terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Como ocorre o processo de desencarnação, com o desligamento dos laços que unem a alma ao corpo físico

Na hora da morte




Como ocorre o processo de desencarnação, com o desligamento dos laços que unem a alma ao corpo físico

Segundo a conceituação de Allan Kardec, a alma é um espírito encarnado em um corpo. Após a morte deste, ela volta a ser apenas espíritos, ou seja, retorna ao mundo espiritual, que está em constante relação com o mundo físico.
A alma não perde sua individualidade após o desencarne. Continuamos nossa existência, geralmente, com a aparência que tínhamos quando estávamos encarnados. Isso porque temos o nosso perispírito (também conhecido, em outras correntes espiritualistas, como corpo astral, psicossoma, etc.). Ele é o envoltório do espírito, um corpo sutil intermediário entre a alma e o corpo físico.
A antiga crença de que levávamos nossos bens materiais conosco para o mundo dos mortos é falsa - como a maioria da humanidade já percebeu há séculos! De acordo com O Livro dos Espíritos, na questão 150, a alma apenas leva deste mundo "Nada mais do que a lembrança e o desejo de ir para um mundo melhor. Essa lembrança é cheia de doçura ou de amargura, segundo o emprego que fez da vida. Quantos mais pura, mais compreende a futilidade do que deixa sobre a Terra."
Afirma um ditado popular que "ninguém voltou (da morte) para contar". Será? As comunicações mediúnicas - no caso dos médiuns ostensivos - são provas suficientes que demonstram que esse ditado é mais uma crença popular que está errada. Além disso, cientistas e pesquisadores respeitados realizaram, no século XIX, importantes experimentos com as manifestações de efeitos físicos, provando a realidade dos fenômenos. Hoje, temos, além dos médiuns, a Transcomunicação Instrumental. Portanto, a maioria absoluta das pessoas que negam as manifestações dos espíritos nunca se aprofundou na questão. Nega simplesmente porque não acredita!
O espírito se liga ao corpo material, induzindo o desenvolvimento embrionário, por meio do seu envoltório perispiritual. A morte apenas destrói o corpo carnal e não o perispírito. Resumindo: a vida do espírito é eterna, ao contrário do corpo físico, que é transitório e se decompõe com a morte.
Mas, como ocorre, exatamente, o processo da morte? O que acontece nos primeiros instantes? A separação da alma e do corpo é dolorosa?
Cada caso é um caso, de acordo com o grau de equilíbrio, lucidez, conhecimento, apego material, etc., de cada espírito; além disso, também varia de acordo com o tipo de morte. Mas, existe, sim, um processo comum que ocorre durante o desencarne. Esse processo é o rompimento dos laços energéticos que mantinham a alma ligada ao corpo.
A morte pode ocorrer de forma natural, por esgotamento dos órgãos com o avanço da idade, ou de forma brusca, como em um acidente de trânsito ou assassinato. Em ambos os casos, o desligamento energético do corpo é gradativo. "(...) a alma se liberta gradualmente e não escapa como um pássaro cativo que ganha subitamente a liberdade. (...) o Espírito se liberta pouco a pouco de seus laços: os laços se desatam, não se quebram."- O Livro dos Espíritos, questão 155.
Em nota para a questão acima, Kardec explica: "A observação prova que no instante da morte o desligamento do perispírito não se completa subitamente; ele não se opera senão gradualmente e com uma lentidão que varia muito segundo os indivíduos. Para alguns ele é muito rápido, e pode-se dizer que o momento da morte é aquele do desligamento, algumas horas após.
Para outros, aqueles sobretudo, cuja a vida foi toda material e sensual, o desligamento é muito menos rápido e dura, algumas vezes, dias, semanas e mesmo meses, o que não implica existir no corpo a menor vitalidade(...)". Isso ocorre devido à afinidade entre o espírito e o corpo carnal.
Quanto mais nos apegamos e nos identificamos com a matéria, maior será nosso sofrimento ao nos separarmos dela. Pior ainda: em alguns casos, a afinidade entre o espírito e seu corpo carnal é tanta que  ele pode experimentar toda a sensação da decomposição!
Para que haja simples vitalidade, o corpo não precisa de uma alma. Mas, para que seja dotado de inteligência, sentimentos, emoções, enfim, para que possa interagir em nosso mundo é imprescindível a alma. O cérebro, com a vida biológica, é apenas o instrumento, que pode estar funcionando ou não. A inteligência é atributo do espírito, que já existia e continuará existindo após a morte física.
Em casos excepcionais de mortes precedidas por momentos de grande agonia, pode acontecer de a alma deixar o corpo e nele não restar mais do que a vida orgânica. Conforme algumas narrativas de romances mediúnicos, certos mártires que morriam devorados pelos leões, nos circos romanos, durante as perseguições aos primeiros cristãos, eram retirados do corpo por espíritos benfeitores segundos antes das feras o destroçar. A expectativa da morte também pode fazer com que a pessoa perca a consciência antes do suplício.
Frequentemente, a alma sente se desatarem os laços que a ligam ao corpo. Antes mesmo do desligamento, muitas pessoas entram numa fase de transição.
Por exemplo: quantos doentes terminais que, ainda no leito hospitalar, relatam a aparição de parentes que já morreram... Dizem que estes vieram buscá-las, e que não sentem mais temor da morte. Isso acontece porque os laços energético que a ligam ao corpo já começam a se desatar.
Conforme a afeição  entre a pessoa que desencarna e seus parentes desencarnados, "(...) eles o vêm receber em sua volta ao mundo dos Espíritos, e ajudam  a libertá-la das faixas da matéria; reencontra, também, a muitos que havia perdido de vista em sua permanência sobre a Terra. Vê aqueles que estão na erraticidade, aqueles que estão encarnados, e os vai visitar" - OLE, q. 160.
Mas nem todos têm o privilégio do encontro direto com seus parentes falecidos. Há casos em que devido à perturbação espiritual, seja da pessoa que passa pelo desencarnedesencarnado, não há possibilidade do encontro. Além disso, talvez quem você espera reencontrar na hora da morte já esteja reencarnado!
Então, é preciso ficar claro que, geralmente, o instante da morte ocorre de forma simutânea ao da separação da alma. O que ocorre de forma gradativa é o desatamento dos laços energéticos que ligam a alma ao corpo, tanto nos casos de morte abrupta, quando ela não resulta da extinção gradual das forças vitais, assim como nos de espíritos muito apegados à matéria.

