Miranda, Hermínio
C.. Diálogo com as sombras (teoria e
prática da doutrinação). 22ª edição. Rio de Janeiro, RJ: Federação Espírita
Brasileira, 2006. 296 páginas.
Este livro consta de apresentação,
feita por Francisco Thiensen, presidente da FEB em 1979, e está dividido em
introdução e quatro seções (a instrumentação, as pessoas, o campo de trabalho e
técnicas e recursos) todas voltadas para a instituição e prática de grupos
mediúnicos de labor evangélico. Aqui o autor nos apresenta um relato detalhado
de suas vivências na prática de doutrinação na seara espírita, tecendo um
comentário de base doutrinária séria, mas com a simplicidade de quem aprendeu
através da vivência, do trabalho com amor e dedicação, tornando a leitura acessível
a todos.
Reflexões...
Muitos são os que ingressam no espiritismo
atraídos pela fenomenologia mediúnica. Longe de entenderem o papel do
intercâmbio espiritual como uma oportunidade de trabalho no amor e de
auto-educação, procuram uma forma de encontrar respostas rápidas e prontas.
Entretanto o trabalho mediúnico não ocorre
de improviso necessitando de preparo tanto da equipe espiritual quanto da
equipe terrena. Assim antes de montarmos um grupo mediúnico em uma casa
espírita torna-se necessário utilizarmos uma série de procedimentos que nos
tornam mais aptos ao trabalho sério e produtivo.
Tais medidas englobam o estudo prévio de
obras doutrinárias como um nivelamento entre os candidatos ao trabalho
mediúnico. Muitas casas espíritas adotam o curso de GEM (grupo de estudos
mediúnicos) como um curso preparatório para o canditado a trabalhador da seara
espiritual. As casas menores podem iniciar o seu trabalho pelo estudo das obras
da codificação, complementados pelos acervos de André Luiz, Emanuel, Leon
Denis, Hermínio de Miranda, etc. Além disso, convém a ampliação dos
conhecimentos gerais dos participantes, sempre sob a ótica de tornar-se um
parceiro que pode oferecer arquivos mentais enriquecidos para a utilização da
espiritualidade benfeitora.
O tempo de preparo e estudo deve ser
aproveitado para a definição de papéis no grupo mediúnico bem como para sondar
as afinidades entre os participantes, pois esse deve vibrar em uníssono durante
as sessões de prática mediúnica. Mesmo quando a prática estiver instalada os
participantes devem manter-se em vigilância constante, aplicando o Evangelho no
Lar, em sua rotina diária e em todos os momentos onde o equilíbrio lhes ameace
fugir.
A definição da linha de trabalho do grupo
bem como os papéis exercidos por cada integrante (dirigente, doutrinador,
médiuns – passistas, de intercâmbio mediúnico, apoio) devem ficar estabelecidos
ao longo do trabalho com exceção do dirigente que se torna responsável pelo
andamento do grupo e de seus trabalhos desde o princípio.
Como todo grupo, aqui encontrar-se-ão
reunidos nuances comportamentais diversos muitas vezes exacerbados pelos
interesses mediúnicos contrários à execução dos trabalhos de desobsessão e
ajuda aos companheiros em cristo, encarnados ou não. Cabe ao dirigente a tarefa
de equilibrar sentimentos, apaziguar consciências que fatalmente entrarão em
processo de autodescoberta, elevar os ânimos e proceder com todo o empenho para
o equilíbrio próprio e do trabalho.
Já os outros participantes dividem a
responsabilidade de tornar o trabalho produtivo, de aperfeiçoarem-se, manterem-se
vigilantes contra orgulho, vaidade e outras tantas imperfeições morais que
trazem, além de entregarem-se à tarefa com amor e dedicação pautados na mais
pura vivência evangélica. “Orai, vigiai e estudai sempre” tal é o lema que
motiva o trabalhador do Cristo.
Hermínio de Miranda recomenda aos médiuns
psicofônicos especificamente um controle mais rigoroso de suas auto-análises,
pois para estes a manifestação mediúnica é de mais difícil controle, pois que a
fala é o mecanismo de relacionamento mais utilizado entre os humanos.
