domingo, 3 de março de 2013

Resenha Crítico-informativa - Diálogo com as sombras (teoria e prática da doutrinação




Miranda, Hermínio C.. Diálogo com as sombras (teoria e prática da doutrinação). 22ª edição.  Rio de Janeiro, RJ: Federação Espírita Brasileira, 2006. 296 páginas.

                        Este livro consta de apresentação, feita por Francisco Thiensen, presidente da FEB em 1979, e está dividido em introdução e quatro seções (a instrumentação, as pessoas, o campo de trabalho e técnicas e recursos) todas voltadas para a instituição e prática de grupos mediúnicos de labor evangélico. Aqui o autor nos apresenta um relato detalhado de suas vivências na prática de doutrinação na seara espírita, tecendo um comentário de base doutrinária séria, mas com a simplicidade de quem aprendeu através da vivência, do trabalho com amor e dedicação, tornando a leitura acessível a todos.


*      Reflexões...

      Muitos são os que ingressam no espiritismo atraídos pela fenomenologia mediúnica. Longe de entenderem o papel do intercâmbio espiritual como uma oportunidade de trabalho no amor e de auto-educação, procuram uma forma de encontrar respostas rápidas e prontas. 
      Entretanto o trabalho mediúnico não ocorre de improviso necessitando de preparo tanto da equipe espiritual quanto da equipe terrena. Assim antes de montarmos um grupo mediúnico em uma casa espírita torna-se necessário utilizarmos uma série de procedimentos que nos tornam mais aptos ao trabalho sério e produtivo.
      Tais medidas englobam o estudo prévio de obras doutrinárias como um nivelamento entre os candidatos ao trabalho mediúnico. Muitas casas espíritas adotam o curso de GEM (grupo de estudos mediúnicos) como um curso preparatório para o canditado a trabalhador da seara espiritual. As casas menores podem iniciar o seu trabalho pelo estudo das obras da codificação, complementados pelos acervos de André Luiz, Emanuel, Leon Denis, Hermínio de Miranda, etc. Além disso, convém a ampliação dos conhecimentos gerais dos participantes, sempre sob a ótica de tornar-se um parceiro que pode oferecer arquivos mentais enriquecidos para a utilização da espiritualidade benfeitora.
      O tempo de preparo e estudo deve ser aproveitado para a definição de papéis no grupo mediúnico bem como para sondar as afinidades entre os participantes, pois esse deve vibrar em uníssono durante as sessões de prática mediúnica. Mesmo quando a prática estiver instalada os participantes devem manter-se em vigilância constante, aplicando o Evangelho no Lar, em sua rotina diária e em todos os momentos onde o equilíbrio lhes ameace fugir.
      A definição da linha de trabalho do grupo bem como os papéis exercidos por cada integrante (dirigente, doutrinador, médiuns – passistas, de intercâmbio mediúnico, apoio) devem ficar estabelecidos ao longo do trabalho com exceção do dirigente que se torna responsável pelo andamento do grupo e de seus trabalhos desde o princípio.
      Como todo grupo, aqui encontrar-se-ão reunidos nuances comportamentais diversos muitas vezes exacerbados pelos interesses mediúnicos contrários à execução dos trabalhos de desobsessão e ajuda aos companheiros em cristo, encarnados ou não. Cabe ao dirigente a tarefa de equilibrar sentimentos, apaziguar consciências que fatalmente entrarão em processo de autodescoberta, elevar os ânimos e proceder com todo o empenho para o equilíbrio próprio e do trabalho.
      Já os outros participantes dividem a responsabilidade de tornar o trabalho produtivo, de aperfeiçoarem-se, manterem-se vigilantes contra orgulho, vaidade e outras tantas imperfeições morais que trazem, além de entregarem-se à tarefa com amor e dedicação pautados na mais pura vivência evangélica. “Orai, vigiai e estudai sempre” tal é o lema que motiva o trabalhador do Cristo.
      Hermínio de Miranda recomenda aos médiuns psicofônicos especificamente um controle mais rigoroso de suas auto-análises, pois para estes a manifestação mediúnica é de mais difícil controle, pois que a fala é o mecanismo de relacionamento mais utilizado entre os humanos.
      Refere-se explicitamente ao controle do melindre, da responsabilidade sobre as comunicações, da necessidade de autocontrole, da fixação num só grupo para não sobrecarregar-se fluidicamente com mais de um grupo de desobsessão, Da efetivação da reforma íntima trazendo-a sempre em constante movimento, do uso de vestuário mais confortável e adequado à tarefa, discernimento da qualidade moral do espírito comunicante e a aceitação dos próprios erros.
      Dentre estas recomendações a reforma moral em dinamismo constante me parece englobar todas as outras, pois através dela nos transformamos e fortalecemos para o trabalho. Assim se a executamos num plano de metas sem incorremos a torturas psicológicas nascidas da culpa, do remorso improdutivo e da autopunição, compreendemos nossas limitações embora não acomodamo-nos perante essas, e racionalizamos alternativas de construção de um ser melhor, acabamos com o melindre, procuramos colaborar o melhor possível, comprometemo-nos com a espiritualidade e assim crescemos com o próximo, tudo a sue tempo.