Perturbação espírita
A morte não transforma ninguém em um ser "iluminado", em "santo". Ao contrário, ela nos coloca frente a frente com nossa verdade interior, sem máscaras e hipocrisia. Aquilo que realmente somos se revela. Ah! Quantos religiosos se desiludem nesta hora...
A maioria das pessoas, após a morte, passa por um estado de perturbação durante algum tempo. Devido a essa perturbação pós-morte, muitas não conseguem entender o que está acontecendo; outras, não entendem por ignorância ou por simplesmente não aceitarem. A compreensão da realidade do mundo espiritual exerce influência sobre a duração da nossa perturbação após a morte, porém, os espíritos afirmam a Kardec que a prática do bem e a pureza da consciência são os que exercem maior influência.
Vejamos o que o codificador espírita explica:
"No momento da morte tudo, à princípio, é confuso. A alma necessita de algum tempo para se reconhecer. Ela se acha como aturdida e no estado de um homem que despertando de um sono profundo procura orientar-se sobre sua situação. A lucidez das ideias e a memória do passado lhe voltam, à medida que se apaga a influência da matéria da qual se libertou e se dissipe a espécie de neblina que obscurece seus pensamentos."
Esta perturbação pode durar desde horas, dias... até muitos anos. Existem espíritos que julgam ainda viver como encarnados e não aceitam que "morreram". Outros, observam o corpo físico ao lado, mas não entendem como podem estar separado dele. Tentam se comunicar com as pessoas, sem obter resposta, o que aumenta cada vez mais seu estado de perturbação. Kardec explica que isso ocorre até o momento da inteira libertação do perispírito. Mas essa dificuldade toda também surge devido às ideias arraigadas que muitos têm sobre a vida após a morte.
Muitos espíritos, que acreditavam que a morte era sinônimo de extinção da vida, não entendem como podem estar " mortos" se ainda falam, ouvem, vêem...
Nunca ouviram falar de perispírito, e acham que o corpo que possuem ainda é o corpo carnal, que muitas vezes nem existe mais, já se decompôs.
É comum, também, os espíritos assistirem ao próprio funeral. Muitos imaginam que se trata do enterro de outra pessoa, e não do seu próprio corpo. É uma confusão!

