sexta-feira, 13 de abril de 2012

RAZÕES PARA SER CONTRA O ABORTO DO ANENCÉFALO

(Folha Espírita - Agosto/2004) em http://www.amebrasil.org.br/html/aborto_razoes.htm
À primeira vista, pode parecer que as razões contrárias ao abortamento provocado sejam exclusivamente da alçada da religião. Uma reflexão mais acurada, porém, demonstrará que elas têm raízes profundas na própria ciência. Assim, para sermos fiéis à verdade e discutirmos, sem as amarras obliterantes do preconceito, a complexa e multifacetada questão dos direitos do embrião, é indispensável analisarmos os argumentos científicos contrários ao aborto.
O primeiro passo nessa busca é a descoberta do verdadeiro significado do zigoto à luz das Ciências da Vida.
Para Moore e Persaud (2000, p. 2), “o desenvolvimento humano é um processo contínuo que começa quando o ovócito de uma mulher é fertilizado por um espermatozóide de um homem. O desenvolvimento envolve muitas modificações que transformam uma única célula, o zigoto (ovo fertilizado), em um ser humano multicelular”. Ainda segundo os ilustres embriologistas, o zigoto e o embrião inicial são organismos humanos vivos, nos quais já estão fixadas todas as bases do indivíduo adulto. Sendo assim, não é possível interromper qualquer ponto do continuum – zigoto, feto, criança, adulto, velho – sem causar danos irreversíveis ao bem maior, que é a própria vida.
Mas há muito mais sobre o zigoto. É impossível deixar de reconhecer que é uma célula extremamente especializada, que passou pelo buril do tempo, herdeira de bilhões de anos de evolução. Dos cristais minerais ao ser humano, as células primitivas passaram por um longo e extraordinário percurso, desde os procariontes aos eucariontes, dos seres mais simples aos mais complexos, até surgirem, magníficas, nas múltiplas especializações dos órgãos humanos. E a célula-ovo é um dos exemplos mais admiráveis, porque encerra em si mesma, potencialmente, todo o projeto de um novo ser, que é único e insubstituível.
Nesse sentido, a investigação sobre a estrutura do zigoto nos leva necessariamente à discussão sobre a origem da vida e seu significado científico, com todas as conseqüências disso para discussões bioéticas, morais, políticas e religiosas. Não será possível retomar aqui toda a argumentação desenvolvida em O Clamor da Vida (NOBRE, 2000), de modo que apresentarei unicamente alguns dos pontos centrais envolvidos.
Reconhecemos o grande valor da Teoria Neodarwiniana e de seus pressupostos básicos – a evolução das espécies, a mutação e a seleção natural – já comprovados pela investigação científica. Ela, porém, tem se revelado insuficiente para explicar a evolução como um todo, porque tem no acaso um dos seus pilares. O mesmo acontece com todas as outras teorias que buscam complementá-la, mantendo a mesma base explicativa, como as de Orgel, Eigen, Gilbert, Monod, Dawkins, Kimura, Gould, Kauffman. Demonstrou-se, por exemplo, através de cálculos matemáticos, a impossibilidade estatística (101000 contra um) de se juntar, ao acaso, mil enzimas das duas mil necessárias ao funcionamento de uma célula. Do mesmo modo, já se constatou que o acaso é insuficiente para explicar, passo a passo, de forma detalhada, científica, o surgimento de estruturas complexas, como o olho, o cílio ou flagelo, a coagulação sanguínea.
Por isso, acreditamos que a Teoria do Planejamento Inteligente, que não tem por base o acaso e é defendida por cientistas competentes, como o bioquímico Michael Behe, a bióloga Lynn Margulis, e os físicos Ígor e Grischka Bogdanov, possui argumentos científicos bem mais sólidos para explicar a evolução dos seres vivos. Behe, em seu livro A Caixa Preta de Darwin, afirma que não importa o nome que se lhe dê, mas, para ele, indiscutivelmente, a vida tem um Planejador. Esta mesma conclusão está em Deus e a Ciência, obra de J. Guitton e dos irmãos Bogdanov. Na mesma linha de raciocínio, Margulis e Sagan (2002, p. 23) afirmam: “Nem o DNA nem qualquer outro tipo de molécula, por si só, é capaz de explicar a vida”.
Esses autores foram buscar suas argumentações científicas no estudo da extraordinária maquinaria celular; no jogo de convenções inexplicáveis, como as ligações covalentes, a estabilização topológica de cargas, a ligação gene-proteína, a quiralidade esquerda dos aminoácidos e direita dos açúcares; como também, nos cálculos matemáticos das enzimas celulares e na análise de estruturas complexas, já referidos. Enfim, um mundo de complexidade, que não pode ser reduzido à simples obra do acaso.
O fato é que o cientista, nem de longe nem de perto, tem conseguido “fabricar” moléculas da vida. Ele desconhece, portanto, como reproduzir, em laboratório, as forças que entram em jogo nesse intrincado fenômeno. Nessas circunstâncias, deveria adotar uma atitude mais humilde, mais reverente, diante desse bem maior que é concedido ao ser humano, o de viver.
