sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

Morte na Boate - Richard Simonetti

Publicado por Amigo Espírita em 31 janeiro 2013 às 22:49 em Richard Simonetti


 Tragédias como a de Santa Maria, no Rio Grande do Sul, que vitimou 231 pessoas sempre suscitam a dúvida crucial: Maktub? Estava escrito?
            A meu ver está escrito apenas que morreremos um dia, mas sem definição do dia e hora, já que estes pertencem às contingências humanas, subordinadas ao livre-arbítrio.   Raros vivem integralmente o tempo concedido por Deus para as experiências humanas. Multidões retornam antes do tempo à espiritualidade por cuidarem mal do corpo, por se comprometerem no vício, no desregramento, na indisciplina, no crime…
            Há quem diga que débitos cármicos, nascidos de desvios cometidos em passadas existência teriam originado uma espécie de resgate coletivo na funesta madrugada.
            Além de logisticamente complicado juntar pessoas que queimam e sufocam seus semelhantes para morte igual, tal resgate lembra a pena de talião defendida por Moisés, o olho por olho, à distância do amor que cobre a multidão dos pecados, ensinado por Jesus.
            Há sempre a ideia supostamente consoladora, de que tudo vem de Deus. Assim pensando, seria, porventura, mais razoável imaginar que Deus estimula a negligência, a indisciplina, os vícios, os assassinatos, as bebedeiras, a agressividade, a maldade, a violência, as guerras, que diziam milhões de pessoas para que as pessoas paguem suas dívidas?
            Seria razoável imaginar que Deus inspirou os americanos a soltar duas bombas atômicas em Hiroshima e Nagasaki, para que 200 mil japoneses quitassem seus débitos?
Essas mortes são de inspiração humana, jamais divina.
            O verdadeiro consolo está em considerar que o Espírito, a individualidade pensante, não morrerá jamais.
            Nascer e morrer são apenas duas faces da mesma moeda: a vida imortal, que se estende ao infinito, no desdobrar de experiências que nos conduzem à perfeição. Então, como diz Jesus, não mais experimentaremos a experiência da morte, em planos de matéria densa como a Terra. Nessa concepção está o verdadeiro consolo.
Quanto aos nossos amados, que nos antecedem no retorno à Espiritualidade, estão ausentes apenas aos nossos olhos.
            Se pudéssemos ver saberíamos que eles nos procuram, sofrem com nossa angústia, perturbam-se com nosso desconsolo, fortalecem-se com nossa coragem, vibram com nossas esperanças, torcem para que sejamos firmes e fortes no enfrentar os embates da existência a fim de que o reencontro mais tarde se dê em bases de vitória sobre as provações humanas, ensejando-nos luminoso porvir.





Nas ruínas preservadas de Herculano ainda podem ser vistos  sinais deixados pelo
incêndio provocado pelas lavas incandescentes do Vulcão Vesúvio. No prédio acima são
visíveis restos de madeiras carbonizadas. As cidades de Herculano, Pompéia e Stabias foram
 soterradas pela erupção ocorrida no ano 79 d.C. quando faleceram milhares de pessoas.  Foto Ismael Gobbo
http://www.redeamigoespirita.com.br/group/richardsimonetti/forum/topics/morte-na-boate-richard-simonetti

segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

Reflexões espíritas sobre a Tragédia de Santa Maria


                                                                            

