Apreciação do Livro dos Espíritos
O texto seguinte é uma apreciação do Livro dos Espíritos escrita
supostamente por um repórter do Courrier de Paris e que está reproduzida no
livro Jesus e o Espiritismo escrito por Carlos A. Baccelli e Inácio Ferreira
(espírito). Segundo Baccelli "tal carta foi recebida mediunicamente por
nós e incluída, inclusive, como uma das páginas iniciais do livro 'Espiritismo
em Uberaba', de nossa autoria, publicado sob os auspícios da Secretaria
Muncipal de Educação e Cultura do Município e prefaciado pelo Chico.
Infelizmente, o espírito que a ditou não se identificou - ela foi psicografada,
aproximadamente, no começo da década de 1980, e, por sugestão do Dr. Inácio
Ferreira, inserida no livro 'Jesus e o Espiritismo'."
Vale ressaltar que em 1858 Kardec publica na Revista Espírita um artigo
publicado pelo mesmo Courrier de Paris sobre o mesmo tema. Este artigo pode ser
lido em O Courrier de Paris publicou artigo sobre O Livro dos Espíritos.
PARIS, 18 DE ABRIL
DE 1857
(Ao "Courrier
de Paris ")
Sr. Diretor. Saudações!
Não o tendo encontrado em seu escritório e pedindo-lhe desculpas
antecipadas por possíveis falhas, tão comuns em matéria elaboradas na véspera,
apressei-me a registrar estas explicações, que anexo ao trabalho elaborado por
mim para a próxima edição do nosso jornal.
É que hoje Paris não acordou: foi despertada. E, contudo, parece estar
vivendo um pesadelo!
Da padaria mais próxima ao bairro mais afastado, não se fala em outra
coisa.
Não, não se trata de uma epidemia, apesar de a notícia ter-se propagado
como tal.
Quem não conhece, na França, o valoroso Prof. Rivail, discípulo do
grande Pestalozzi?
Pois bem. O Prof. Rivail, emérito educador e conhecedor de línguas, com
várias obras publicadas sobre a nossa Gramática, acaba de pregar-nos um grande
susto, cujo eco, tenho certeza, se fará ouvir no mundo inteiro.
Desde o aparecimento das mesas girantes, um sem-número de curiosos tenta
uma explicação séria para o fato que - diga-se de passagem -, financeiramente,
tem sido um ótimo negócio para os seus exploradores...
Muitos recorreram a Mesmer, outros ao Ilusionismo, mas ninguém até agora
havia pensado nas almas dos mortos como sendo a causa!...
Há bom tempo, coisa de 2 ou 3 anos - dizem -, o Prof. Rivail vinha
pesquisando o assunto.
Convidado por amigos, frequentava certas reuniões realizadas em casa da
Sra. Plainemaison, onde, a princípio, por pancadas e, depois, pela escrita,
entabulava diálogos com o Além.
O curioso nisso tudo é que os supostos espíritos lhe disseram ter ele
vivido (noutra existência) entre os druidas, nas Gálias, onde se chamava Allan
Kardec.
Bem, o resto o senhor encontrará na reportagem que espero seja manchete
na Ia página
Posso adiantar-lhe, todavia, que essa aventura toda culminou com o
lançamento, pelo Sr. Dentu, respeitável editor, no dia de hoje, 18 de abril, de
uma obra "sui generis ", chamada "O Livro dos Espíritos", a
qual, igualmente, eu lhe passo às mãos para exame.
Apesar de não ter tido muito tempo para consultá-lo, observei que, pela
introdução, o Prof. Rivail, ou melhor, Allan Kardec (pseudônimo por ele
utilizado) diz tratar-se de uma ciência, de uma filosofia e de uma religião, a
que chamou de "Espiritismo".
Como poderá constatar, não entrando aqui no mérito da questão, parece-me
um trabalho muito bem elaborado, como de resto tudo que traz a marca do Prof.
Rivail. Ainda agora, estou de saída para consultar a opinião pública que
creio estar um pouco atordoada com essa nova versão de Pentecostes...
Porém, pelo que sei, posso adiantar-lhe que alguns representantes do
Clero já se manifestaram nas primeiras horas de hoje, tachando o acontecimento,
talvez, como uma nova investida do demônio contra a Igreja...
Há quem diga que o Prof. Rivail enlouqueceu.
O certo é que, momentos após o lançamento do referido livro, inúmeros
exemplares já tinham sido vendidos a dezenas de curiosos que se aglomeravam na
livraria, no Palais Royal.
Não posso dizer-lhe se será mais uma seita como as muitas que têm
surgido atualmente, para desaparecer em seguida.
Sem saber explicar, digo-lhe apenas que há alguma coisa de diferente no
ar, e queira Deus que esse "Espiritismo", que parece emergir das
cinzas do passado, ressuscitando dogmas milenares, como a transmigração das
almas, por exemplo, não fabrique mais loucos do que já temos.
Parece-me que o Prof. Rivail, segundo fui informado, afirma que sua
Doutrina guarda estreita ligação com o Cristianismo.
Não sendo versado em assuntos de fé, por mim mesmo nada tenho a dizer.
Há muita confusão, existindo mesmo quem diga estar o Prof. Rivail, de
uma maneira inteligente, reescrevendo obras do sueco Swedenborg, na tentativa
de recuperar dinheiro mal-empregado em negócios.
Contra tudo isso, porém, se opõe a moral do Professor, que, até aqui,
era tido nas mais altas rodas, juntamente com a senhora sua esposa, D.
Amélie-Gabrielle de Lacombe Boudet, como pertencente à nata de nossa sociedade.
E, fazendo justiça, quero dizer que, contando quase 53 anos de idade, o
Prof. Rivail é um dos caracteres mais íntegros que tenho conhecido, jamais
tendo contra si qualquer falta que o desabone.
Grande parte de nossa juventude passou pelas suas mãos de mestre.
Não lhe estou tomando o partido, e o senhor compreenderá o meu ponto de
vista.
O homem, apesar de temer, sempre amou o desconhecido e, de fato, 'há
mais mistérios entre o Céu e a Terra do que possa sonhar a nossa vã
Filosofia"...
Se estamos diante de uma revelação, só o tempo dirá.
Creio, contudo, que antes de atacá-la, devem os inimigos do progresso (e
os temos em toda parte) examinar a idéia que sacode os alicerces culturais de
Paris.
Se tudo correr bem, mais tarde irei pessoalmente procurar o Prof Rivail
para melhor informar-me.
As portas do Montmartre e do Père Lachaise estão abertas, os túmulos
estão vazios e os 'mortos' caminham pelas nossas alamedas...
O Sr. Allan Kardec quebrou o silêncio secular que embalava os nossos
mortos! Ou será que foram eles que vieram perturbar o nosso sono?!...
Esperando que os "fantasmas" não espantem os nossos assíduos
leitores e desejando-lhe, Sr. Diretor, um bom dia de trabalho, sou o amigo e o
repórter que jamais pensou em envolver-se com as coisas do outro mundo!...
Fonte:
Jesus e o Espiritismo (Carlos A. Bacceli, Inácio Ferreira)
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