Pois, a cada dia, chegam novos aportes científicos para a compreensão da verdadeira natureza do embrião. Descobertas recentes, feitas pela neurocientista Candace Pert e equipe, demonstram que a memória estaria presente não somente no cérebro, mas em todo o corpo, através da ação dos neuropeptídeos, que fazem a interconexão entre os sistemas – nervoso, endócrino e imunológico –, possibilitando o funcionamento de um único sistema que se inter-relaciona o tempo todo, o corpo-cérebro.
Outras pesquisas já detectaram a presença, no zigoto, de registros (“imprints”) mnemônicos próprios, que evidenciam a riqueza da personalidade humana, manifestando-se, muito cedo, na embriogênese. São também notáveis as pesquisas da dra. Alessandra Piontelli e demais especialistas que têm desvendado as surpreendentes facetas do psiquismo fetal, através do estudo de ultra-sonografias, feitas a partir do 4º mês de gestação, e do acompanhamento psicológico pós-parto, até o 3º ou 4º ano de vida da criança. O conjunto desses e de outros trabalhos demonstra a competência do embrião: capacidade para autogerir-se mentalmente, adequar-se a situações novas; selecionar situações e aproveitar experiências.
Se unirmos a Teoria do Planejamento Inteligente a essas novas descobertas, vamos concluir, baseados na ciência, que a vida do embrião não pertence à mãe, ao pai, ao juiz, à equipe médica, ao Estado. Pertence, exclusivamente, a ele mesmo, porque a vida é um bem outorgado, indisponível.
Há, pois, fortes razões científicas para ser contra o aborto, mesmo o do anencéfalo. Aprendemos, com a genética, que a diversidade é a nossa maior riqueza coletiva. E o feto anômalo, mesmo o portador de grave deficiência, como é o caso do anencéfalo, faz parte dessa diversidade. Deve ser, portanto, preservado e respeitado.
Reconhecemos que a mulher que gera um feto deficiente precisa de ajuda psicológica por longo tempo; constatamos, porém, que, na prática, esse direito não lhe é assegurado. Sem ajuda para trabalhar o seu sentimento de culpa, ela pode exacerbá-lo pela incitação à violência contra o feto, e mesmo permanecer nele, por tempo indeterminado. Seria importante que inclinasse seu coração à compaixão e à misericórdia, mostrando-lhe o real significado da vida.
CNBB se posiciona contra o aborto em casos de fetos com anencefalia
A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil divulgou, em nota oficial assinada por seu presidente, dom Geraldo Majella, pelo vice-presidente, dom Antônio Celso de Queiros, e pelo secretário-geral, dom Odilo Shcherer, que a interrupção da gravidez em casos de anencefalia do feto deveria ter sido tomada depois de ampla reflexão pela sociedade e participação do plenário da instituição. Para a CNBB, o ministro Marco Aurélio “autorizou a interrupção voluntária da gestação de uma vida humana”. A nota diz ainda: “... a vida humana, que se forma no seio da mãe, já é um novo sujeito de direitos e, por isso, tal vida deve ser respeitada sempre, não importando o estágio ou a condição em que ela se encontre”.
A visão de um delegado espírita
"Não se pode considerar como absoluta a morte do anencéfalo. O ser humano não possui o dom da vida, embora possa iniciá-la através da união carnal ou fecundação in vitro. O primado do processo civilizatório se encontra centrado na ampla defesa da pessoa no plano material e espiritual.
O respeito à vida, em qualquer nível em que ela se encontre, é uma conquista contemporânea da civilização. O que anima a natureza é exatamente a vida que se encontra presente nela, em todos os seus planos – desde o vegetal até o animal.
Assim, se houver um fundamento que justifique a morte, em qualquer estágio que a vida se encontre, não teremos motivos para evitá-la quando ela estiver situada em seus patamares mais elevados. Os argumentos que justificam a morte do anencéfalo serão os mesmo que justificariam a subtração da vida de qualquer outra pessoa – ou será que existem pessoas com mais vida e outras com menos vida?"
Clayton Reis - delegado da Associação Brasileira dos Magistrados Espíritas - PR.
Por que dizer não ao aborto de fetos anencéfalos na visão de um médico espírita
"A decisão do STJ em liberar a realização de abortos em casos de anencefalia não é correta. O anencéfalo é um ser vivo intra-útero. Ele nasce com vida e vai a óbito com minutos, dias, meses ou após anos. Se ele nasce vivo, o aborto é criminoso, pois lhe ceifa a oportunidade e a experiência da reencarnação.
Todos temos direito à vida, aos recursos existentes e, conseqüentemente, a uma morte natural, com toda a assistência médica. Acreditamos que há necessidade de uma maior reflexão por parte das autoridades brasileiras, um consenso entre todos os segmentos da sociedade e um cuidado na elaboração de medidas que venham comprometer a vida."
Laércio Furlan – médico e professor aposentado da UFPR; presidente da Associação Médico-Espírita do Paraná; coordenador da Campanha VIDA, SIM À GRAVIDEZ – Não ao Aborto
O que diz o Livro dos Espíritos?
Pergunta 344: “Em que momento a alma se une ao corpo?”
Resposta: “... desde o instante da concepção, o espírito designado a habitar certo corpo, a este se liga por um laço fluídico”.