Por Dora Incontri

      A tragédia de Santa Maria me leva a algumas reflexões que considero importantes para o movimento espírita.
      Recentemente participei de uma banca de doutorado na Universidade Metodista, em que o pesquisador José Carlos Rodrigues, examinou em ampla investigação de campo quais os principais motivos de “conversão”, eu diria, “migração” para o espiritismo, no Brasil. Ganhou disparado a “resposta racional” que a doutrina oferece para os problemas existenciais.
      De fato, essa é grande novidade do espiritismo no domínio da espiritualidade: introduzir um parâmetro de racionalidade e distanciar-se dos mistérios insondáveis, que as religiões sempre mantiveram intactos e impenetráveis, sobretudo o mistério da morte.
      Entretanto, essa racionalidade, que era realmente a proposta de Kardec, tem sido barateada em nosso meio, como tudo o mais, para tornar-se uma cartilha de respostinhas simples, fechadas e dogmáticas, que os adeptos retiram das mangas sempre que necessário, de maneira triunfante e apressada, muitas vezes, sem respeito pela dor do próximo e sem respeito pelas convicções do outro.    Explico-me.
      Por exemplo: existe na Filosofia espírita uma leitura de mundo de “causa e efeito”, que traduziram como “lei do karma”, conceito que vem do hinduísmo. Essa ideia é de que nossas ações presentes geram resultados, que colheremos mais adiante ou que nossas dores presentes podem ser explicadas à luz de nossas ações passadas. Mas há muitas variáveis nesse processo: por exemplo, estamos sempre agindo e portanto, sempre temos o poder de modificar efeitos do passado; as dores nem sempre são efeitos do passado, mas sempre são motivos de aprendizado. O sofrimento no mundo resulta das mais variadas causas: má organização social, egoísmo humano, imprevidência… Estamos num mundo de precário grau evolutivo, onde a dor é nossa mestra, companheira e o que muitas vezes entendemos como “punição” é aprendizado de evolução.
      O assunto é complexo e pretendo escrever mais profundamente sobre isso. Aqui, apenas gostaria de afirmar que nós espíritas, temos sim algumas respostas racionais, mas elas são genéricas e não podem servir como camisas de força para toda a realidade. Que respostas baseadas em evidências e pesquisas temos, por exemplo, para essas famílias enlutadas com a tragédia de Santa Maria?
      • que a morte não existe e que esses jovens continuam a viver e que poderão mais dia, menos dia, dar notícias de suas condições;
      • que a morte traumática deixa marcas para quem fica e para quem foi e que todos precisam de amparo e oração;
      • que o sofrimento deve ter algum significado existencial, que cada um precisa descobrir e transformá-lo em motivo de ascensão…
      • que a fé, o contato com a Espiritualidade, seja ela qual for, dá forças ao indivíduo, para superar um trauma dessa magnitude.

      Não podemos afirmar por que esses jovens morreram. Não devemos oferecer uma explicação pronta, acabada, porque não temos esses dados. Os espíritas devem se conformar com essa impotência momentânea: não alcançamos todas as variáveis de um fato como esse, para podermos oferecer uma explicação definitiva. Havia processos da lei de causa e efeito? Provavelmente sim. Houve falha humana, na segurança? Certamente sim. Qual o significado que essa tragédia terá? Cada pai, cada mãe, cada familiar, cada pessoa envolvida deverá achar o seu significado. Alguns talvez terão notícias de algum evento passado que terá desembocado nesse drama; outros extrairão dessa dor, um motivo de luta para mais segurança em locais de lazer; outros acharão novos valores e farão de seu sofrimento uma bandeira para ajudar outros que estejam no mesmo sofrimento e assim por diante.
      Oremos por essas pessoas, ofereçamos nossas melhores vibrações para os que foram e para os que ficaram e ainda para os que se fizeram de alguma forma responsáveis por esse evento trágico. Mas tenhamos delicadeza ao tratar da dor do próximo! Não ofereçamos respostas fechadas, apressadas, categóricas, deterministas. Ofereçamos amor, respeito e àqueles que quiserem, um estudo aberto e não dogmático, da filosofia espírita.

Dora Incontri (Bragança Paulista/SP)
é uma jornalista, escritora brasileira. É doutora em educação pela Universidade de São Paulo. É um importante nome da Pedagogia espírita. Por todo Brasil, participa de seminários proferindo palestras embasadas neste tema. 
Obras  Pedagogia espírita: Um Projeto Brasileiro e Suas Raízes;
§  A Educação segundo o Espiritismo;
§  Pestalozzi, Educação e Ética;
§  Para Entender Allan Kardec;
§  A Educação da Nova Era;
§  Todos os Jeitos de Crer;
§  Kardec Educador;
§  Vivências na Escola.
§  Deus e deus.
§  A Arte de Morrer - Visões Plurais.
§  Filosofia - Construindo o Pensar.
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