Mortes coletivas
A destruição é necessária no mundo em que vivemos - destruir o velho para construir o novo.
A mudança pode impulsionar o espírito na jornada evolutiva.
Neste sentido, entendemos que a destruição é necessária para a regeneração moral do indivíduo.
O Livro dos Espíritos explica que nos flagelos coletivos um povo pode alcançar mais depressa " uma ordem melhor de coisas".
Mas o que acontece com os espíritos que desencarnam nessa situação? Depende. Cada caso é um caso. A regra geral do desenlace energético continua valendo em casos de morte coletiva e cada espírito reage de acordo com seus interesses. A maioria não entende o que ocorreu e nem sempre é possível o reencontro imediato com os entes queridos que os antecederam no desencarne.

No mundo espiritual
Algumas vezes, podemos reencarnar quase que imediatamente após o desencarne. Mas o comum é que passemos um período, que pode variar bastante - anos, séculos, milênios -, no mundo espiritual. Nos mundos superiores, onde o corpo é cada vez mais sutil, o reencarne é quase sempre imediato. Mas enquanto ainda houver a necessidade para determinado espírito, ele irá reencarnar, seja em corpos materialmente densos - como no nosso caso - seja em planos superiores, em um corpo bastante sutil. Somente os espíritos que atingiram um alto grau de pureza não precisam mais reencarnar.
O estado de " espírito errante", ou seja, na erraticidade, é para alguns uma fuga da realidade terrena, que cedo ou tarde terão de enfrentar; para certos espíritos é uma punição, enquanto que para outros é uma oportunidade de estudo e aprendizado. Na erraticidade o espírito pode aproveitar para se melhorar muito, tanto no aspecto intelectual quanto moral, mas isso não o livra de uma nova encarnação caso ainda seja necessário a ele.
A morte não acaba com nossos vícios e paixões. Enquanto alguns lutam, no Além, para se libertarem da influência material, muitos preferem permanecer vinculados ao nosso plano, desequilibrados, compartilhando dos nossos hábitos infelizes. Aí entra a lei da afinidade, que abre a porta tanto para os simples assédios espirituais quanto para os processos de obsessão mais complexos. Não deixe de ler nossa matéria de capa da edição 90 para entender isso melhor.
Por que ao desencarnarmos, não abandonamos, também, nossas " más paixões" ? Os espíritos respodem: " Tens nesse mundo pessoas que são excessivamente invejosas; acreditas que, mal o deixem, perdem os seus defeitos? Depois de sua partida da Terra, sobretudo para aqueles que têm paixões bem acentuadas, resta uma espécie de atmosfera que os envolve e conserva todas a suas coisas más, porque o Espírito não está inteiramente desprendido; só por momentos vê a verdade, como para lhe mostrar o bom caminho. " - OLE, q. 229.
Um espírito desencarnado não possui mais o corpo físico, porém, manifesta-se através do perispírito, que é seu corpo mais sutil.

Dores e doenças
A lembrança de uma doença que o espírito tinha quando estava encarnado é um dos fatores responsáveis pela impressão de dor que muitos espíritos sentem mesmo após a morte do corpo. Por isso é comum encontrarmos espíritos apresentando as mesmas doenças que tinham quando estavam encarnados, pois o perispíritos, por seu muito sutil, é facilmente influenciado pela mente. Outro fator que colabora para a manifestação de doenças no perispírito é a ligação energética com o corpo físico, que ainda não se desfez completamente.
Essa ligação também é responsável por dar a sensação, em certos espíritos, de que estão sendo roídos pelos vermes. Na verdade, se o corpo está se decompondo e o espírito possui fortes laços energéticos com ele, provavelmente passará a ter várias sensações desagradáveis. Veja mais sobre isso no texto Ensaio teórico sobre a sensação nos espíritos, questão 157 de O Livro dos Espíritos.
O corpo físico e o perispírito se influenciam mutuamente. Da mesma forma que o corpo energético transmite tudo o que vem do espírito para o corpo físico, este também acaba causando impressões no perispírito, pois ambos estão intimamente ligados, o que explica a existência de espíritos com doenças e deformidades.
Para encerrar este pequeno artigo, que visa explicar de forma resumida o que ocorre no processo de desencarnação, reproduzo as palavras de Allan Kardec no final do capítulo 3, livro II, que ressaltam a importância do trabalho de autoconhecimento e da reforma íntima, ainda enquanto estamos reencarnados: " A perturbação que se segue à morte nada tem penosa para o homem de bem; é calma e em tudo semelhante à que acompanha um despertar tranquilo. Para os que não tem a consciência pura, ela é cheia de ansiedade e de angústias, que aumentam à medida que ela se reconhece."