APROVAÇÃO DO ABORTO DE ANENCEFALOS

ABORTO DE ANENCÉFALOS ESTÁ LIBERADO
em http://grupoallankardec.blogspot.com.br/2012/04/aborto-de-anencefalo-esta-liberado.html

Numa decisão histórica, o Supremo Tribunal Federal(STF) concluiu que mulheres que decidem interromper a gravidez de fetosanencéfalos e médicos que fazem o procedimento não cometem crime.
A maioria dos ministros entendeu que um feto comanencefalia é natimorto e, portanto, a interrupção da gravidez nesses casos nãopode ser comparada ao aborto, considerado crime pelo Código Penal. A discussãoiniciada há oito anos no STF foi encerrada em dois dias de julgamento.
A decisão livra as gestantes que esperam fetos comanencefalia - ausência de partes do cérebro - de buscarem autorização daJustiça para antecipar o parto. Algumas dessas liminares demoravam meses paraserem obtidas. E, em alguns casos, a mulher não conseguia autorização eacabava, à revelia, levando a gestação até o fim. Agora, diagnosticada aanencefalia, elas poderão se dirigir diretamente a seus médicos para realizaçãodo procedimento.
O Código Penal brasileiro, em vigor desde 1940,prevê somente dois casos para autorização de aborto legal: quando coloca em risco a saúde da mãe e em caso de gravidez resultantede estupro. Qualquer mudança dessa legislação precisa ser aprovada peloCongresso Nacional.
Por 8 votos a 2, o STF julgou que o fetoanencefálico não tem vida e, portanto, não é possível acusar a mulher do crimede aborto. 'Aborto é crime contra a vida. Tutela-se a vida em potencial. Nocaso do anencéfalo, não existe vida possível', afirmou o relator do processo, ministro Marco Aurélio Mello.
Em seu voto, Carlos Ayres Britto afirmou que asgestantes carregam um 'natimorto cerebral' no útero, sem perspectiva de vida. 'É preferível arrancar essa plantinha aindatenra no chão do útero do que vê-la precipitar no abismo da sepultura',declarou.
Além desse argumento, a maioria dos ministrosreconheceu que a saúde física e psíquica da grávida de feto anencéfalo pode serprejudicada se levada até o fim a gestação. Conforme médicos ouvidos naaudiência pública realizada pelo STF em 2008, a gravidez de feto sem cérebropode provocar uma série de complicações à saúde da mãe, como pressão arterialalta, risco de perda do útero e, em casos extremos, a morte da mulher. Porisso, ministros afirmaram que impedir a mulher de interromper a gravidez nessescasos seria comparável a uma tortura.
Obrigar a manutenção da gestação, disse AyresBritto, seria impor a outra pessoa que se assuma como mártir. 'O martírio é voluntário', afirmou. 'O que se pede é o reconhecimento dessedireito que tem a mulher de se rebelar contra um tipo de gravidez tão anômala,correspondente a um desvario da natureza', disse. 'Dar à luz é dar à vida e não à morte', afirmou.
Na opinião do ministro, se os homens engravidassem,a antecipação de partos de anencéfalos 'estariaautorizada desde sempre'.
Atestado. O ministro Gilmar Mendes, que também foifavorável à possibilidade de interrupção da gravidez, sugeriu que o Ministérioda Saúde edite normas que regulem os procedimentos que deverão ser adotadospelos médicos para garantir a segurança do tratamento. Uma dessas regraspoderia estabelecer que antes da realização do aborto o diagnóstico deanencefalia seja atestado em dois laudos emitidos por dois médicos diferentes.
Apenas dois ministros votaram contra a liberação do aborto - Ricardo Lewandowski e opresidente do STF, Cezar Peluso.
Lewandowski julgou que somente o Congresso poderiaincluir no Código Penal uma terceira exceção ao crime de aborto. E citou asoutras duas: caso a gravidez decorra de estupro ou se o aborto for necessáriopara salvar a vida da mãe.
'Não é lícito ao mais alto órgão judicante do País, a pretexto deempreender interpretação conforme a Constituição, envergar as vestes delegislador positivo, criando normas legais', afirmou o ministro. 'O aborto provocado de feto anencéfalo éconduta vedada de modo frontal pela ordem jurídica', disse Peluso.
'O doente de qualquer idade, em estágio terminal, também sofre por seuestado mórbido e também causa sofrimento a muitas pessoas, parentes ou não, masnão pode por isso ser executado nem é licito receber ajuda para dar cabo àprópria vida', afirmou o ministro. 'O feto portador de anencefalia tem vida.'
Laico (aquele que não tem religião definida). Gilmar Mendes reclamou da decisão doministro Marco Aurélio de negar a participação de setores religiosos nojulgamento, fazendo sustentações orais no plenário do STF.
'As entidades religiosas são quase que colocadas no banco de réus, comose estivessem a fazer algo de indevido. E é bom que se diga que elas não estãofazendo algo de indevido ao fazer as advertências',disse.
'Talvez daqui a pouco nós tenhamos a supressão do Natal do nossocalendário ou, por que não, a revisão do calendário gregoriano',disse. 'É preciso ter muito cuidado comesse tipo de delírio, de faniquitos anticlericais', acrescentou.


OBSERVAÇÕES ESPÍRITA:

1ª) POSSUEM CULPA OS QUE INDUZEM OU AUXILIAM A MULHER NO ABORTO? Todos aqueles que fazem leis queliberam o aborto, os que induzem ou auxiliam a mulher na eliminação donascituro possuem também a sua culpabilidade no ato criminoso: maridos ounamorados que obrigam as esposas; médicos que estimulam e o realizam;enfermeiras e parteiras inconscientes. Para a justiça humana, não há crime, nemprocesso, nem punição, na maioria dos casos, mas para a JUSTIÇA DIVINAtodos os envolvidos no ato criminoso sofrerão as conseqüências sombrias,imediatas ou em longo prazo, de acordo com o seu grau de culpabilidade;
2ª) E QUANDO A MULHER ENGRAVIDA CONTRA SUA VONTADE, COMO NO CASO DO ESTUPRO? O Espiritismo, em qualquercaso, entende a maternidade como digna e nobre. Além do mais, não sabemos seessa criatura, recebida em circunstâncias tão sofridas, não será o amparo e oamigo de que a mulher terá mais tarde em outras condições, quem sabe não menosdolorosas. Receber nos braços um filho que a vida nos enseja é sempre umabênção. O estuprador apenas produziu um corpo carnal, o espírito que irá sevincular àquele corpo e dará vida a ele é um filho de Deus. Caso amulher não queira conviver com o "filho de Deus", dê estacriança para adoção, mas não mate.



Leiam também:

ABORTO NA VISÃO ESPÍRITA
http://grupoallankardec.blogspot.com.br/2010/10/o-aborto-e-crime-para-os-espiritas.html

OS ANENCÉFALOS NA VISÃO ESPÍRITA
http://grupoallankardec.blogspot.com.br/2010/01/os-anencefalos-sao-filhos-de-deus.html

