Preparando o médium e a mediunidade
José Queid Tufaile Huaixan
Tem-se observado que, embora o
Espiritismo esteja conosco há quase cento e cinqüenta anos, ainda hoje as
práticas mediúnicas são bastante atrasadas na maioria dos centros. Quando
falamos desse atraso, não queremos com isso desmerecer os médiuns que de um modo
ou de outro vêm procurando dar o melhor de si. Porém, se tivermos o cuidado de
examinar o conteúdo do que fazemos, vamos verificar que produzimos bem pouco.
É pequena a quantidade de
desobsessões que conseguimos; quase não dispomos de mensagens que possam ser
examinadas racionalmente; trabalhamos com médiuns improdutivos durante anos e
se precisamos de uma comunicação do plano espiritual no sentido de nos
orientar, até pouco tempo só recorríamos a Francisco Cândido Xavier, na cidade
de Uberaba, MG. Não temos confiança nos medianeiros de nossos centros.
Qual seria o motivo de
conseguirmos tão pouco com a mediunidade? Allan Kardec, o codificador da
Doutrina Espírita, demonstrou que se pode conseguir mensagens instrutivas do
plano espiritual com relativa facilidade. Ele trabalhava com uma equipe séria
de médiuns e solucionava 70% das obsessões. Hoje, quase nada conseguimos e as
práticas espíritas, em face da fraqueza nos serviços de ordem espiritual,
tiveram a atenção voltada para a assistência social.
Existem adeptos que acreditam
estar cumprindo com suas obrigações, mesmo não tendo atividades mediúnicas mais
ostensivas. Vemos isso com naturalidade. No movimento espírita não existem
determinações ou imposições de quem quer que seja. Mas, o mesmo direito que assiste
estas pessoas que querem continuar como estão, assiste outras que desejam
melhorar-se.
Nossos estudos têm a finalidade
de discutir idéias junto aos que crêem poder fazer progredir as práticas
espíritas. Para isso, acreditamos ser necessário um diálogo em torno do que é a
mediunidade, seu significado, sua utilidade e suas práticas diárias nos centros
espíritas. Se assim procedermos, estaremos revendo conhecimentos e criando
oportunidade para efetuarmos a reforma das atividades, neste delicado campo da
relação com os espíritos.
O que é a
mediunidade?
No Brasil é muito comum haver
confusão em torno do que seja a mediunidade. Isto acontece em face de que,
entre nós, há um hábito quase comum, de nos apegarmos a frases feitas, lançadas
por espíritos, médiuns ou escritores. Existem no meio espírita variadas
definições a respeito do que seria a mediunidade. Um dos erros comumente
encontrados, é aquele em que ela é tida como "uma abençoada oportunidade
de se fazer caridade". Com isso, tomou corpo em torno do movimento, a
idéia de que o indivíduo deve trabalhar com sua mediunidade para ser salvo.
Dizia o Codificador, que a
mediunidade é uma faculdade que o homem possui, por intermédio da qual recebe
influência dos espíritos. Afirmava que todos somos mais ou menos médiuns,
porém, que considerava médiuns somente aqueles que fossem capazes de produzir
fenômenos patentes. Vejamos suas próprias palavras, no seu "Estudo sobre
os médiuns", publicado na Revista Espírita de março de 1859.
"Como intérpretes das
comunicações espíritas, os médiuns têm um papel de extrema importância e nunca
seria demasiada a atenção dada ao estudo de todas as causas que os podem
influenciar; e isto não só em seu próprio interesse, como também no daqueles
que, não sendo médiuns, deles se servem como intermediários. Poderão assim
julgar o grau de confiança que merecem as comunicações por eles recebidas.
Todos, já o dissemos, são mais
ou menos médiuns. Mas, convencionou-se dar este nome aos que apresentam
manifestações patentes e, por assim dizer, facultativas. Ora, entre estes, as
aptidões são muito diversas: pode-se dizer que cada um tem sua especialidade.