*Morte natural
Neste exemplo, temos um caso de morte de um doente terminal. O fluido vital que dá a vida orgânica ao corpo vai se  esgotando e a ligação entre perispírito e corpo físico, como consequência, também se enfraquece gradativamente.
A alma começa a se separar do corpo físico e, neste momento, pode receber a visita de espíritos familiares.
Ocorre, também, de espíritos benfeitores (amparadores) aparecerem para auxiliarem no processo de desenlace energético.

*Morte Violenta
Nos casos de morte abrupta, seja por assassinato, acidente de trânsito... enfim, nas mortes repentinas em que o corpo físico ainda está cheio de vitalidade, os laços que o unem ao perispírito ainda são muito fortes, apesar de não ser mais possível a continuação da vida.
Neste exemplo, vemos um homem que foi assassinado na rua.
Ao se separar do corpo, ele vê a faca cravada em seu peito e recria, inconscientemente, a imagem em seu perispírito.
Um outro homem, reencarnado, em projeção astral, auxilia o processo de desenlace da vítima, pois o padrão de densidade energética entre ambos é mais compatível.
Já as energias do espírito protetor são mais sutis. Ele acompanha todo o processo, zeloso, aguardando a hora de se aproximar de seu protegido.

A sensação nos espíritos
"257. O corpo é o instrumento da dor. Se não é a causa primária desta é, pelo menos, a causa imediata. A alma tem a percepção da dor: essa percepção é o efeito. A lembrança que da dor a alma conserva pode ser muito penosa, mas não pode ter ação física. De fato, nem o frio, nem o calor são capazes de desorganizar os tecidos da alma, que não é suscetível de congelar-se, nem de queimar-se. Não vemos todos os dias a recordação ou a apreensão de um mal físico produzirem o efeito desse mal, como se real fora? Não as vemos até causar a morte? Toda gente sabe que aqueles a quem se amputou um membro costumam sentir dor no membro que lhes falta. Certo que aí não está a sede, ou, sequer, o ponto de partida da dor. O que há, apenas, é que o cérebro guardou desta a impressão.
Não se confundam, porém, as sensações do perispírito, que se tornou independente, com as do corpo. Estas últimas só por termo de comparação as podemos tomar e não por analogia.
Liberto do corpo, o Espírito pode sofrer, mas esse sofrimento não é corporal, embora não seja exclusivamente moral, como o remorso, pois que ele se queixa de frio e calor. Também não sofre mais no inverno do que no verão: temo-los visto atravessar chamas, sem experimentarem qualquer dor. Nenhuma impressão lhes causa, consequentemente, a temperatura. A dor que sentem não é, pois, uma dor física propriamente dita: é um vago sentimento íntimo, que o próprio Espírito nem sempre compreende bem, precisamente porque a dor não se acha localizada e porque não a produzem agentes exteriores; é mais uma reminiscência do que uma realidade, reminiscência, porém, igualmente penosa.
Algumas vezes, entretanto, há mais do que isso, como vamos ver.
(...)" - O Livro dos Espíritos.

Transplantes de órgãos e suas repercussões espirituais

 

O ser humano é um espírito encarnado que se manifesta na Terra basicamente com dois envoltórios: o corpo físico, que é material grosseiro e pesado, e o perispírito, um corpo sutil e semi-material que une o espírito à matéria do corpo. O perispírito é também um campo morfogenético sensível aos nossos pensamentos, estrutura de conteúdo informacional, que subsiste além do sepulcro e altera-se de acordo com o padrão do seu campo interno. Impele suas energias pelo corpo físico, preenchendo-o, confundindo-se e ligando-se a ele, átomo a átomo, molécula a molécula.

