por Maria Dolores
Do livro: Momentos de Ouro, Médium: Francisco Cândido Xavier
Sala de sanatório. Ampla secretaria.
A jovem funcionária de plantão
Ouve dois cavalheiros da chefia,
Diretores da casa,
Ambos em franca zombaria,
De verbo destilando espinho, lama e brasa,
Criticando uma atriz,
Notada pelos dois de maneira infeliz;
Uma atriz que atuava em peça fescenina,
Mulher quase menina
Que haviam ido ver na noite precedente.
Nisso, entra na sala
Uma pálida moça,
Pobremente vestida,
Revelando no todo a existência sofrida...
A todos cumprimenta gentilmente.
Em seguida,
Procura ouvir a funcionária em frente
E pergunta:
- Como passa meu pai na cela do internato?
Responde a outra, lado a lado:- Vai melhor mas precisa de cuidado...
A recém-vinda exalta de gratidão,
Demonstra o amor filial que traz no coração
E erguendo a velha bolsa agora, continua dizendo:
- Vim pedir à senhora
A conta deste mês...
A outra estuda as notas que se fez, investiga papéis, extrai assentos
E diz, após somar frações e números inteiros:
- O preço total é de novecentos mil cruzeiros.
A menina abre a bolsa,
Preenche um cheque, decisiva e pronta.
E imediatamente paga a conta.
Os chefes aproximam-se mostrando,apreço, cortesia e por sinal,
Eis que um deles indaga:-
Senhorita,
Seu pai, há muito tempo é um doente mental?
-Há seis anos, senhor, vivo eu em ação
Para trazê-lo à recuperação.
Aproveitando a pausa, o outro diretor
Comentou sem piedade:
- A mulher alterou-se, minha filha, e a demência alcançou a humanidade.
Inda agora falávamos aqui
De uma peça que eu vi
No teatro que temos nesta rua...
Chama-se a peça:”A Nova Maravilha”.
Onde uma jovem quase nua,
Mais animal que um ser humano,
A contorcer-se num bailado insano,
Cria tantos convites indecentes
Que, a meu ver
Põe louco qualquer homem deste mundo...
Seu pai decerto viu alguma cousa destas.
Os homens, hoje em dia,
Na mais simples das festas,
Acham loucas assim
E adoecem, por fim,
Neuróticos, cansados, infelizes,
Principalmente olhando essas atrizes.
Essa atriz que vi ontem, aplaudida por loucos marmanjos,
Age em cena
De modo a enlouquecer os próprios anjos,
E ninguém a demite, nem condena...
Porque a menina generosa e humilde
Ali se enternecesse e emocionasse,
Entremostrando lágrimas na face,
O severo censor fez pausa e perguntou:
-Acaso a senhorita
Chegou a ver a peça?
E terá, porventura, aplaudido uma loucura dessa?
Mas a jovem tristonha replicou:
-Senhor,
Não menospreze tanto a minha dor!
Trabalho no teatro honestamente
Para manter aqui meu pai velho e doente...
E em choro convulsivo, esclareceu:
- Essa atriz de que fala... Essa jovem sou eu...
A jovem funcionária de plantão
Ouve dois cavalheiros da chefia,
Diretores da casa,
Ambos em franca zombaria,
De verbo destilando espinho, lama e brasa,
Criticando uma atriz,
Notada pelos dois de maneira infeliz;
Uma atriz que atuava em peça fescenina,
Mulher quase menina
Que haviam ido ver na noite precedente.
Nisso, entra na sala
Uma pálida moça,
Pobremente vestida,
Revelando no todo a existência sofrida...
A todos cumprimenta gentilmente.
Em seguida,
Procura ouvir a funcionária em frente
E pergunta:
- Como passa meu pai na cela do internato?
Responde a outra, lado a lado:- Vai melhor mas precisa de cuidado...
A recém-vinda exalta de gratidão,
Demonstra o amor filial que traz no coração
E erguendo a velha bolsa agora, continua dizendo:
- Vim pedir à senhora
A conta deste mês...
A outra estuda as notas que se fez, investiga papéis, extrai assentos
E diz, após somar frações e números inteiros:
- O preço total é de novecentos mil cruzeiros.
A menina abre a bolsa,
Preenche um cheque, decisiva e pronta.
E imediatamente paga a conta.
Os chefes aproximam-se mostrando,apreço, cortesia e por sinal,
Eis que um deles indaga:-
Senhorita,
Seu pai, há muito tempo é um doente mental?
-Há seis anos, senhor, vivo eu em ação
Para trazê-lo à recuperação.
Aproveitando a pausa, o outro diretor
Comentou sem piedade:
- A mulher alterou-se, minha filha, e a demência alcançou a humanidade.
Inda agora falávamos aqui
De uma peça que eu vi
No teatro que temos nesta rua...
Chama-se a peça:”A Nova Maravilha”.
Onde uma jovem quase nua,
Mais animal que um ser humano,
A contorcer-se num bailado insano,
Cria tantos convites indecentes
Que, a meu ver
Põe louco qualquer homem deste mundo...
Seu pai decerto viu alguma cousa destas.
Os homens, hoje em dia,
Na mais simples das festas,
Acham loucas assim
E adoecem, por fim,
Neuróticos, cansados, infelizes,
Principalmente olhando essas atrizes.
Essa atriz que vi ontem, aplaudida por loucos marmanjos,
Age em cena
De modo a enlouquecer os próprios anjos,
E ninguém a demite, nem condena...
Porque a menina generosa e humilde
Ali se enternecesse e emocionasse,
Entremostrando lágrimas na face,
O severo censor fez pausa e perguntou:
-Acaso a senhorita
Chegou a ver a peça?
E terá, porventura, aplaudido uma loucura dessa?
Mas a jovem tristonha replicou:
-Senhor,
Não menospreze tanto a minha dor!
Trabalho no teatro honestamente
Para manter aqui meu pai velho e doente...
E em choro convulsivo, esclareceu:
- Essa atriz de que fala... Essa jovem sou eu...
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