      O trabalho de desobsessão envolve renúncia e coragem para enfrentarmos as nossas imperfeições. Espíritos interessados em lançar sobre nós nossas dúvidas e falhas pretéritas e atuais não faltarão. Este é um recurso muito útil para desestabilizar um trabalhador. Tornamo-nos tão escravos de nossas falhas, do medo de errar que acabamos dormitando nas sombras do remorso improdutivo, tecendo telementações deletérias que nos impossibilitam ao trabalho de assistência e amparo aos irmãos sofredores. Este é um passo necessário ao adiantamento mora,l pois precisamos nos despir de nossas angústias e o único meio é enfrentando-as. Assim como o céu fica mais limpo depois da tempestade, o homem surge renovado depois de cada enfrentamento onde a vitória repousa nas bases sólidas do evangelho cristão.
      À medida que o curso avança e a mediunidade começa a ser exercitada, as resistências vão cedendo e o contato com o mundo espiritual torna-se mais explícito ficando o médium com a sensibilidade mais apurada. Tal fato traz o inconveniente das sensações orgânicas causadas pela aproximação de espíritos tornarem-se mais intensas exigindo um controle maior do médium. Também este fato é questão de ajuste no qual o trabalhador precisa testar as possibilidades de defesa comportamental, mental e sintônica para o convívio amoroso com os irmãos, ensinando-os através de seus atos com mais sucesso do que com simples palavras. Por mais simples que pareça tal aceitação é processual e transforma-se na verdadeira aplicação do amor ensinado por Jesus.
      Não que o médium deva alimentar estes relacionamentos já que necessita voltar-se para a manutenção de suas necessidades da vida material e do aprendizado resultante da convivência com os irmãos encarnados. Mas isto é um fato e fechar os olhos seria ficar desprotegido. A prática do evangelho, a prece e a paciência; a manutenção do equilíbrio e o trabalho de conversão de pensamentos deletérios em positivos são ferramentas de proteção muito úteis que trarão paz mesmo nos momentos de maiores dificuldades.
      Durante a prática mediúnica Hermínio de Miranda nos alerta para a manutenção do equilíbrio emocional, para o controle das comunicações do médium psicofônico o qual participa como meio de comunicação sendo responsável pelos atos exercidos por seu corpo durante a manifestação mediúnica.
      Também nos alerta para o risco de ficarmos mentalmente em diálogo com o espírito comunicante durante a doutrinação, pois assim corremos o risco de confundi-lo, atrapalhamos o trabalho dos mentores espirituais que estão inspirando o doutrinador e muitas vezes ajudamos a perturbar a corrente fluídica que envolve os trabalhadores inferindo a esta uma carga mental contrária.
      O certo é mantermos-nos em prece, dialogar afetivamente com o irmão incitando-o à paciência e ao controle até a chegada do doutrinador e depois ficarmos em prece silenciosa mentalizando luz, conforto e paz para o comunicante, não perdendo de vista o exercício de censura mental aos atos de violência, palavras de baixo calão ou agressões não construtivas. De fato esta postura deve ser construída com a prática, pois na maioria das vezes consumimos bastante energia ao nos concentrarmos nos atos e emoções do comunicante para exercermos o controle necessário contra os abusos sem, no entanto tolhermos a necessidade de expressão do irmão.
      Dentre os perfis psicológicos com os quais o médium psicofônico poderá lidar nos trabalhos de desobsessão encontram-se as vítimas e os perseguidores.
      No primeiro grupo encontram-se aqueles que estão endividados com a Lei universal da fraternidade independentemente do tempo passado entre o ocorrido e o atual resgate e devido a este fato encontra-se colhendo o sofrimento que plantou. Nem por isso é menos digna de apoio e afeto necessitando de uma oportunidade de redenção e libertação para novas perspectivas de aprendizagem.
      Aqui podemos encontrar seres induzidos hipnoticamente a tomarem a forma zooantropiada ou muitas vezes de ovóides. Outros revivem o momento de suas faltas punindo-se em culpas que os arrastam a abrirem mão do livre arbítrio tornando-se prisioneiros de seus perseguidores. A estes devotamos as nossas sinceras mensagens de reconstrução da auto-estima, as lembranças de Deus e de sua providência e justiça que a todos ampara e provém, em necessidades que muitas vezes não percebemos ou compreendemos.
      No segundo grupo encontramos toda uma organização pautada na dor, no terror, na violência e no conhecimento muitas vezes profundo de nossas imperfeições, do espiritismo e da ciência. A tabela abaixo apresenta uma síntese dos tipos mais comuns nas organizações dos reinos das trevas.