Refere-se explicitamente ao controle do
melindre, da responsabilidade sobre as comunicações, da necessidade de
autocontrole, da fixação num só grupo para não sobrecarregar-se fluidicamente
com mais de um grupo de desobsessão, Da efetivação da reforma íntima trazendo-a
sempre em constante movimento, do uso de vestuário mais confortável e adequado
à tarefa, discernimento da qualidade moral do espírito comunicante e a aceitação
dos próprios erros.
Dentre estas recomendações a reforma moral
em dinamismo constante me parece englobar todas as outras, pois através dela
nos transformamos e fortalecemos para o trabalho. Assim se a executamos num
plano de metas sem incorremos a torturas psicológicas nascidas da culpa, do
remorso improdutivo e da autopunição, compreendemos nossas limitações embora
não acomodamo-nos perante essas, e racionalizamos alternativas de construção de
um ser melhor, acabamos com o melindre, procuramos colaborar o melhor possível,
comprometemo-nos com a espiritualidade e assim crescemos com o próximo, tudo a
sue tempo.
O trabalho de desobsessão envolve renúncia
e coragem para enfrentarmos as nossas imperfeições. Espíritos interessados em
lançar sobre nós nossas dúvidas e falhas pretéritas e atuais não faltarão. Este
é um recurso muito útil para desestabilizar um trabalhador. Tornamo-nos tão
escravos de nossas falhas, do medo de errar que acabamos dormitando nas sombras
do remorso improdutivo, tecendo telementações deletérias que nos impossibilitam
ao trabalho de assistência e amparo aos irmãos sofredores. Este é um passo
necessário ao adiantamento mora,l pois precisamos nos despir de nossas
angústias e o único meio é enfrentando-as. Assim como o céu fica mais limpo
depois da tempestade, o homem surge renovado depois de cada enfrentamento onde
a vitória repousa nas bases sólidas do evangelho cristão.
À medida que o curso avança e a
mediunidade começa a ser exercitada, as resistências vão cedendo e o contato com
o mundo espiritual torna-se mais explícito ficando o médium com a sensibilidade
mais apurada. Tal fato traz o inconveniente das sensações orgânicas causadas
pela aproximação de espíritos tornarem-se mais intensas exigindo um controle
maior do médium. Também este fato é questão de ajuste no qual o trabalhador
precisa testar as possibilidades de defesa comportamental, mental e sintônica
para o convívio amoroso com os irmãos, ensinando-os através de seus atos com
mais sucesso do que com simples palavras. Por mais simples que pareça tal
aceitação é processual e transforma-se na verdadeira aplicação do amor ensinado
por Jesus.
Não que o médium deva alimentar estes
relacionamentos já que necessita voltar-se para a manutenção de suas
necessidades da vida material e do aprendizado resultante da convivência com os
irmãos encarnados. Mas isto é um fato e fechar os olhos seria ficar
desprotegido. A prática do evangelho, a prece e a paciência; a manutenção do
equilíbrio e o trabalho de conversão de pensamentos deletérios em positivos são
ferramentas de proteção muito úteis que trarão paz mesmo nos momentos de
maiores dificuldades.
Durante a prática mediúnica Hermínio de
Miranda nos alerta para a manutenção do equilíbrio emocional, para o controle
das comunicações do médium psicofônico o qual participa como meio de
comunicação sendo responsável pelos atos exercidos por seu corpo durante a
manifestação mediúnica.
Também nos alerta para o risco de ficarmos
mentalmente em diálogo com o espírito comunicante durante a doutrinação, pois
assim corremos o risco de confundi-lo, atrapalhamos o trabalho dos mentores
espirituais que estão inspirando o doutrinador e muitas vezes ajudamos a
perturbar a corrente fluídica que envolve os trabalhadores inferindo a esta uma
carga mental contrária.
