As Dores da Alma
Francisco do Espírito Santo Neto
Pelo espírito Hammed
No Evangelho de Lucas, capítulo VI, versículo 42, o Mestre propõe:
“Hipócrita, tira primeiro a trave do teu olho e, então, verás bem para tirar o
argueiro que está no olho do teu irmão.”
Por projeção psicológica entende-se a atitude de perceber nos
outros, com certa facilidade, nossos conflitos e dificuldades, com recusa, no
entanto, de vê-los em nós mesmos.
Dependendo do grau de distorção que fazemos dos fatos, para atender
a nossas teorias e irrealidades, é que se inicia em nossa intimidade o processo
da paranoia. Os paranoicos possuem uma característica peculiar: relacionam
qualquer acontecimento do mundo consigo mesmos, ou, melhor dizendo, desvirtuam
a realidade dos fatos, trazendo para o nível pessoal tudo o que ocorre em sua
volta.
Quanto mais conscientizada for a criatura, tanto mais entende a
ordem das coisas e mais as questionará em seu simbolismo. Estar perfeitamente
harmonizado e centrado em tudo o que existe é o requisito primordial para
atingirmos a plenitude da vida.
Tudo o que criticarmos, veementemente, no exterior encontraremos
em nossa intimidade. Isso nos leva a entender que o ambiente em que vivemos é,
em verdade, um espelho onde nos vemos exata e realmente como somos.
Se, na exterioridade, algo de inoportuno estiver ocorrendo conosco
ou chamando muito a nossa atenção, é justamente porque ainda não estamos em
total harmonia na interioridade. Significa que devemos analisar melhor e
estudar ainda mais a área correspondente ao nosso mundo íntimo.
Vejamos o que dizem os Embaixadores do Bem sobre quem analisa os
defeitos alheios: “Incorrerá em grande culpa, se o fizer para os criticar e
divulgar porque será faltar com a caridade. Se o fizer para tirar daí proveito,
para evitá-los, tal estudo poderá ser-lhe de alguma utilidade...” (13)
Todas as maldades e eventos desagradáveis que visualizamos fora
são somente mensageiros ou intermediários que tomam consciente a nossa parte
inconsciente. Tudo o que, realmente, estamos vivenciando no presente é tudo
aquilo que estamos precisando neste momento.
Lemos a respeito de um assunto e logo atraímos criaturas que
também se interessam pelo mesmo tema. Impressionamo-nos com um artigo de
revista e, logo em seguida, sem nunca comentar esse fato com ninguém, aparecem
pessoas nos presenteando com livros que abrangem essa matéria.
Esse encadeamento de fatos ou “elos do acaso” tem sua razão de
ser, pois se baseia na lei das atrações ou das afinidades. Portanto, todo
conhecimento, informação, acontecimento ou aproximação de que verdadeiramente
precisamos, por certo, vivenciaremos.
“... Antes de censurardes as imperfeições dos outros, vede se de
vós não poderão dizer o mesmo...” ([1])
Nossas afirmações diante da vida retomarão sempre de maneira
inequívoca. Carmas são estruturados não somente sobre nossos feitos e atitudes,
mas também sobre nossas sentenças e juízos, críticas e opiniões.
Os efeitos sonoros do eco são reflexões de ondas que incidem sobre
um obstáculo e retomam ao ponto de origem. Analogamente, poderemos entender o
mecanismo espiritual de funcionamento da lei de ação e reação em nossas
existências. Atos ou palavras, repetidas sucessivamente, voltarão ecoando sobre
nós mesmos; são “veredictos” resultantes de nossas apreciações e estimativas
vivenciais.
Todas as nossas suspeitas sistemáticas têm raízes na falta de
confiança em nós mesmos, e não nos outros. Por isso:
— se criticamos o comportamento sexual alheio, podemos estar
vivendo enormes conflitos afetivos dentro do próprio lar.
