A finalidade essencial do Espiritismo é a melhoria das criaturas
Orson Peter Carrara
Se você indagar de qualquer pessoa que exerça
a função de caixa num supermercado, farmácia, padaria, etc. sobre onde aprendeu
o procedimento de registrar a compra do cliente e sua quitação com dinheiro
vivo, cartão de crédito ou cheque, cada modalidade com suas características
próprias de encaminhamento e processamento, ele não dirá que foi na escola, mas
sim na própria rotina de trabalho, através de alguém que lhe repassou o
conhecimento.
O mesmo exemplo pode ser ampliado para outras
práticas profissionais, onde o aprendizado ocorre na própria prática da
atividade.
O mesmo raciocínio ocorre na prática espírita
nas instituições. Sempre houve alguém que repassou o conhecimento, orientou e
encaminhou, com sua experiência, alguém que inicia e começa a trabalhar na
seara espírita.
Essa transmissão de conhecimento, todavia,
está sujeita aos condicionamentos, vícios e ponto de vista alcançado na
compreensão dos postulados do Espiritismo.
Assim como a escola deveria possuir estrutura
para transmitir a experiência da preparação profissional, ao invés de
deterem-se apenas na transmissão do conhecimento (nem sempre devidamente
assimilada), as instituições espíritas possuem objetivos definidos e claros de
serem construtores e geradores do conhecimento, mas nem sempre esta é a
realidade que se apresenta.
Muitas vezes, limita-se à transmissão de
informações com base em pontos de vista pessoais, sempre sujeitos aos equívocos
de entendimento, vícios e condicionamentos a que todos, alunos em aprendizado
que somos, estamos sujeitos.
Por esta razão surgem as deturpações e
práticas incoerentes, frutos diretos da inexata compreensão do Espiritismo, de
seus fundamentos e objetivos, misturando-se misticismos, hábitos estranhos à
Doutrina Espírita, disputas, vaidades e seus consequentes desdobramentos.
Embora pareça paradoxal, referidas crises
existentes nas instituições são naturais e benéficas porque elas proporcionam
crescimento a aprendizado, levando à busca dos verdadeiros parâmetros.
Mas é fato real que muitas afirmações e práticas não foram
transmitidas no centro espírita, embora sua tribuna e estrutura possivelmente
tenham sido utilizadas. Foram transmitidas na ausência do conhecimento, através
de nossos equívocos de entendimento.
A construção do conhecimento solicita debates,
questionamentos, troca de informações, análise ponderada de conceitos, dispensa
de preconceitos, entendimento correto de palavras, parágrafos, gramática e
mesmo, é óbvio, a exata compreensão do Espiritismo e seus fundamentos.
Referidos conhecimentos, para serem adquiridos e assimilados, e, portanto,
construídos interiormente, requerem firmeza e perseverança dos grupos e seus
integrantes, pois a mera transmissão de informações assemelha-se a alguém que
abrisse o próprio cérebro e colocasse sua massa cerebral para distribuir...
Vejamos, todavia, com bons olhos, esse
conflito e aparente disparate na diversidade de entendimento e práticas. Isso é
salutar.
Faz-nos pensar, convida à reflexão e oferece a
multiplicidade das experiências para que igualmente sejam analisadas.
Mas, há que se ater ao momento aflitivo com
que se depara a Humanidade. O instante presente solicita que “menos competição e mais
cooperação, deve ser a preocupação de todos espíritas sinceros, a fim de
transferir a Doutrina para as futuras gerações, conforme a receberam do
Codificador e dos seus iluminados trabalhadores das primeiras horas”, como acentua o Espírito Vianna de
Carvalho e outros Espíritos-espíritas, na oportuna mensagem “Campeonato da Insensatez”, publicada pela revista “Reformador”,páginas
8 a 10 da edição de Outubro de 2006, na psicografia de Divaldo Franco.
É que, acentua o Espírito: “Estais
comprometidos, desde antes da reencarnação, com o Espiritismo que agora
conheceis e vos fascina a mente e o coração. Tende cuidado! Evitai conspurcá-la
com atitudes antagônicas aos seus ensinamentos e imposições não compatíveis com
o seu corpo doutrinário.
Retornar às bases e vivê-las qual o fizeram
Allan Kardec e todos aqueles que o seguiram desde o primeiro momento, é dever
de todo espírita que travou contato com a Terceira Revelação
judaico-cristã porque o tempo urge e a hora é esta, sem lugar para o campeonato
da insensatez”.
Pois (e vale muito transcrever mais este parágrafo), continua o
Espírito: “Não se dispõe de tempo (...) para a assistência aos sofredores e
necessitados que aportam às casas espíritas, relegados a segundo plano, nem
para a convivência com os pobres e desconhecedores da Doutrina, que são
encaminhados a cursos, quando necessitam de uma palavra de conforto moral
urgente... Os corações enregelam-se e a fraternidade desaparece.”
Não é, pois, no centro que surgem tais
dificuldades. É dentro de nós mesmos, espíritos-espíritas, encarnados mesmo
(embora integrantes das instituições), necessitados todos da autêntica
compreensão dos autênticos objetivos do Espiritismo, que não são outros senão
como indicado no item 292 de O Livro dos Médiuns: “Não esqueçais que o fim essencial, exclusivo, do Espiritismo é a
vossa melhora...”
Tratemos, pois, com a máxima urgência, de nos
adequarmos ao Espiritismo e não tentar adequar o Espiritismo ao nosso estreito,
limitado e imperfeito ponto de vista pessoal, nem sempre coerente com o
autêntico conhecimento à nossa disposição.
Orson Peter Carrara (Matão/SP)
Escritor
e orador espírita. Constultor Editorial residente em Matão/SP, Articulista da imprensa espírita, tem colaborado com diversos
órgãos da imprensa espírita, entre revistas e jornais do país, além de boletins
regionais. Autor dos livros "Causa e Casa Espírita" e "Espíritos - Quem são? O que
fazem? Onde estão? Por que nos procuram?",
seus textos caracterizam-se pela objetividade e linguagem acessível a qualquer
leitor, estando disponibilizados em vários sites de divulgação espírita.
Seu
site www.orsonpcarrara.com.br
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