LIVRE ARBITRIO -PADRE FABIO DE MELO

quarta-feira, 11 de abril de 2012

SEVEROS, PORÉM, SEM CULPA

Severidade conosco significa vigilância mental ativa, crescente e permanente para não permitirmos hiatos nos esforços educativos das nossas inclinações. Esse cuidado com a personalidade é essencial ao progresso moral e espiritual, porque é exatamente nos instantes de relaxamento interior que costumam brotar o derrotismo, a obsessão e as más idéias; é quando se percebe com mais clareza as insatisfações que vinham sendo esquecidas e superadas no trabalho do bem, nas que sob uma análise descuidada podem tomar proporções onerosas aos projetos de elevação nos quais nos encontramos incursos, levando a decisões precipitadas e imprevisíveis.
Limite tênue existe entre a severidade como regime de disciplina e o sentimento de cobrança que conduz-nos a querer fazer o que ainda não damos conta. Uma imposição para a qual não temos preparo, sendo injustos conosco.
Em tudo deve vigorar o equilíbrio. Ser severo com compassiva tolerância às nossas fragilidades é o que sugere o bom senso e a caridade. Auto-aceitação sem conivência.
No entanto, o sentimento de culpa, com suas lamentáveis conseqüências, tem comparecido em razão de reminiscências da condenação eterna, fundamento da formação religiosa tradicional. Surge na forma de sutil desconfiança na possibilidade verdadeira de crescimento e melhoria individual, gerando uma atmosfera de descrença nos ideais e no seu próprio esforço. Quanto mais passa o tempo, mais a criatura estabelece cobranças no seu aperfeiçoamento moral e, não atingindo os patamares desejados, cai no desânimo e na deserção.
Muitos corações idealistas, portadores de valores forjados no sacrifício da renovação interior, habituaram a julgar-se hipócritas e desleais perante seus deslizes, penetrando as faixas emocionais da autopunição em descaridosos episódios de desamor a si próprios. Esquecem-se do quanto já edificaram de bom na intimidade e optam por fixar-se em crenças negativas, supervalorizando suas imperfeições, negando o autoperdão, caminhando para conflituosos estados íntimos que ativam os sentimentos de desprezo, raiva, desânimo, ansiedade, tristeza, desespero, pessimismo.
Grande diferença existe entre ser imperfeito e estar imperfeito. Não fomos criados para o sofrimento e o mal. O fato de cometer faltas não intencionais faz parte do demorado processo de transformação da personalidade. Os que verdadeiramente nos comprometemos com a melhoria interior precisamos nos das conta de que as vacilantes intenções de ser um homem novo necessitam do otimismo para se concretizar. Não somos infelizes, estamos, temporariamente, infelizes. Não somos deprimidos, estamos, passageiramente, deprimidos. Somos luz, somos deuses.
Trágico equívoco acreditar na perfeição instantânea depois de milhares de anos no cultivo intencional de ervas daninhas no solo do coração. Conhecimento não basta. Quando Jesus afirma o valoroso ensino Conhecereis a verdade e ela vos libertará, certamente não se referia à verdade que permanece na órbita do cérebro, porque se assim fosse todos os espíritas, detentores de largos fachos de luz da verdade, estariam libertos das lutas contra a inferioridade que ainda nos aprisiona nas celas da vaidade e do orgulho. O Mestre referia-se à verdade que atinge as distantes regiões do coração, à verdade sobre nós mesmos, a nossa realidade.
Devemos mergulhar na vida profunda do inconsciente – o desconhecido reino do automatismo – e pesquisar as raízes afetivas de nossas vivências.
Culparmo-nos, pelo mal que ainda não conseguimos vencer, em nada nos melhora. Certamente em alguns casos de personalidade rebelde ela funciona como uma defesa a fim de não desistirmo-nos de lutar, impulsionando a criatura ao recomeço para não agir novamente da mesma forma. Afora isso, é um instrumento pouco eficiente para promover a correção.
Melhora real só obteremos com auto-estima, valorizando, severamente, a parte boa que possuímos, fixando as crenças no homem novo que já desejamos ser, guardando o olhar mental na meta gloriosa de ser hoje melhor que ontem, sem distrair com os chamados inferiores do homem velho que agoniza, mas teima em ressuscitar.
Culpa é tortura e desamor, impulso para baixo.
Severidade é crescimento e auto-amor, motivação para continuar nos desafios de aprimoramento.
Jamais desistamos da melhora. O tempo e a maturidade demonstrarão como é preenchedora a opção que escolhemos sob a égide dos luminosos ideais espíritas-cristãos. Sem perfeccionismo e fazendo o melhor que pudermos, experimentaremos a alegria da vitória, cujo troféu chama-se felicidade.

MEREÇA SER FELIZ – Superando as ilusões do orgulho
Wanderley S. de Oliveira – Espírito Ermance Dufaux
 

A MORTE SEM MISTÉRIOS

Por que a morte, sendo tão natural quanto o nascimento, fenômeno corriqueiro ao qual todos estamos sujeitos, sem exceção, ainda é considerada algo sinistro e tão misterioso?

Por que ela é tão incompreendida e causa tanto sofrimento, sobretudo quando surpreende prematuramente nossos entes queridos?

O Espiritismo veio, em boa hora, desmistificar a morte, mostrando a sua verdadeira face, e, o que é mais importante, veio realçar a importância da vida, demonstrando que ela transcende a questão da sobrevivência. Entretanto, mesmo para os que estudam a realidade além-túmulo, a morte dos entes queridos é algo difícil de aceitar e administrar.

Isso mostra quanto ainda somos imaturos, espiritualmente, e quanto temos ainda de desmaterializar nossos pensamentos e sentimentos.

Todas as religiões pregam a imortalidade da alma, mas a Doutrina Espírita foi além: comprovou, cientificamente, a imortalidade e resgatou o espírito da matéria, “matando a morte”. Não se trata mais de convicção religiosa. Trata-se de estar bem ou mal informado, pois, sem prejuízo dos princípios revelados pelo Consolador, o Espírito já foi pesado, medido e fotografado por uma legião de sábios, pesquisadores e cientistas de renome, conforme registrado nos anais da História.

Muito da incompreensão e do temor da morte repousa no desconhecimento da natureza espiritual do homem e no desconhecimento do perispírito, este, o invólucro inseparável da alma ou Espírito, elemento semimaterial, fluídico, indestrutível, que serve de intermediário entre o Espírito e o corpo físico. O estudo das propriedades e das funções do perispírito dilata novos horizontes à Ciência e constitui a chave de uma grande quantidade de fenômenos, preconceituosamente negados pelo materialismo e qualificados por outras crenças como milagres ou sortilégios, entre eles a materialização de Espíritos, confundida com a “ressuscitação” ou “ressurreição” dos mortos.

Denomina-se “morte” o esgotamento ou a cessação da atividade vital nos organismos. Nós, os espíritas, chamamo-la “desencarnação”, palavra que designa, com maior precisão, o evento, pois o que se dá, na realidade, é o desprendimento do Espírito ou do princípio inteligente do corpo físico, que a esse se havia ligado por meio do fenômeno encarnatório.