Posicionamento na organização
Características
Executores
Têm o status menor na organização sendo efetivamente prisioneiros e dependentes de seus chefes. Fazem o trabalho a nível material de perseguição das vítimas, muitas vezes trocando favores tais como regalias e confortos materiais (sexo, comida, água, proteção) pelo trabalho executado. Sua saída da organização deixa-a inoperante temporariamente.
Juristas
Acreditam-se donos da verdade, na posição de compositores de um processo no qual a vítima será julgada. Mantém relações pretéritas com o ramo do direito, muitas vezes crêem-se estar fazendo o certo. Julgam para não serem julgados.
Materialistas: em duas classes distintas os teóricos e os vivenciais.
Os Teóricos são Espíritos desencantados que se recusam a observar a realidade espiritual na qual se encontram. Perturbados em seu íntimo deixam transparecer uma capa de tranqüilidade e equilíbrio. Tão logo aceitem o fato de sua sobrevivência como espírito tomam caminho diverso. Já os vivenciais são realmente dependentes da matéria tornando-se escravos de seus desejos, vilipendiando tudo o que entram em contato. Estão na infância da humanidade e acrisolam-se em pensamentos individualistas.
Religiosos
Personagens que trazem cravados em si as teorias cristãs, acreditam-se defendendo as idéias do cristo, mas não fazem a reflexão de seus atos frente às verdades evangélicas. Afeitos ao poder associam-se com dirigentes das trevas para suas conquistas.
Dirigentes das trevas
Acenderam ao poder por sua violência e magnetismo, sendo substituídos por um comandado mais próximo em jogos de disputa de poder e que trazem geralmente uma grande perda no passado. Quando se encontram com as verdades espirituais assumem para si a responsabilidade de resgate de seus comandados.
Planejadores
Estrategistas natos gozam de posição de destaque nestas hordas e sua ausência provoca pânico e revolta dentre os seus comandados. É o próprio exercício de seu raciocínio que os atrai. Acreditam-se acima do bem ou do mal e a sua tomada de consciência é bastante dolorosa. Provavelmente fogem deste momento por saberem-no difícil. São frios e trazem um profundo conhecimento das faltas humanas.
Intelectuais
De profundo conhecimento formal, vaidosos, encantam-se com os seus sistemas e idéias. Afeitos a dominar e manipular opiniões; são movidos pelo orgulho. Quando vivenciando um objetivo são obstinados e difíceis de lidar. Fogem do conhecimento evangélico, pois se acreditam incapazes de amar, de externar seus sentimentos. Necessitados de amparo e amor prático para tornarem-se entendedores do real significado desta palavra.
Vingadores
Acreditam-se lesados em seus direitos e tornam-se prisioneiros do ódio que os levam À falsa impressão de poder. Na verdade estão cansados desse sofrimento, mas não enxergam escapatória. Amor e perdão, prece e afeto, são bálsamos consoladores.
Magos e feiticeiros
Conhecedores dos fenômenos e leis que regem a natureza, estudiosos da psique humana, agem em diversas frentes diferenciando-se por os primeiros conhecerem e produzirem conhecimentos e os segundos apenas repetirem o que lhes foi ensinado. Quando no trabalho do bem os Magos representam ajuda preciosa nas mediúnicas de desobsessão, protegendo a equipe e sinalizando a possibilidade de um conhecimento maior: o amor
Magnetizadores e hipnotizadores
Possuem o conhecimento para impor monoidéias em suas vítimas induzindo-as a tomar formas grotescas, mutiladas, zooantropiadas, etc. Nas lides do bem auxiliam nos processos de cura e de redução do perispírito para a reencarnação.
Mulheres
Geralmente vêem à mediúnica para amparar entes queridos, mas podemos encontrá-las presas em processos de vingança, nas obsessões ligadas ao sexo desregrado, etc.