O certo é mantermos-nos em prece, dialogar
afetivamente com o irmão incitando-o à paciência e ao controle até a chegada do
doutrinador e depois ficarmos em prece silenciosa mentalizando luz, conforto e
paz para o comunicante, não perdendo de vista o exercício de censura mental aos
atos de violência, palavras de baixo calão ou agressões não construtivas. De
fato esta postura deve ser construída com a prática, pois na maioria das vezes
consumimos bastante energia ao nos concentrarmos nos atos e emoções do
comunicante para exercermos o controle necessário contra os abusos sem, no
entanto tolhermos a necessidade de expressão do irmão.
Dentre os perfis psicológicos com os quais
o médium psicofônico poderá lidar nos trabalhos de desobsessão encontram-se as
vítimas e os perseguidores.
No primeiro grupo encontram-se aqueles que
estão endividados com a Lei universal da fraternidade independentemente do
tempo passado entre o ocorrido e o atual resgate e devido a este fato
encontra-se colhendo o sofrimento que plantou. Nem por isso é menos digna de
apoio e afeto necessitando de uma oportunidade de redenção e libertação para
novas perspectivas de aprendizagem.
Aqui podemos encontrar seres induzidos
hipnoticamente a tomarem a forma zooantropiada ou muitas vezes de ovóides.
Outros revivem o momento de suas faltas punindo-se em culpas que os arrastam a
abrirem mão do livre arbítrio tornando-se prisioneiros de seus perseguidores. A
estes devotamos as nossas sinceras mensagens de reconstrução da auto-estima, as
lembranças de Deus e de sua providência e justiça que a todos ampara e provém,
em necessidades que muitas vezes não percebemos ou compreendemos.
No segundo grupo encontramos toda uma
organização pautada na dor, no terror, na violência e no conhecimento muitas
vezes profundo de nossas imperfeições, do espiritismo e da ciência. A tabela
abaixo apresenta uma síntese dos tipos mais comuns nas organizações dos reinos
das trevas.
Posicionamento
na organização
|
Características
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Executores
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Têm o status menor na organização sendo efetivamente
prisioneiros e dependentes de seus chefes. Fazem o trabalho a nível material
de perseguição das vítimas, muitas vezes trocando favores tais como regalias
e confortos materiais (sexo, comida, água, proteção) pelo trabalho executado.
Sua saída da organização deixa-a inoperante temporariamente.
|
Juristas
|
Acreditam-se donos da verdade, na posição de compositores de
um processo no qual a vítima será julgada. Mantém relações pretéritas com o
ramo do direito, muitas vezes crêem-se estar fazendo o certo. Julgam para não
serem julgados.
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Materialistas: em duas classes distintas os teóricos e os
vivenciais.
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Os Teóricos são Espíritos desencantados que se recusam a
observar a realidade espiritual na qual se encontram. Perturbados em seu íntimo
deixam transparecer uma capa de tranqüilidade e equilíbrio. Tão logo aceitem
o fato de sua sobrevivência como espírito tomam caminho diverso. Já os
vivenciais são realmente dependentes da matéria tornando-se escravos de seus
desejos, vilipendiando tudo o que entram
|
Religiosos
|
Personagens que trazem cravados em si as teorias cristãs,
acreditam-se defendendo as idéias do cristo, mas não fazem a reflexão de seus
atos frente às verdades evangélicas. Afeitos ao poder associam-se com
dirigentes das trevas para suas conquistas.
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Dirigentes das trevas
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Acenderam ao poder por sua violência e magnetismo, sendo
substituídos por um comandado mais próximo em jogos de disputa de poder e que
trazem geralmente uma grande perda no passado. Quando se encontram com as
verdades espirituais assumem para si a responsabilidade de resgate de seus
comandados.
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Planejadores
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Estrategistas natos gozam de posição de destaque nestas hordas
e sua ausência provoca pânico e revolta dentre os seus comandados. É o
próprio exercício de seu raciocínio que os atrai. Acreditam-se acima do bem
ou do mal e a sua tomada de consciência é bastante dolorosa. Provavelmente
fogem deste momento por saberem-no difícil. São frios e trazem um profundo
conhecimento das faltas humanas.