Ao primeiro exame, duas categorias se desenham muito nitidamente: os médiuns de
efeitos físicos e os médiuns de efeitos inteligentes".
Preparando o
médium
O primeiro passo para se
preparar um médium numa casa espírita é o de identificá-lo como tal, saber
distinguir quem deve ou não praticar a mediunidade. Para evitar erros além do
normal, é preciso deixar de pensar como pensa todo mundo: que todos são médiuns
ostensivos; que praticar mediunidade é fazer caridade; que as perturbações
espirituais são provenientes de mediunidade a ser desenvolvida e outras idéias
comuns. Tudo isso são interpretações pessoais de criaturas que pouco sabem da
Codificação.
Meditando sobre as palavras de
Kardec, que foram ditas acima, não é difícil identificarmos os médiuns.
Consideremos médiuns só aqueles em que a faculdade se manifestar de forma
patente, os que sentem facilmente a presença dos espíritos. Os outros, em quem
o nível de influência é muito baixo, ou quase ausente, não devem ser colocados
como médiuns, segundo o real significado da palavra.
Os primeiros, são os médiuns de
acordo com a definição do Codificador. Os últimos, possuem aquilo que se chama
mediunidade natural, que não serve de ponte entre os planos visível e
invisível.
As obsessões
Dentre os que sentem de modo
ostensivo a presença dos Espíritos, existem aqueles que estão perturbados pela
obsessão. Estes, não devem ser orientados para o desenvolvimento, mas sim,
encaminhados para um tratamento no centro espírita.
Quando se submete um paciente
obsedado ao desenvolvimento da mediunidade, corre-se o risco de vê-lo mergulhar
num estado de profundo desequilíbrio. O médium enfermo sofrerá maior agressão
do obsessor no exercício da mediunidade, principalmente se sua obsessão
apresentar um caráter de gravidade. Por esta razão, não devemos enviar
obsedados para as sessões de desenvolvimento mediúnico.
O sensato é tratá-los pelo
Espiritismo, acompanhados de tratamento médico se for necessário. Depois, se a
sensilidade permanecer aberta a um nível elevado, essas pessoas poderão ser
encaminhadas para a educação da mediunidade, se houver disposição para isso.
Estudos
Um dos grandes males que hoje
afetam a prática do Espiritismo é a falta de estudos da Doutrina. Se de um lado
há centros espíritas que desenvolvem cursos tão complexos como os de uma
escola, dificultando o ingresso dos iniciantes, por outro, há casas que se
abstêm completamente de qualquer esforço neste sentido. Em resumo: uns estudam
demais; outros, de menos.
Perguntado se o exercício da
mediunidade pode provocar numa pessoa a invasão dos maus Espíritos e suas
conseqüências, Kardec responde demonstrando a importância dos estudos:
"Jamais dissimulamos os
escolhos (obstáculos) encontradiços na mediunidade, razão por que
multiplicamos, em "O Livro dos Médiuns", as instruções a tal respeito
e não temos cessado de recomendar o seu estudo prévio, antes de se entregarem à
prática. Assim, desde a publicação daquele livro, o número de obsediados
diminuiu sensível e notoriamente, porque poupa uma experiência que os noviços
muitas vezes só adquirem às próprias custas. Dizemo-lo ainda, sim, sem
experiência a mediunidade tem inconvenientes, dos quais o menor, seria ser
mistificado pelos Espíritos enganadores e levianos. Fazer Espiritismo
experimental sem estudo é fazer manipulações químicas sem saber química".
O Codificador, já em seu tempo,
alertava para o cuidado que se deve ter, quando se vai submeter uma pessoa ao
contato com o mundo invisível. Recomendava instrução e a assistência de alguém
com experiência. Por isso devemos estabelecer em nossas casas espíritas uma
metodologia capaz de iniciar novatos na prática sadia da mediunidade.