      Todos os irmãos que se manifestam nas mediúnicas, que pertencem a um dos grupos mencionados na tabela acima, trazem para o médium psicofônico uma carga fluídica intensa o que torna necessário o cuidado mais rígido com a saúde, com a alimentação e o preparo mental a fim de manter a energia disponível para a manifestação mediúnica na qualidade necessária para levar ao irmão um choque fluídico positivo. Além disso, a massa fluídica deletéria emanada do manifestante provoca impactos no organismo do médium que são mais facilmente sanados na proporção em que este cuida de sua saúde.
      O fato é que o trabalho mediúnico defronta-se com idéias e imperfeições morais nas quais os manifestantes, tanto quanto nós, construíram as suas realidades e que os afastam das verdades cristãs. Poder, glória, posse, desejos matérias, vingança, entre outros, aprisionam os indivíduos que se mantém acrisolados neste universo de intolerância e insegurança. Aqui o amor trabalha e nos brinda com o aprendizado e observação da providência divina em ação pois que todos, sem exceção, têm um ser que ora por sua proteção e amparo, todos têm a oportunidade de avançar rumo a um futuro de liberdade e colaboração no amor fraternal.
      Assim como os manifestantes as lições são muito significativas para todos os que trabalham no grupo mediúnico, pois que a lei de afinidades nos lembra a todo instante que somos passíveis dos mesmos enganos e que assim como Deus estende a mão através de nós para o resgate e amparo destes irmãos, Ele também nos ama e nos protege, até de nós mesmos, resguardando-nos de todos os males desnecessários à nossa educação espiritual.
      Assim façamos a nossa parte, estudando e amando, construindo um mundo melhor internamente que o ambiente em que vivemos naturalmente se transformará. Confiança em Deus e nos trabalhadores espirituais com os quais colaboramos humildemente no trabalho edificante da seara do Cristo.
Fiquemos em Paz
http://pt.scribd.com/doc/58329148/Resenha-Critica-dialogo-com-as-sombras!

2 comentários:

  1. Muito bem explicado, estou lendo pela primeira vez um artigo da Juventude Espírita e os parabeniza pela contribuição ao espiritismo.
    Quem ler este resumo recomendo que leiam o livro Dialogo com as Sombras na íntregra e varias vez .
    Que a Luz de Jesus continue os abençoado.

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  2. Boa Tarde gostaria de parabenizar pelo belo blog e seus ensinamentos grato

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