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Intelectuais
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De profundo conhecimento formal, vaidosos, encantam-se com os
seus sistemas e idéias. Afeitos a dominar e manipular opiniões; são movidos
pelo orgulho. Quando vivenciando um objetivo são obstinados e difíceis de
lidar. Fogem do conhecimento evangélico, pois se acreditam incapazes de amar,
de externar seus sentimentos. Necessitados de amparo e amor prático para
tornarem-se entendedores do real significado desta palavra.
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Vingadores
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Acreditam-se lesados em seus direitos e tornam-se prisioneiros
do ódio que os levam À falsa impressão de poder. Na verdade estão cansados
desse sofrimento, mas não enxergam escapatória. Amor e perdão, prece e afeto,
são bálsamos consoladores.
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Magos e feiticeiros
|
Conhecedores dos fenômenos e leis que regem a natureza,
estudiosos da psique humana, agem em diversas frentes diferenciando-se por os
primeiros conhecerem e produzirem conhecimentos e os segundos apenas
repetirem o que lhes foi ensinado. Quando no trabalho do bem os Magos
representam ajuda preciosa nas mediúnicas de desobsessão, protegendo a equipe
e sinalizando a possibilidade de um conhecimento maior: o amor
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Magnetizadores e hipnotizadores
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Possuem o conhecimento para impor monoidéias em suas vítimas
induzindo-as a tomar formas grotescas, mutiladas, zooantropiadas, etc. Nas
lides do bem auxiliam nos processos de cura e de redução do perispírito para
a reencarnação.
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Mulheres
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Geralmente vêem à mediúnica para amparar entes queridos, mas
podemos encontrá-las presas em processos de vingança, nas obsessões ligadas
ao sexo desregrado, etc.
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Todos os irmãos que se manifestam nas
mediúnicas, que pertencem a um dos grupos mencionados na tabela acima, trazem
para o médium psicofônico uma carga fluídica intensa o que torna necessário o
cuidado mais rígido com a saúde, com a alimentação e o preparo mental a fim de
manter a energia disponível para a manifestação mediúnica na qualidade
necessária para levar ao irmão um choque fluídico positivo. Além disso, a massa
fluídica deletéria emanada do manifestante provoca impactos no organismo do
médium que são mais facilmente sanados na proporção em que este cuida de sua
saúde.
O fato é que o trabalho mediúnico
defronta-se com idéias e imperfeições morais nas quais os manifestantes, tanto
quanto nós, construíram as suas realidades e que os afastam das verdades
cristãs. Poder, glória, posse, desejos matérias, vingança, entre outros,
aprisionam os indivíduos que se mantém acrisolados neste universo de intolerância
e insegurança. Aqui o amor trabalha e nos brinda com o aprendizado e observação
da providência divina em ação pois que todos, sem exceção, têm um ser que ora
por sua proteção e amparo, todos têm a oportunidade de avançar rumo a um futuro
de liberdade e colaboração no amor fraternal.
Assim como os manifestantes as lições são
muito significativas para todos os que trabalham no grupo mediúnico, pois que a
lei de afinidades nos lembra a todo instante que somos passíveis dos mesmos
enganos e que assim como Deus estende a mão através de nós para o resgate e
amparo destes irmãos, Ele também nos ama e nos protege, até de nós mesmos,
resguardando-nos de todos os males desnecessários à nossa educação espiritual.
Assim façamos a nossa parte, estudando e
amando, construindo um mundo melhor internamente que o ambiente em que vivemos
naturalmente se transformará. Confiança em Deus e nos trabalhadores espirituais
com os quais colaboramos humildemente no trabalho edificante da seara do
Cristo.
Fiquemos em Paz
http://pt.scribd.com/doc/58329148/Resenha-Critica-dialogo-com-as-sombras!
Muito bem explicado, estou lendo pela primeira vez um artigo da Juventude Espírita e os parabeniza pela contribuição ao espiritismo.
ResponderExcluirQuem ler este resumo recomendo que leiam o livro Dialogo com as Sombras na íntregra e varias vez .
Que a Luz de Jesus continue os abençoado.
Boa Tarde gostaria de parabenizar pelo belo blog e seus ensinamentos grato
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