A morte representa a destruição do corpo físico e não do perispírito, que só o deixa quando não existe vida orgânica. O conhecimento dessas propriedades nos levam a compreender e aceitar uma possível repercussão perispiritual da doação de órgãos. Segundo relatos psicográficos de alguns doadores, as sensações são confirmadas, porém amenizadas e transformadas em bênçãos para o doador.

Sabe-se pela doutrina dos espíritos que, no instante da morte, o desligamento do perispírito ocorre gradualmente. Para alguns é muito rápido e o momento da morte é aquele do desligamento. Para outros, sobretudo aqueles cuja vida foi toda material e sensual, o processo é mais lento, levando alguns dias, semanas e até meses. Essa ocorrência não implica existir no corpo a menor vitalidade e possibilidade de retorno à vida. Quanto maior a identificação do espírito com a matéria, maior o sofrimento para a separação. A atividade moral e intelectual e a elevação dos pensamentos acionam o início da libertação, mesmo durante a vida do corpo. Esses são os resultados de observações realizadas no momento da morte (O Livro dos Espíritos, 155).

Muitas vezes, na agonia, a alma já deixou o corpo e não há mais vida orgânica. O homem já não tem consciência de si mesmo, entretanto, ainda lhe resta um sopro de vida. O corpo, máquina que o espírito movimenta, existe enquanto circular o sangue nas veias e, para isso, não necessita da alma (O Livro dos Espíritos, 156).

A dor no plano espiritual - O corpo é o instrumento da dor, mas esta é um efeito. Por exemplo, a dor "fantasma" nas pessoas amputadas. A lembrança que dela conserva pode ser muito penosa, contudo, não pode ser ação física (do corpo). Nem o frio, nem o calor podem desorganizar os tecidos da alma e esta não pode se gelar, nem se queimar. Seguramente, a região do membro amputado não é a sede da dor. Pode-se, pois, crer que há alguma analogia com os sofrimentos do espírito depois da morte, sendo o perispírito o agente das sensações externas e que, no corpo, essas sensações são localizadas pelos órgãos que lhes servem de canais. Destruído o corpo, essas sensações tornam-se generalizadas e o espírito não diz que sofre mais da cabeça do que dos pés. Liberto do corpo, o espírito pode sofrer, mas esse sofrimento não é corporal. A dor que o perispírito sente não é propriamente uma dor física, mas um vago sentimento íntimo que o próprio espírito nem sempre entende, precisamente porque a dor não está localizada e não é produzida por agentes externos. É mais uma lembrança que uma realidade. Porém, uma recordação também penosa.Durante a vida, o corpo recebe as impressões exteriores e as transmite ao espírito através do perispírito. Morto o corpo, ele não sente mais nada, visto que não há mais nele - espírito nem perispírito. Este, desprendido do corpo, experimenta a sensação, mas como esta não lhe chega mais por um canal limitado, é generalizada.

O perispírito não é mais do que um agente de transmissão, pois é no espírito que está a consciência.A influência material diminui à medida que o espírito progride, quer dizer, à medida que o perispírito se torna mais grosseiro.

André Luiz, em Evolução em dois mundos, capítulo XII, mostra a semelhança existente entre o processo gradativo de desencarnação do homem com a que ocorre no mundo dos insetos. Eles exibem no desenvolvimento da metamorfose incompleta a escala de superior . Porém, os inferiores, os insetos, encontram-se "aquém da histogênese", inabilitados e sem equilíbrio que lhes asseguraria o novo plano de consciência. São incapazes de manobrar órgãos do aparelho psicossomático, justamente pela ausência de substância mental consciente, daí a pesada letargia que ocorre imediatamente após a morte fenômenos exigidos para a desencarnação dos seres de natureza superior. Porém, os inferiores, os insetos, encontram-se "aquém da histogênese", inabilitados e sem equilíbrio que lhes asseguraria o novo plano de consciência. São incapazes de manobrar órgãos do aparelho psicossomático, justamente pela ausência de substância mental consciente, daí a pesada letargia que ocorre imediatamente após a morte.