Deus criou os Espíritos simples e ignorantes, impondo a eles encarnações sucessivas, com o objetivo de fazê-los chegar à perfeição, gradualmente, pelo próprio mérito. Logo, a evolução se processa por fases, pois não é possível escalar o cume glorioso da plena vitória espiritual sobre si mesmo num só voo. Assim, podemos comparar o mundo físico a uma escola, a um campo de provas para o Espírito. André Luiz afirma:

[...] O Espírito, eterno nos fundamentos, vale-se da matéria, transitória nas associações, como material didático, sempre mais elevado, no curso incessante da experiência para a integração com a Divindade Suprema. [...] (1)

O estágio na carne é o buril que esculpe o aperfeiçoamento do ser. Não é uma excursão de lazer a que somos convidados a gozar, à saciedade, na taça da vida, pois os excessos contribuem para a destruição prematura do corpo físico, equiparando-se a um suicídio inconsciente.

Com a desencarnação, o corpo grosseiro é descartado, à semelhança de uma roupa imprestável, que se desprende do perispírito e do Espírito, molécula a molécula. Decompostos os elementos químicos, esses são restituídos à Natureza para serem reutilizados na construção de outros corpos. Sem a veste carnal, o Espírito, em vibração diferenciada, desaparece dos olhos físicos dos encarnados, como se mudasse de residência, mantendo-se intacto e conservando, em outra dimensão apropriada ao progresso realizado, todo o patrimônio de experiências adquiridas.

O corpo é o instrumento do progresso espiritual. A decomposição dele é uma sábia lei da Natureza, sem a qual não haveria renovação e transformação. A encarnação e a morte constituem ciclos na trajetória das criaturas, que permitem o desenvolvimento delas por etapas, o que proporciona, nos intervalos entre uma e outra existência física, a avaliação e a reavaliação das experiências, o planejamento das futuras encarnações, para o recomeço proveitoso de novas provas.

Se a morte fosse a destruição completa do homem (Espírito encarnado), muito ganhariam com ela os maus, pois se veriam livres, ao mesmo tempo, do corpo, do Espírito e dos vícios. É uma ideia materialista que repugna o bom-senso e a lógica. A crença de que após a morte física vem o nada, além de anticientífica, é incompatível com a perfeição, a justiça e a bondade do Criador.

A vida na carne é uma constante preparação para a morte.

Todos sabem que esta é inexorável e pode acontecer a qualquer instante. Apesar disso, raramente valorizamos a existência e quase sempre desprezamos as oportunidades de crescimento:

A educação para a morte não é nenhuma forma de preparação religiosa para a conquista do Céu. É um processo educacional que tende a ajustar os educandos à realidade da Vida, que não consiste apenas no viver, mas também no existir e no transcender. (2)

Aqueles que, durante a vida terrena, se esforçarem sinceramente por se melhorar, mesmo errando durante o curso de sua existência, podem aguardar, serenos, a hora de seu retorno para o mundo espiritual, pois verão recompensados seus suores, dores e lágrimas. O Espírito Irmão X (Humberto de Campos) relaciona conselhos muito úteis para os que pretendem morrer bem. Eis o resumo de alguns deles, em forma de decálogo:
 
1. Diminua gradativamente a volúpia de comer a carne dos animais.

2. Evite os abusos do álcool e do fumo.

3. Não se renda à tentação dos narcóticos.

4. Quanto ao sexo, guarde muito cuidado na preservação do seu equilíbrio emotivo.

5. Se tiver dinheiro, não adie doações aos que realmente precisem e observe cautela com testamentos, pois a morte pode chegar de surpresa, deixando-o aflito com pendências judiciais perante os familiares.

6. Não se apegue demasiado aos laços consanguíneos, pois os entes queridos não nos pertencem.

7. Se você já possui o tesouro de uma fé religiosa, viva de acordo com os preceitos que abraça. É muito grande a responsabilidade moral de quem já conhece o caminho, sem equilibrar-se dentro dele.

8. Faça o bem que puder, sem a preocupação de satisfazer a todos.

9. Trabalhe sempre. O serviço é o melhor dissolvente de nossas mágoas.

10. Ajude-se, através do leal cumprimento de seus deveres. (3)

Em nossa quadra evolutiva, é normal que sintamos tristeza pela partida, inesperada ou não, dos entes queridos. A lembrança e a saudade geralmente evidenciam o amor que nutrimos por eles, contudo, não devemos nos entregar ao desespero e à tristeza mórbida, sob pena de prejudicarmos o restabelecimento dos recém-desencarnados, pois nossos pensamentos e sentimentos os atingem em cheio.

Ademais, tal comportamento demonstra o nosso egoísmo pelo apego excessivo aos laços familiares, ou ainda a falta de confiança em Deus, de fé no futuro e na imortalidade dos entes queridos, dos quais, a rigor, nunca nos apartamos, havendo, até mesmo, a possibilidade de nos comunicarmos com eles.

É realmente consolador haurir a certeza da imortalidade da alma.

Assimilar esses conhecimentos, adquirir essa convicção eleva a nossa condição de Espíritos, o que nos faz sentir herdeiros do Criador e nos dá mais forças para vencer as dificuldades do dia a dia, permitindo que valorizemos ainda mais a vida.

A maior prova que damos de que realmente internalizamos as noções imortalistas do ser e da reencarnação é recebermos com resignação e coragem a notícia do passamento de nossos entes queridos.

Lamentar exageradamente a partida daqueles a quem amamos é falta de caridade, pois seria exigir a permanência deles na prisão do corpo, fustigados por todo o cortejo de provas da existência física, muitas vezes pelo egoísmo de tê-los junto de nós. Saibamos impor silêncio às nossas dores, entregando-nos ao trabalho do bem, que nos dará forças para prosseguirmos no cumprimento dos deveres. Morrer todos os dias para a existência inferior é uma forma de viver a vida eterna, construindo o futuro glorioso que nos aguarda.