— se tememos a desconsideração, é possível termos desconsiderado
alguma coisa muito significativa dentro de nossa intimidade;
— se desconfiamos de que as pessoas querem nos controlar,
provavelmente não estamos na posse do comando de nossa r vida interior;
— se condenamos a hipocrisia dos outros, talvez não estejamos
sendo leais com nossas próprias vocações e ideais;
Projetar nossas mazelas e infortúnios sobre alguma coisa ou pessoa
não resolve a nossa problemática existencial. Somente quando reconhecermos
nossas “traves” — dispositivos interiores que limitam nossa marcha evolutiva —
é que poderemos ver com lucidez que, realmente, são elas as verdadeiras fontes
de infelicidade, que nos distanciam da paz e da harmonia que tanto buscamos.
Os dicionários definem crítica como sendo um exame detalhado que
visa a salientar as qualidades ou os defeitos do objeto a ser julgado. É comum
encontramos alguém criticando o trabalho de outro sem tê-lo vivenciado
pessoalmente, isto é, desaprovando o que nem sequer tentou fazer. Tudo isso faz
parte da incoerência humana.
A crítica nociva é característica de indivíduos que não realizam
nada de importante, não enfrentam desafios nem se arriscam a mudanças. Ficam
sentados, observando o que as pessoas dizem, fazem e pensam para, depois,
filosofar improdutivamente sobre as realizações alheias, usando suas elucubrações
dissociadas do equilíbrio. As discordâncias são perfeitamente saudáveis e
normais, desde que estejam fundamentadas em fatos concretos e não nos vapores
das suposições ou das projeções da consciência.
Há quem diga que a crítica é profissionalizada, por ser um meio
fácil e rentável para destacar os incapazes e inabilidosos, tomando-os pessoas
importantes e formidáveis. Porém, não por muito tempo.
Os verdadeiros realizadores deste mundo não têm tempo para
censuras e condenações, pois estão sempre muito ocupados na concretização de
suas tarefas. Ajudam os fracos e inexperientes, ensinando os que não são
talentosos, em vez de maldizê-los.
A crítica pode ser construtiva e útil. Cada um de nós pode,
livremente, optar entre o papel de ironizar e o de realizar.
A crítica pode ser empregada como forma de inocentar-nos da
responsabilidade de nossa própria ineficiência e de atribuir nossas frustrações
e fracassos aos que, realmente, são criativos e originais.
Em verdade, para se viver com equilíbrio mental, emocional e
social, é necessário, acima de tudo, respeitar os direitos dos outros, assim
como queremos que os nossos sejam respeitados.
De acordo com o pensamento da Espiritualidade Maior: “Da
necessidade que o homem tem de viver em sociedade, nascem-lhe obrigações
especiais (...) a primeira de todas é a de respeitar os direitos de seus
semelhantes (...) Em o vosso mundo, porque a maioria dos homens não pratica a
lei de justiça, cada um usa de represálias. Essa a causa da perturbação e da
confusão em que vivem as sociedades humanas.” ([2])
As “represálias” evidenciadas nesta questão podem ser i
consideradas como as desforras ou as vinganças que, comumente, os indivíduos
fazem através de críticas, injúrias, sátiras e depreciações. Nesse tema, é
oportuno ressalvar que, em muitas ocasiões, em decorrência das emoções patológicas,
é perfeitamente possível pessoas sentirem-se humilhadas, vendo atitudes de
arrogância e insulto onde não existem.
No mundo interior dos críticos implacáveis, pode existir uma
intimidação, originalmente adquirida na infância, em virtude da autoridade e
ameaça dos pais. Vozes do passado eco em suas mentes, solicitando,
insistentemente, que sejam “pontuais e infalíveis”, “exatos e bem informados”,
“super-responsáveis e controlados”.
As exigências do pretérito criaram-lhes um padrão de comportamento
mental, caracterizado por constante cobrança e acusação, fazendo com que
projetem tudo isso sobre os outros. O medo de cometerem erros e o fato de
desconfiarem de si mesmos, conferem-lhes uma existência ambivalente. Vivem, ao
mesmo tempo, entre a sensação de perseguição e a de superioridade. Além do
mais, quem critica imagina-se sensacional e em vantagem.
