sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Em Torno do Estudo da Doutrina Espírita

por Waldehir Bezerra de Almeida
(Publicado na Revista Internacional de Espiritismo em dezembro de 1996)



Conta-nos o evangelista Lucas, no “Atos dos Apóstolos”, que um anjo do Senhor solicitou a Filipe que fosse a caminho de Jerusalém... E ele foi. Antes de lá chegar, encontrou em uma carruagem o mordomo-mor da rainha dos etíopes, que lia o profeta Isaias, e o apóstolo perguntou: “- Entendes tu o que lês?” E o etíope lhe respondeu: “- Como poderei entender, se alguém não me ensinar?”... E a narrativa continua informando que Filipe acompanhou o mordomo, servindo-lhe de instrutor, interpretando, provavelmente, os ensinamentos do profeta à luz dos ensinamentos do Cristo. E antes que terminasse a viagem, o aprendiz pediu para ser batizado, confirmando-se a sua conversão ao cristianismo (Atos, 8: 26-40.)A passagem registrada pelo terceiro evangelista leva-nos a pensar a respeito da importância do estudo em grupo, onde o mais experiente e detentor de mais conhecimentos auxilia o neófito na leitura e compreensão dos ensinamentos de Jesus, á luz do Espiritismo.


Embora a Codificação Kardeciana não apresente a complexidade dos textos bíblicos, não só pela forma didática como foi organizada pelo Mestre de Lion, mas, também, por ter sido escrita em língua viva e moderna, o seu estudo isolado pode apresentar, assim mesmo, dificuldades originadas pelas limitações culturais e pelo atavismo religioso que todos possuímos, por sermos espíritos eternos, com experiências variadas nesse campo. Em razão disso, o estudioso “eremita” somente vê um lado da questão. E quando vislumbra dois, adota aquele que mais se adequa à sua filosofia de vida e o que menos agride as suas convicções. Dessa prática de estudo isolado surgem o que poderíamos chamar de “quistos doutrinários”, ou seja, “espiritismos” dentro do Espiritismo. A essa altura, convém invocar uma lição que a História registrou.


Martinho Lutero, na primeira metade do século XVI, traduziu a Bíblia para a língua Alemã, para que o seu povo pudesse lê-la, pois até então só existia no Latim. A partir daí, todos os interessados passaram a lê-la. Mas, ao longo do tempo, verificou-se que a leitura feita isoladamente gerou o que Munford chamou de “fissiparidade do protestantismo”, ou seja, a divisão sucessiva do organismo gerador em vários outros. Analisando o fenômeno ele diz: “Cada homem podia ler a Bíblia sozinho, uma vez que a invenção da imprensa viera permitir a multiplicação do texto; cada um podia interpretar a Bíblia a sua maneira (...). Interpretavam a Bíblia já no sentido figurado, já no sentido literal: e cada qual encontrava nela o que queria”.[1] Em virtude de tal procedimento, surgiram várias correntes protestantes. Para impedir a proliferação de seitas, os luteranos chegaram à conclusão que a Bíblia teria que ser interpretada pela comunidade religiosa e não mais somente pelo “espírito santo”, através de quem a lê, como queria Lutero, nas origens do movimento reformista.[2]


A importância do estudo no seio do Espiritismo está mais do que comprovada. Não foi sem razão que o Espírito de Verdade nos deixou este ensinamento lapidar: “Espíritas! Amai-vos, este é o primeiro mandamento; INSTRUI-VOS, este é o segundo”. Sabia ele que fora a falta de conhecimento e estudo dos textos evangélicos, que levou o homem a se distanciar do verdadeiro espírito dos ensinamentos do Mestre Jesus. Estava implícito, também, no bojo desses mandamentos a preocupação com a expansão da Doutrina nascente.


André Luiz, em “Opinião Espírita”, lição 29, coloca entre os vinte modos de perturbarmos a marcha do Espiritismo o “negar-se ao estudo”... A casa espírita que não se dedica ao estudo sério e sistematizado da Doutrina, não somente dificulta a sua expansão como não exerce a sua real função de esclarecer as consciências, para que se libertem e iniciem a sua caminhada evolutiva.


Para se compreender melhor a preocupação dos Espíritos com o estudo e sua relação com a evolução espiritual, Kardec fez a seguinte pergunta ao Espírito de Verdade:


“- Como o progresso intelectual pode conduzir ao progresso moral?”


Resposta: “- Fazendo compreender o bem e o mal: o homem, então, pode escolher. O desenvolvimento do livre arbítrio segue o desenvolvimento da inteligência e aumenta a responsabilidade dos atos”.


Poder escolher é o grande começo para todos nós. O fim do homem é realizar, pelo exercício de sua liberdade, a perfeição de sua natureza pelo uso correto do livre arbítrio O Espiritismo, mais do que qualquer outra filosofia ou religião, possui os postulados para orientar quem quer que seja nessa empreitada. Cabe aos seus adeptos mais esclarecidos a tarefa de passar com eficiência e responsabilidade seus conhecimentos. Para isso é necessário democratizar o ensino, implantando o Estudo Sistematizado da Doutrina, fazendo uso de técnicas didáticas modernas e participativas, excluindo o “mestre”, detentor do conhecimento e da razão, valorizando a capacidade criadora de todos os frequentadores do estudo. Os que sabem mais orientam os que sabem menos; coordenam a atividade e orientam no sentido da consulta às Obras Básicas, cuidando para não transformar a reunião de estudo em palestra.


