(Sociedade de Paris, 10 de maio de 1867 – Médium: Sr. Morin, em sonambulismo espontâneo)
“Em todos os tempos os homens têm sido orgulhosos; é um vício
constitucional, inerente à sua natureza. O homem – falo do sexo – o homem,
forte pelo desenvolvimento de seus músculos, pelas concepções um tanto ousadas
de seus pensamentos, não levou em conta a fraqueza a que se faz alusão nas
santas Escrituras, fraqueza que fez a desgraça de toda a sua descendência.
Julgou-se forte e serviu-se da mulher, não como de uma companheira, de uma
família, mas dela se servindo do ponto de vista puramente bestial,
transformando-a num animal bastante agradável e acostumando-a a manter
respeitosa distância do senhor. Mas como Deus não quis que uma metade da
Humanidade fosse dependente da outra, não fez duas criações distintas: uma para
estar constantemente a serviço da outra. Quis que todas as suas criaturas
pudessem participar do banquete da vida e do infinito na mesma proporção.
“Nesses cérebros, por tanto tempo mantidos afastados de toda
ciência como impróprios a receber os benefícios da instrução, Deus fez nascer,
como contrapeso, astúcias que põem em xeque as forças do homem. A mulher é
fraca, o homem é forte, concebe-se; mas a mulher é astuciosa e a ciência contra
a astúcia nem sempre triunfa. Se fosse a verdadeira ciência, ela a venceria;
mas é uma ciência falsa e incompleta, e a mulher facilmente encontra o seu
calcanhar de Aquiles. Provocada pela posição que lhe era dada, a mulher
desenvolveu o germe que sentia em si; a necessidade de sair do seu aviltamento
lhe deu o desejo de romper suas cadeias. Segui sua marcha; tomai-a desde a era
cristã e observai-a: vê-la-eis cada vez mais dominante, mas ela não consumiu
toda a sua força; conservou-a para tempos mais oportunos e aproxima-se a época
em que chegará a sua vez de a exibir. Aliás, a geração que se ergue traz em
seus flancos a mudança que nos é anunciada desde muito tempo, e a mulher atual
quer ter, na sociedade, um lugar igual ao do homem.
“Observai bem; olhai os interiores e vede quanto a mulher tende a
libertar-se do jugo; ela reina como senhora, por vezes como déspota. Vós a
tivestes vergada por muito tempo; ela se empertiga como uma mola comprimida que
se distende, pois começa a compreender que é chegada a sua hora.
“Pobres homens! Se refletísseis que os Espíritos não têm sexo;
que aquele que hoje é homem pode ser mulher amanhã; que escolhem
indiferentemente, e por vezes de preferência, o sexo feminino, antes deveríeis
regozijar-vos que vos afligir com a emancipação da mulher, e admiti-la no
banquete da inteligência, abrindo-lhe de par em par todas as portas da Ciência,
porque ela tem concepções mais finas, mais suaves, toques mais delicados que os
do homem. Por que a mulher não poderia ser médica? Não é chamada naturalmente a
prodigalizar cuidados aos doentes, e não os daria com mais inteligência se
tivesse os conhecimentos necessários? Não há casos em que, quando se trata de
pessoas de seu sexo, seria preferível uma médica? Muitas mulheres não têm dado
provas de sua aptidão por certas ciências? da finura de seu tato nos negócios?
Por que, então, os homens reservariam para si o monopólio, senão por medo de
vê-las ganhar em superioridade? Sem falar das profissões especiais, a primeira
profissão da mulher não é a de mãe de família? Ora, a mãe instruída é mais apta
para dirigir a instrução e a educação de seus filhos; ao mesmo tempo que
alimenta o corpo, pode desenvolver o coração e o espírito. Sendo a primeira
infância necessariamente confiada aos cuidados da mulher, quando esta for
instruída a regeneração social terá dado um passo imenso, e é o que será feito.
“A igualdade do homem e da mulher teria ainda outro resultado.
Ser senhor, ser forte, é muito bom; mas é, também, assumir grande
responsabilidade. Partilhando o fardo dos negócios da família com uma
companheira capaz, esclarecida, naturalmente devotada aos interesses comuns, o
homem alivia a sua carga e diminui sua responsabilidade, ao passo que a mulher,
estando sob tutela e, por isto mesmo, num estado de submissão forçada, não tem
voto na matéria senão quando o homem houver por bem condescender em lho dar.
“Diz-se que as mulheres são muito tagarelas e muito frívolas;
mas, de quem a falta, senão dos homens que não lhes permitem a reflexão?
Dai-lhes o alimento do espírito, e elas falarão menos; meditarão e refletirão.
Acusai-as de frivolidade? Mas o que é que elas têm a fazer? – falo sobretudo da
mulher do mundo – Nada, absolutamente nada. Em que ela pode ocupar-se? Se
reflete e transcreve seus pensamentos, tratam-na ironicamente de mulher pedante.
Se cultiva as ciências ou as artes, seus trabalhos não são levados em
consideração, salvo raríssimas exceções e, contudo, como o homem, ela precisa
de emulação. Lisonjear um artista é dar-lhe tom e coragem; mas, para a mulher,
isto realmente não vale a pena! Então lhes resta o domínio da frivolidade, no
qual elas podem estimular-se entre si. “Que o homem destrua as barreiras que
seu amor-próprio opõe à emancipação da mulher e logo a verá alçar o seu vôo,
com grande vantagem para a sociedade. Ficai sabendo que a mulher, como todos
vós, tem a centelha divina, porque a mulher é vós, como vós sois a mulher.”
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Paz e Alegria! Sua contribuição é muito importante para nosso aprendizado! Compartilhe suas idéias! Sugira novas fontes de pesquisa,filmes, livros,videos sobre o tema!