No homem, a metamorfose é completa e deve-se ao pensamento constante que lhe oferece a preciosa estabilidade. Pela persistência e consistência das idéias, adquiriu o poder de integrar-se mentalmente para além da histogênese em seu corpo espiritual e, graças à sua própria vontade, consegue arrebatá-lo para novo estado individual então assistido pelos condutores divinos, dorme o sono da morte, mumificando-se na cadaverização, como acontece aos insetos. Passa a segregar substâncias mentais como "impulsos renovadores" exatamente como certas crisálidas que segregam um líquido especial, facilitando a saída do próprio casulo.

Terminado o processo histolítico das células, isto é, o processo destrutivo que lhe constitui o corpo biológico, e fortificado o campo mental, onde se programaram os novos anseios e as novas disposições, procura desvencilhar-se dos órgãos físicos, agora imprestáveis. E, por avançado automatismo, realiza o processo histogênico. Por esse meio, desliga as células sutis do seu veículo espiritual daquelas que pertenceram ao corpo físico, atuando agora com a eficiência e a segurança que as longas recapitulações lhe conferiram no movimento incessante da Palingênese Universal, em sua marcha laboriosa para mais elevadas aquisições.

Com esses dados transmitidos pelo espírito André Luiz, constatamos ponto de contato dessas informações com os ensinamentos de Allan Kardec e com aqueles que a ciência terrena nos possibilita.Essas fontes são unânimes ao admitir que a morte é um processo gradativo, um processo evolutivo que se desenrola simultaneamente nos dois planos da vida. O desligamento do perispírito possivelmente coincide com o início dos processos comatosos, parcialmente compreendidos pela medicina terrena. Essa compreende que esse processo representa a cessação das atividades dos centros nervosos, até a extinção da vida nos derradeiros grupos de células, morrem primeiramente as células nervosas e os epitélios glandulares e, por último, os epitélios ciliados e os leucócitos; ou seja, a cessação da vida não implica a morte conjunta de todas as células, algumas das quais sobrevivem mais ou menos longamente. O espiritismo e a estruturação do corpo - Lamentavelmente, a Ciência desconhece ainda os enigmas do campo morfogenético, que supervisionam e estruturam a formação do ser vivo. Campos de energias não são percebidos pela visão comum e sob o comando do espírito, esse corpo sutil e semimaterial representa a matriz onde as moléculas se depositam para a formação do corpo físico. Como campo estruturador da forma, possibilita o arranjo adequado dos vários órgãos e sistema do corpo físico, que podem assim desempenhar as suas funções, graças à especificidade celular assegurada a cada um deles.

Assim, todos os órgãos do corpo físico recebem estímulos e sensações que repercutem no perispírito com a intensidade que o senso moral, a evolução e a pureza de cada um permitir. A doutrina dos espíritos representa uma fonte inesgotável de conhecimentos e, após Kardec, o trabalho incansável dos espíritos continua presente através da sagrada e consagrada psicografia de Francisco Cândido Xavier.São conhecidas as mensagens espirituais de jovens doadores, informando a todos nós a continuidade da vida, comprovando a realidade dos ensinamentos que nos sustentam a alma, que o amor atravessa as fronteiras do tempo, referindo-se à sensação de desconforto no momento em que o órgão é retirado para transplantes, e os frutos da caridade que esse ato representa.

Pelo exposto, podemos deduzir que a doação deva produzir alguma repercussão perispiritual, cuja intensidade dependerá da condição evolutiva de cada um. Mas o retorno do ato da doação será benéfico para o doador e receptor. Nada nos obriga a doar os nossos órgãos, mas se o fizermos, que seja com muita consciência, convicção, colaborando para a manutenção da vida de muitos.

Tenhamos a certeza de que a gratidão e o reconhecimento do receptor com o ganho de mais uma oportunidade de vida atuará como verdadeiro bálsamo, isto é, assumindo até propriedades medicamentosas que se façam necessárias para o doador.

Pensemos na doação de órgãos e que o amor e a caridade sejam uma constante em nossos corações.

Elizabete Rezende Nicodemos

Médica e membro da Associação Médico-Espírita do Brasil.
Texto publicado originalmente na Revista Cristã de Espiritismo,
Ano 02 No 9. Reprodução autorizada