Primeiro, devemos levar em
conta se a pessoa tem alguma noção do que é a Doutrina Espírita. E, se já tem,
se não está distorcida, misturada com aquilo que se chama "Espiritismo
popular". No grupo onde trabalhamos, desenvolvemos um cursinho rápido,
destinado aos iniciantes, onde eles aprendem os princípios elementares do
Espiritismo. É o livro publicado por nós, chamado "Espiritismo para
Iniciantes". O curso tem uma duração de dois meses, com uma aula semanal.
Estuda a Criação; Deus; a origem da Doutrina Espírita; a Reencarnação; a
Mediunidade; os Fluidos; os Passes e a Obsessão. Serve para dar uma noção
básica aos que ingressam nos quadros de serviços da casa espírita, inclusive
aos que vão lidar com a mediunidade.
As casas podem ministrar
orientações já existentes em livros, ou criar seus próprios métodos.
Depois disso, os neófitos devem
ser assistidos por alguém habituado às relações com o invisível, num estudo em
"O Livro dos Médiuns". Deve-se dedicar especial atenção aos capítulos
que falam dos cuidados que se deve ter com os desencarnados. Só após este
procedimento, deverá se dar início ao preparo da mediunidade.
Preparando a
mediunidade
Uma das fases mais delicadas do
preparo do médium é aquela em que o novato vai exercitar sua mediunidade. A
maioria dos que se dedicam ao intercâmbio com os espíritos possui grande
ansiedade para "receber" as manifestações. Mas, as coisas não são tão
simples quanto parecem. O exercício da mediunidade é uma fase de
aperfeiçoamento psíquico, onde o indivíduo se submeterá à disciplina de muitas
faces de sua personalidade, uma espécie de autoconhecimento, um pouco difícil
de ser feito.
Os espíritos inferiores são
excitadores das paixões do médium, e acabam por mostrar-lhes os defeitos de sua
personalidade, que deverão ser corrigidos. Não há serviço mediúnico sem que o
equilíbrio pessoal se dê pela ação dos contrários. O medianeiro chega ao bem
pelo conhecimento do mal. Por esta razão, as mesas de desenvolvimento devem
contar com pessoas maduras, dotadas de experiência capaz de orientar com
segurança. Se não for assim, a prática da mediunidade poderá trazer prejuízos à
vida psíquica, coisa que vem sendo muito comum na atualidade.
Citaremos neste trabalho, os
pontos que julgamos serem as bases de um exercício mediúnico sadio e esperamos
que contribuam de algum modo para ajudar os iniciantes do Espiritismo quanto às
relações com os Espíritos.
Animismo
O animismo é a influência que a
alma do médium exerce sobre as comunicações. Nos medianeiros onde a faculdade é
mais intuitiva, a fator anímico é bem mais elevado, chegando, em alguns casos,
a tornar o sensitivo improdutivo. O animismo se apresenta intenso na maioria
dos principiantes e vai diminuindo com o desenvolvimento.
Os encarregados de dirigirem os
trabalhos práticos precisam demonstrar que a presença ostensiva dos pensamentos
do médium nas comunicações é uma coisa natural e, com o tempo, esta influência
diminuirá. Os problemas anímicos do sensitivo, que afloram no transe mediúnico,
podem ser orientados como se faz em qualquer situação de desarmonia. Todos os
iniciantes devem ser esclarecidos que o mais importante fator de transformação
e ajuste virá da reflexão evangélica. Falando do animismo, Kardec disse:
"O médium, tendo
consciência do que escreve (ou fala), é naturalmente levado a duvidar de sua
faculdade: não sabe se a escrita (ou mensagem) é dele mesmo ou de outro
Espírito. Mas ele não deve absolutamente inquietar-se com isso e deve
prosseguir apesar da dúvida. Observando com cuidado a si mesmo, facilmente
reconhecerá nos escritos (ou nas palavras) muitas coisas que não lhe pertencem,
que são mesmo contrárias aos seus pensamentos, prova evidente de que não
procedem de sua mente.