Encerremos os nossos comentários dando a palavra ao Codificador, na Introdução de “O Evangelho Segundo o Espiritismo”:


“Toda gente admira a moral evangélica; todos lhe proclamam a sublimidade e a necessidade; muitos, porém, assim se pronunciam por fé, confiados no que ouviram dizer, ou firmados em certas máximas que se tornaram proverbiais. Poucos, no entanto, a conhecem a fundo e menos ainda são os que a compreendem e lhe sabem deduzir as conseqüências.”


Refletindo, demoradamente, sobre essas palavras do Codificador, concluiremos que sem estudar o Espiritismo não entenderemos o Cristianismo tal como Jesus nos deixou.
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[1] MUNFORD, Lewis. “A Condição de Homem”. Editora Globo, 1956, pag. 221.
[2] WILGES, Irineu. “Cultura Religiosa”, Editora Vozes, Rio de Janeiro, 1985, 6ª edição, pag. 84/85





quinta-feira, 5 de agosto de 2010

COMUNICADO DA FEDERAÇÃO ESPIRITA BRASILEIRA SOBRE O CENSO DO IBGE!!

Considerando que, segundo informações, o Instituto Brasileiro de Geografia Estatística – IBGE, na pesquisa destinada ao Censo demográfico nacional caracterizou os espíritas como Kardecistas;

Considerando que a Federação Espírita Brasileira – FEB, não foi consultada por aquele órgão sobre o assunto;
Considerando que a esta altura, não há tempo hábil de tentar mudar programação estabelecida pelo IBGE;
Considerando ainda que a pesquisa nacional já se encontra em curso;

RECOMENDAMOS A TODOS OS ESPIRITAS QUE, AO SEREM CONSULTADOS PELOS PESQUISADORES DO IBGE E VISANDO A INCLUSÃO DE TODOS NA CONTAGEM QUE SE REALIZA, DECLAREM-SE KARDECISTAS, UMA VEZ QUE NO FORMULÁRIO DO CENSO NÃO FOI REGISTRADA A PALAVRA ESPÍRITA.

Brasília, 02 de agosto de 2010-08-02
Federação Espírita Brasileira
Nestor João Masotti
Presidente

ATENÇÃO ESPIRITAS!!!

ATENÇÃO ESPÍRITAS OU KARDECISTAS?
Encaminhado para o BLOG pela Coordenadora Adriana Casé.

Recebi interessante informação sobre o recenseamento do IBGE/2010:
"Como já é de conhecimento de muitos, a partir do dia 2 de agosto o IBGE iniciará o CENSO 2010. Nesta atividade, todas as residências do território brasileiro serão visitadas por um agente do IBGE que aplicará um dos seguintes questionários:
Básico: Um questionário curto e rápido
Amostra: Um questionário bem maior, que durará em torno de 50 minutos sua aplicação.
Neste último constará uma pergunta, cuja resposta é de fundamental importância para nós Espíritas. A pergunta é: Qual a sua religião?
Claro, que muitos de nós responderemos: ESPIRITA.
Infelizmente, se respondermos assim, seremos cadastrados como SEM OPÇÃO RELIGIOSA.
É que para o IBGE, o termo ESPIRITISMO é considerado genérico, ou seja, pode se referir a toda religião, culto ou seita que envolva questões do campo da mediunidade. Nós sabemos que muitas pessoas adeptas da Umbanda, por exemplo, se consideram Espíritas umbandistas e o mesmo equivoco ocorre com outras denominações como espírita esotérico, espírita de mesa, etc. O fato é que ao invés de respondermos ESPÍRITAS, temos que responder KARDECISTAS, pois é esta a denominação dada pelo IBGE ao que para nós é simplesmente ESPÍRITA. O mesmo acontece com aqueles que responderem CATÓLICO ou EVANGÉLICO, os quais, para o IBGE, também são considerados termos genéricos e serão cadastrados como “Sem opção religiosa”.
Quem estuda a Doutrina Espírita reconhece o equívoco do IBGE, que na intenção de diferenciar determinadas práticas e jeitos de pensar, adotou termos mais específicos, para eles, como kardecista.


CUIDADO: Ao responder o questionamento do recenseador não digam ESPÍRITA e esperem o recenseador perguntar mais detalhes, pois ele não perguntará. A pergunta é direta e a resposta deverá ser uma só.


O problema nisso tudo é que esta visão do IBGE ao cadastrar tais informações trás grandes possibilidades de obter dados que não condizem com a nossa realidade. Neste caso é importante que digamos que somos “kardecistas” , mas algo deve ser feito perante essa situação, alguma mobilização, não que os termos venham a ser corrigidos desde já, pois não há tempo para isso, mas para que daqui a 10 anos, nos próximos Censos o mesmo equívoco não continue..."
Sobre as palavras "Espírita ou Kardecista" escrevemos um artigo conforme consta no artigo abaixo:


ESPIRITISMO, ESSA PALAVRA ESTÁ DESGASTADA? QUE TAL "DOUTRINA DOS ESPÍRITOS" OU "KARDECISMO"?


O questionamento que intitula este texto foi enviado a mim por um leitor dos artigos relacionados no site Em verdade, há muitos confrades que têm identificado o gravíssimo desgaste da palavra "espiritismo" e sugerem a sua modificação para "Doutrina dos Espíritos", ou "Doutrina Espírita", ou até mesmo "Kardecismo" (e seus derivados), que são termos que vêm sendo popularizados no Brasil devido, justamente, ao místico sincretismo religioso, que remete as pessoas a confundirem espiritismo com ocultismo, esoterismo, exoterismo, teosofia, orientalismo, umbandismo, xamanismo, exorcismo e outros similares, por isso é comum ouvirmos de alguns adeptos: "sou kardecista". (!?).