Reformador Março 20121XAVIER, Francisco C. Obreiros da vida eterna. Pelo Espírito André Luiz. 33. ed. 4. reimp. Rio de Janeiro: FEB, 2011. Cap. 19.
EM http://avidanoalem.blogspot.com.br/

domingo, 8 de abril de 2012

A PÁSCOA E A RESSURREIÇÃO

“E ele [Jesus] disse: Ide à cidade, a um certo homem, e dizei-lhe: O Mestre diz: O meu tempo está próximo;
em tua casa celebrarei a Páscoa com os meus discípulos.” (Mateus, 26:18)

Muitas pessoas acreditam que a Páscoa é uma festa cristã em que se comemora a ressurreição de Jesus. Entretanto, a origem desta festividade é bem diferente, pois as anotações dos evangelistas nosinformam que o próprio Jesus celebrou a Páscoa com seus discípulos. Sabe-se que alguns costumes ligadosao período pascal originam-se dos festivais pagãos da primavera, enquanto que outros vêm da celebração da“Pessach” ou “Passover”, a chamada Páscoa judaica e que significa “passagem”. Trata-se de uma das mais importantes festas do calendário judaico, sendo conhecida também por “Festa dos Pães Asmos”. É celebrada por 8 dias em comemoração à libertação dos israelitas do cativeiro no Egito, durante o reinado do faraó Ramsés II. Naquela época acreditava-se que Deus havia ferido de morte todos os primogênitos egípcios, mas que havia poupado os israelitas porque as portas de suas casas estavam marcadas com o sangue de um cordeiro  especialmente sacrificado para isso. Por tal motivo, dentre as festividades da Páscoa, no dia 14 de Nisan (nosso mês de Abril) servia-se uma ceia especial, cujo prato principal era um cordeiro, sacrificado em
homenagem à fuga do Egito. Séculos mais tarde, Jesus foi situado como o “Cordeiro de Deus” sacrificado para salvação dos homens, pensamento este que não encontra embasamento doutrinário nos postulados
espíritas.O Mestre ministrou seus derradeiros ensinamentos naquela noite de quinta-feira em que celebrava a
Páscoa com seus apóstolos, pois já se aproximava o término de sua missão, enquanto encarnado, junto à
humanidade. Jesus, primeiramente, repartiu o pão e o vinho, simbolizando o conhecimento da Verdade e o
trabalho em benefício do nosso próximo, tão bem ensinados e exemplificados por ele. Logo em seguida
surgiu uma discussão entre os apóstolos para saber qual deles era o maior. Aproveitando a oportunidade, o
Mestre lavou os pés de cada um deles, demonstrando, com este gesto de extrema humildade, que “quem
quiser ser o maior, que seja o servidor de todos.” Ainda naquela noite indelével, o próprio Jesus indicou aquele que o trairia e preveniu Pedro a respeito da negação. Não obstante, deixou-nos o inolvidável “que vos ameis uns aos outros, assim como eu vos amei e nisto todos conhecerão que sois meus discípulos.” Confortou os apóstolos prometendo o envio de outro Consolador e deixando a sua paz. Afirmou que ele é “o Caminho, a Verdade e a Vida”, é a videira verdadeira. O Mestre havia vencido o mundo e encerrou a palestra com uma oração intercessória por si mesmo e pelos discípulos, os daquela época e os futuros. Após sua prisão, julgamento e execução no episódio conhecido como “Drama do Calvário”, eis queno domingo seguinte Jesus ressuscita e reaparece, primeiramente às mulheres que se encaminhavam ao seutúmulo e, em seguida, aos demais apóstolos que ainda se encontravam incrédulos com as promessas feitas por ele e receosos das perseguições que poderiam sofrer por parte do Sumo Sacerdote Caifás, bem comopelos membros do Sinédrio. A ressurreição de Jesus no domingo de Páscoa passou a ser comemorada por toda a cristandade.Entretanto, o sentido que lhe foi atribuído não corresponde à realidade dos fatos. A ciência nos prova que a ressurreição, conforme ensinada pela Igreja, é impossível de ocorrer, pois após a morte do corpo físico as moléculas que o formavam se desagregam. Isto é fato atestado pela ciência e ratificado pelos Espíritos superiores responsáveis pela codificação do Espiritismo.Mas, e a ressurreição de Jesus? Ela não ocorreu? Sim, porém precisamos entender o significado real de tal palavra. Segundo o Novo Dicionário Aurélio, ressurreição significa o ato ou efeito de ressurgir ou reaparecer. Vejam como as coisas começam a clarear: após a morte no Calvário, Jesus ressurgiu ou reapareceu em espírito, não em carne. Este, inclusive, era o pensamento do apóstolo Paulo que, em sua primeira epístola aos coríntios, escreveu: “Temos dois corpos, um natural e outro espiritual, e ressuscita corpo espiritual” (15:44) e ainda “... a carne e o sangue não poderão herdar o reino de Deus” (15:50).Além disso, o próprio Mestre já havia ensinado o mesmo conceito em João 6:63: “O espírito é que vivifica, a carne para nada aproveita.” Portanto, em perfeita sintonia com o pensamento crístico e evangélico,podemos afirmar que a ressurreição de Jesus nada apresenta de sobrenatural, pois se assenta sobre as bases da Lei Natural ou Divina, e o mesmo acontece com todas as pessoas ao desencarnarem, ou seja, desaparece o corpo físico e o espírito reaparece revestido pelo seu corpo espiritual (também chamado de Perispírito,Psicossoma ou Corpo Astral). É importante salientarmos que esta ressurreição acontece na dimensão espiritual, sendo possível que o espírito desencarnado se apresente a um médium vidente ou se materialize,desde que sejam observadas certas circunstâncias, tais como: presença de um ou mais médiuns de efeitos físicos, objetivos da manifestação, permissão da Espiritualidade Superior, etc.Destaque-se que há alguns anos chegou às livrarias uma obra chamada Repensar a Ressurreição,cujo autor é o maior teólogo católico da atualidade, o espanhol André Torres Queiruga. Em seu livro,Queiruga chama atenção para o fato de que, há mais de dois mil anos, teólogos do mundo inteiro têm interpretado incorretamente a questão da ressurreição de Jesus, pois segundo o próprio autor, a ressurreição ensinada por Jesus e por Paulo é o ressurgimento ou o reaparecimento do espírito e não da carne.Diante desta nova visão, uma pergunta fica no ar: o que teria acontecido ao corpo físico do Mestre?Existe uma infinidade de variáveis: posteriormente poderia ter sido colocado em outra sepultura, pois ele estava temporariamente em um túmulo cedido por José de Arimatéia; o corpo poderia ter sido transmutado ou desintegrado pelo próprio Jesus ou por algum dos Espíritos que o assessoravam em sua missão crística.São numerosas as hipóteses...E qual seria o significado da Páscoa para os Espíritas? Vamos pensar em dois caminhos, de acordo com o significado judaico e o cristão. Para os judeus, a Páscoa simboliza a passagem da escravidão no Egito para a liberdade. Atualmente, todos nós, espíritos ainda imperfeitos e falíveis, trilhamos os caminhos evolutivos buscando fazer a passagem de nosso homem velho, cheio de vícios e mazelas, para o homem novo, renovado pelos ensinamentos do Cristo. Estamos travando o bom combate conosco mesmos para quepossamos sair da escravidão da ignorância espiritual para a libertação que só o conhecimento da Verdade proporciona. Para os cristãos, e de acordo com o dicionário, Páscoa é renascer, é ressurgir. Assim, podemos entender que a Páscoa simboliza o renascimento moral e espiritual do homem para Deus. Não precisamos e não devemos ficar esperando uma próxima reencarnação para nos renovarmos. A renovação pode e deve se iniciar hoje, pois todo dia é dia de nos renovarmos em Cristo Jesus. Entretanto, este renascimento de nós mesmos não ocorre de forma imediata. Trata-se de um processo que nos requer muito esforço, perseverança e vigilância, sendo que para isso torna-se fundamental vivenciarmos as lições da Boa Nova em nosso dia-a-dia, nos aprofundarmos nos estudos evangélicodoutrinários para adquirirmos o conhecimento que liberta, fazer o bem a todas as pessoas, extirpar de nosso íntimo o egoísmo e o orgulho, além de cultivarmos a humildade, a simplicidade, a paciência, o espírito de serviço e, sobretudo, o amor. As palavras do Mestre são para todos nós, em qualquer tempo, local e circunstância. No versículo que escolhemos para servir de base às nossas reflexões, Jesus encaminha a sua mensagem a um certo homemque, na verdade, simboliza cada um de nós. E a sua fala é cristalina: “... em tua casa celebrarei a Páscoa com os meus discípulos”.Há muitas reencarnações estamos apenas ouvindo ou distorcendo o sentido das palavras do Cristo.No entanto, é chegado o momento de fazermos com que estas sementes divinas se transformem em frutos. Épreciso abrirmos a nossa casa mental e o nosso coração para a passagem de Jesus e a renovação espiritualque ele nos propõe. Seus discípulos, representados por todos os bons espíritos que trabalham em seu nome,estão sempre prontos a nos auxiliar, mas para isso precisamos fazer a nossa parte: abrir o nosso espírito parao Cristo.
Valdir Pedrosa – Janeiro/2008 EM http://espiritismo-br.blogspot.com.br/2009/04/pascoa-e-ressurreicao-valdir-pedrosa.html