Desesperadamente, observam e desconfiam de si mesmos. Exteriorizam
e transferem toda essa sensação de autoacusação, condenando os outros. Essa
operação emocional funciona como uma válvula de escape, a fim de compensar a
autoperseguição e aplacar as cobranças convulsivas do seu mundo interior.
Os críticos são especialistas em detectar e resolver os problemas
que não lhes dizem respeito, mas, contrariamente, possuem uma grave dificuldade
em aceitar a sua própria problemática existencial.
A Lei Divina nos dá o livre-arbítrio para escolhermos e
concretizarmos nosso programa de aprendizagem, ou seja, livre opção para
elegermos o caminho a ser percorrido, para expandirmos nossa consciência. O
plano de instrução nos oferecerá duas possibilidades básicas, a saber: a aprendizagem
consciente e a inconsciente.
A aprendizagem consciente é aquela em que estamos prontos para
agir e resolver as coisas, mediante uma assimilação atuante ou uma participação
voluntária.
A aprendizagem inconsciente é a que entrará em vigor,
automaticamente, quando desprezamos, conscientemente, a resolução e compreensão
do nosso roteiro de instrução. Em resumo: o sofrimento sempre entra em ação,
quando não aprendemos espontaneamente.
O crítico, por vigiar e espreitar sem interrupção os problemas
alheios, permanece inconsciente e imobilizado em relação à própria aprendizagem
evolucional; portanto, sua possibilidade de integralizar novos conceitos e
experiências é quase nula. Quanto mais ele projeta a culpa e a acusação ao
mundo exterior, recusando cumprir sua aprendizagem conscientemente, mais
sofrerá com os reflexos de suas atitudes. Jesus Cristo, conhecendo os traços de
caráter da humanidade terrena em evolução, advertiu-os: “Ouvi-me, vós todos, e
compreendei. Nada há, fora do homem, que, entrando nele, o possa contaminar;
mas o que sai dele, isso é que contamina o homem.” ([3])
A tendência em julgar e criticar os outros, com intenção maldosa, recebe a
denominação de malícia; em outras palavras, o indivíduo nessas condições vê os
outros com os olhos da “própria maldade”.
[1] Questão
903 – Incorre em culpa o homem, por estudar os defeitos alheios?
“Incorrerá em
grande culpa, se o fizer para os criticar e divulgar; porque será faltar com a
caridade. Se o fizer; para tirar daí proveito, para evitá-los, tal estudo
poderá ser-lhe de alguma utilidade. Importa, porém, não esquecer que a
indulgência para com os defeitos de outrem é uma das virtudes contidas na
caridade. Antes de censurardes as imperfeições dos outros, vede se de vós não
poderão dizer o mesmo. Tratai, pois, de possuir as qualidades opostas aos
defeitos que criticais no vosso semelhante. Esse o meio de vos tornardes
superiores a ele. Se lhe censurais o ser avaro, sede generosos; se o ser
orgulhoso, sede humildes e modestos; se o ser áspero, sede brandos; se o
proceder com pequenez, sede grandes em todas as vossas ações. Numa palavra,
fazei por maneira que se não vos possam aplicar estas palavras de Jesus: “Vê o
argueiro no olho do seu vizinho e não vê a trave no seu próprio.”
[2] Questão 871 – Da necessidade que o homem tem de viver em sociedade, nascem-lhe
obrigações especiais?
“Certo e a primeira de todas é a de respeitar os
direitos de seus semelhantes. Aquele que respeitar esses direitos procederá
sempre com justiça. Em o vosso mundo, porque a maioria dos homens não pratica a
lei de justiça, cada um usa de represálias. Essa a causa da perturbação e da
confusão em que vivem as sociedades humanas. A vida social outorga direitos e
impõe deveres recíprocos.”
[3] Marcos 7: 4 e 15
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