
É, portanto, um convencionalismo que, em princípio, não foi determinado que ocorresse nos cemitérios. Só com o tempo é que a prática adquiriu sofisticação e se fez acompanhar com velas e lágrimas, no local das catacumbas e dos mausoléus.
Também não possui o culto dos mortos nenhum amparo escriturístico, embora ele se tenha verificado de maneiras diversificadas no seio de todos os povos das eras mais remotas.
Um dos exemplos curiosos de manifestação do homem diante da morte é mencionado por Heródoto, o pai da História, conforme referência de Almerindo Martins de Castro, em REFORMADOR de novembro de 1950, no artigo intitulado “O Dois de Novembro”. Informa Heródoto que na antiga Trácia o falecimento de um ente querido era saudado jubilosamente, em face da significação da morte como uma libertação venturosa; enquanto isso, o nascimento de uma criança era recebido com lágrimas de tristeza, tendo em vista as possíveis provações a que deveria estar destinado o recém-nascido.
O Espiritismo, que é o Consolador prometido por Jesus (Evangelho de João, Capítulos XIV, XV e XVI), não sugere o chamado culto a Finados, mas elucida que a morte não existe, porquanto o túmulo constitui apenas uma forma de dar-se sepultamento ao corpo de carne depois que o Espírito o abandona.
Assim, verdadeiramente inspirado esteve o apóstolo Paulo quando, dirigindo-se aos companheiros de Corinto, esclarecia-lhes que o último inimigo a ser vencido seria a morte. Isto é, quando os homens estivessem em condição de compreender o verdadeiro sentido da vida, deixariam de ver na morte uma inimiga, uma vez que não existe morte. O que se habituou o homem a chamar morte nada mais é do que o afastamento do Espírito do corpo carnal.
Temos a convicção de que virá o dia (e não está longe!) em que o dois de novembro será comemorado nos templos religiosos e com elucidações evangélicas. Pois a função dos cemitérios é muito mais digna e muito mais consentânea com sociedades mais esclarecidas e religiosamente bem formadas.
Há duas razões para assim pensarmos. Em primeiro lugar, já o dissemos, não há morte, há vida. E esta não é do corpo, mas do Espírito. E, em segundo lugar, não é nos cemitérios que os Espíritos devem ser procurados para recebimento das preces que, em seu favor, devem ser proferidas. Os cemitérios são os laboratórios de transformação das vestes carnais das almas que as abandonaram.
Os cemitérios devem ser visitados, sim, como um ambiente de respeito se ali vamos em acompanhamento ao corpo de alguém que deve ser sepultado ou se os procuramos com o objetivo sincero de meditação sobre a grandeza e sabedoria de nosso Criador e Pai.
Aproveitemos a oportunidade para elucidar aos que nos lerem, mormente se esta Revista vier a cair em mãos não-espíritas, que a chamada morte só atinge aquele que se deixou perder nos caminhos do materialismo comportamental dos vícios e das paixões e que, assim, esqueceu de Deus, o Pai que nos criou a todos não para a morte, mas para a vida eterna. Há efetivamente os indiferentes ao verdadeiro sentido da vida, que nunca têm tempo para pensar no bem, realizar uma ação nobre de amor e caridade e edificar-se espiritualmente. Esses se colocam na posição de mortos-vivos, porque espiritualmente nulos.
Respeitar o sentimento e a fé dos que se fazem reter nos cemitérios em pranto e oração pelos seus “mortos” é um dever a que temos de submeter-nos por compreensão, mas em hipótese alguma devemos deixar perder-se a oportunidade (quando realmente oportuna) de esclarecer, elucidar e consolar aqueles que sofrem convencidos de que seus entes mais queridos realmente morreram, afirmando-lhes carinhosa e fraternalmente que a morte do corpo não é a morte do Espírito, e que, ao contrário, inanimado o corpo, o Espírito, agora, está mais vivo do que nunca.
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