VISÃO ESPÍRITA DA PÁSCOA


Visão espírita da páscoa
Marcelo Henrique Pereira (*) em http://zildasantiago.blogspot.com.br/2012/04/visao-espirita-da-pascoa.html?showComment=1333932258266#c1604282460738477877
 

Eis-nos, uma vez mais, às vésperas de mais uma Páscoa. Nosso pensamento e nossa emoção, ambos cristãos, manifestam nossa sensibilidade psíquica. Deixando de lado o apelo comercial da data, e o caráter de festividade familiar, a exemplo do Natal, nossa atenção e consciência espíritas requerem uma explicação plausível do significado da data e de sua representação perante o contexto filosófico-científico-moral da Doutrina Espírita.

Deve-se comemorar a Páscoa? Que tipo de celebração, evento ou homenagem é permitida nas instituições espíritas? Como o Espiritismo visualiza o acontecimento da paixão, crucificação, morte e ressurreição de Jesus?

Em linhas gerais, as instituições espíritas não celebram a Páscoa, nem programam situações específicas para “marcar” a data, como fazem as demais religiões ou filosofias “cristãs”. Todavia, o sentimento de religiosidade que é particular de cada ser-Espírito, é, pela Doutrina Espírita, respeitado, de modo que qualquer manifestação pessoal ou, mesmo, coletiva, acerca da Páscoa não é proibida, nem desaconselhada.

O certo é que a figura de Jesus assume posição privilegiada no contexto espírita, dizendo-se, inclusive, que a moral de Jesus serve de base para a moral do Espiritismo. Assim, como as pessoas, via de regra, são lembradas, em nossa cultura, pelo que fizeram e reverenciadas nas datas principais de sua existência corpórea (nascimento e morte), é absolutamente comum e verdadeiro lembrarmo-nos das pessoas que nos são caras ou importantes nestas datas. Não há, francamente, nenhum mal nisso.

Mas, como o Espiritismo não tem dogmas, sacramentos, rituais ou liturgias, a forma de encarar a Páscoa (ou a Natividade) de Jesus, assume uma conotação bastante peculiar. Antes de mencionarmos a significação espírita da Páscoa, faz-se necessário buscar, no tempo, na História da Humanidade, as referências ao acontecimento.

A Páscoa, primeiramente, não é, de maneira inicial, relacionada ao martírio e sacrifício de Jesus. Veja-se, por exemplo, no Evangelho de Lucas (cap. 22, versículos 15 e 16), a menção, do próprio Cristo, ao evento: “Tenho desejado ansiosamente comer convosco esta Páscoa, antes da minha paixão. Porque vos declaro que não tornarei a comer, até que ela se cumpra no Reino de Deus.” Evidente, aí, a referência de que a Páscoa já era uma “comemoração”, na época de Jesus, uma festa cultural e, portanto, o que fez a Igreja foi “aproveitar-se” do sentido da festa, para adaptá-la, dando-lhe um novo significado, associando-o à “imolação” de Jesus, no pós-julgamento, na execução da sentença de Pilatos.

Historicamente, a Páscoa é a junção de duas festividades muito antigas, comuns entre os povos primitivos, e alimentada pelos judeus, à época de Jesus. Fala-se do “pesah”, uma dança cultural, representando a vida dos povos nômades, numa fase em que a vinculação à terra (com a noção de propriedade) ainda não era flagrante. Também estava associada à “festa dos ázimos”, uma homenagem que os agricultores sedentários faziam às divindades, em razão do início da época da colheita do trigo, agradecendo aos Céus, pela fartura da produção agrícola, da qual saciavam a fome de suas famílias, e propiciavam as trocas nos mercados da época. Ambas eram comemoradas no mês de abril (nisan) e, a partir do evento bíblico denominado “êxodo” (fuga do povo hebreu do Egito), em torno de 1441 a.C., passaram a ser reverenciadas juntas. É esta a Páscoa que o Cristo desejou comemorar junto dos seus mais caros, por ocasião da última ceia.

Logo após a celebração, foram todos para o Getsêmani, onde os discípulos invigilantes adormeceram, tendo sido o palco do beijo da traição e da prisão do Nazareno.

Mas há outros elementos “evangélicos” que marcam a Páscoa. Isto porque as vinculações religiosas apontam para a quinta e a sexta-feira santas, o sábado de aleluia e o domingo de páscoa. Os primeiros relacionam-se ao “martírio”, ao sofrimento de Jesus – tão bem retratado neste último filme hollyodiano (A Paixão de Cristo, segundo Mel Gibson) –, e os últimos, à ressurreição e a ascensão de Jesus.

No que concerne à ressurreição, podemos dizer que a interpretação tradicional aponta para a possibilidade da mantença da estrutura corporal do Cristo, no post-mortem, situação totalmente rechaçada pela ciência, em virtude do apodrecimento e deterioração do envoltório físico. As Igrejas cristãs insistem na hipótese do Cristo ter “subido aos Céus” em corpo e alma, e fará o mesmo em relação a todos os “eleitos” no chamado “juízo final”. Isto é, pessoas que morreram, pelos séculos afora, cujos corpos já foram decompostos e reaproveitados pela terra, ressurgirão, perfeitos, reconstituindo as estruturas orgânicas, do dia do julgamento, onde o Cristo, separá justos e ímpios.

A lógica e o bom-senso espíritas abominam tal teoria, pela impossibilidade física e pela injustiça moral. Afinal, com a lei dos renascimentos, estabelece-se um critério mais justo para aferir a “competência” ou a “qualificação” de todos os Espíritos. Com “tantas oportunidades quanto sejam necessárias”, no “nascer de novo”, é possível a todos progredirem.

Mas, como explicar, então as “aparições” de Jesus, nos quarenta dias póstumos, mencionadas pelos religiosos na alusão à Páscoa?

A fenomenologia espírita (mediúnica) aponta para as manifestações psíquicas descritas como mediunidades. Em algumas ocasiões, como a conversa com Maria de Magdala, que havia ido até o sepulcro para depositar algumas flores e orar, perguntando a Jesus – como se fosse o jardineiro – após ver a lápide removida, “para onde levaram o corpo do Raboni”, podemos estar diante da “materialização”, isto é, a utilização de fluido ectoplásmico – de seres encarnados – para possibilitar que o Espírito seja visto (por todos). Igual circunstância se dá, também, no colóquio de Tomé com os demais discípulos, que já haviam “visto” Jesus, de que ele só acreditaria, se “colocasse as mãos nas chagas do Cristo”. E isto, em verdade, pelos relatos bíblicos, acontece. Noutras situações, estamos diante de uma outra manifestação psíquica conhecida, a mediunidade de vidência, quando, pelo uso de faculdades mediúnicas, alguém pode ver os Espíritos.

A Páscoa, em verdade, pela interpretação das religiões e seitas tradicionais, acha-se envolta num preocupante e negativo contexto de culpa. Afinal, acredita-se que Jesus teria padecido em razão dos “nossos” pecados, numa alusão descabida de que todo o sofrimento de Jesus teria sido realizado para “nos salvar”, dos nossos próprios erros, ou dos erros cometidos por nossos ancestrais, em especial, os “bíblicos” Adão e Eva, no Paraíso. A presença do “cordeiro imolado”, que cumpre as profecias do Antigo Testamento, quanto à perseguição e violência contra o “filho de Deus”, está flagrantemente aposta em todas as igrejas, nos crucifixos e nos quadros que relatam – em cores vivas – as fases da via sacra.

Esta tradição judaico-cristã da “culpa” é a grande diferença entre a Páscoatradicional e a Páscoa espírita, se é que esta última existe. Em verdade, nós espíritas devemos reconhecer a data da Páscoa como a grande – e última lição – de Jesus, que vence as iniqüidades, que retorna triunfante, que prossegue sua cátedra pedagógica, para asseverar que “permaneceria eternamente conosco”, na direção bussolar de nossos passos, doravante.

Nestes dias de festas materiais e/ou lembranças do sofrimento do Rabi, possamos nós encarar a Páscoa como o momento de transformação, a vera evocação de liberdade, pois, uma vez despojado do envoltório corporal, pôde Jesus retornar ao Plano Espiritual para, de lá, continuar “coordenando” o processo depurativo de nosso orbe. Longe da remissão da celebração de uma festa pastoral ou agrícola, ou da libertação de um povo oprimido, ou da ressurreição de Jesus, possa ela ser encarada por nós, espíritas, como a vitória real da vida sobre a morte, pela certeza da imortalidade e da reencarnação, porque a vida, em essência, só pode ser conceituada como o amor, calcado nos grandes exemplos da própria existência de Jesus, de amor ao próximo e de valorização da própria vida.

Nesta Páscoa, assim, quando estiveres junto aos teus mais caros, lembra-te de reverenciar os belos exemplos de Jesus, que o imortalizam e que nos guiam para, um dia, também estarmos na condição experimentada por ele, qual seja a de “sermos deuses”, “fazendo brilhar a nossa luz”.

Comemore, então, meu amigo, uma “outra” Páscoa. A sua Páscoa, a da sua transformação, rumo a uma vida plena.

(*) Marcelo Henrique Pereira, Mestre em Ciência Jurídica, Presidente da Associação de Divulgadores do Espiritismo de Santa Catarina e Delegado da Confederação Espírita Pan-Americana para a Grande Florianópolis (SC)
http://www.abrade.com.br/pascoa.html
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