Que continue, pois, e a dúvida
se dissipará com a experiência". - Allan Kardec (O Livro dos Médiuns, item
214).
Os Espíritos
inferiores
Em "O Livro dos
Médiuns", o Codificador afirma que o maior obstáculo às práticas espíritas
é a obsessão, o domínio que alguns Espíritos inferiores podem adquirir sobre
certas pessoas. Nenhum médium está livre desta influência perniciosa,
principalmente quando inicia seu mandato mediúnico. Nesta fase, suas
imperfeições morais mais grosseiras são verdadeiros atrativos para as entidades
atrasadas e, por esta razão, deve-se estar alerta com a conduta da equipe que
trabalha no intercâmbio.
O medianeiro deve cuidar-se com
uma disciplina o mais sadia possível, para que não seja vítima dos seres
malévolos do mundo invisível. Toda alteração emocional ou psíquica considerada
estranha e persistente deve ser comunicada ao orientador da mesa. Se houver
suspeita de obsessão, o principiante deve ser afastado dos trabalhos
mediúnicos, submetido a um tratamento e depois reconduzido às atividades.
Quando se detectar pessoas
impressionáveis, de raciocínio confuso, sistemático ou excêntrico, elas devem
ser afastadas definitivamente dos trabalhos práticos, conforme recomenda o
Codificador.
Aos novatos:
"A dificuldade encontrada
pela maioria dos médiuns iniciantes é a de ter que tratar com os Espíritos
inferiores, e eles devem se considerar felizes quando se trata de Espíritos
apenas levianos". ( - Allan Kardec - O Livro dos Médiuns, item 211).
Aos mais velhos:
"Suponhamos agora a
faculdade mediúnica completamente desenvolvida. Que o médium escreva com
facilidade, que seja o que se chama um médium feito. Seria um grande erro de
sua parte considerar-se dispensado de novas instruções. Ele só teria vencido
uma resistência material, e é então que começam as verdadeiras dificuldades.
Mais do que nunca necessitará dos conselhos da prudência e da experiência, se não
quiser cair nas mil armadilhas que lhe serão preparadas. Se quiser voar muito
cedo com suas próprias asas, não tardará a ser enganado por Espíritos
mentirosos, que procurarão explorar-lhe a presunção". ( - Allan Kardec - O
Livro dos Médiuns, item 216).
A vida moral
As faculdades mediúnicas estão
ligadas a uma disposição orgânica. O mesmo já não se dá quanto ao seu uso, que
depende da condição moral do médium. Se tudo depende da moral, nossos grupos
necessitam tê-la em alta conta, como uma espécie de farol orientador. Muitas
decepções advindas da prática mediúnica são frutos da má orientação dadas aos
iniciantes pelos que administram as mesas de desenvolvimento.
Na atualidade, há uma
complascência excessiva em torno dos vícios das pessoas. Médiuns, passistas e
membros dos grupos alimentam vícios grosseiros como o fumo, a bebida alcoólica
e, nos casos mais graves, o adultério, a desonestidade, a sensualidade exagerada
e o orgulho.
Se estamos dispostos a reformar
as práticas do centro espírita que participamos, temos que cuidar dos aspectos
morais dos componentes da casa. São eles que sustentam as atividades em todos
os sentidos, mormente as mediúnicas.
Recomendamos o estudo regular
nas sessões, e fora delas, de "O Evangelho Segundo o Espiritismo".
Com isso, se conseguirá elementos morais destinados à auto-reflexão.
Leitura
excessiva
O trabalhador espírita estuda
sempre. Lê livros teóricos e práticos para o seu enriquecimento doutrinário.
Mas, deve evitar a poluição mental por obras espíritas. Há médiuns que não
conseguem trabalhar em face de sobrecarregarem suas mentes com leituras.
Assistência
material
Não se pode conceber a
atividade mediúnica sem o trabalho material. O serviço na seara dos sofredores
auxilia o médium a compreender a dor e lhe dá suporte para os embates próprios
do mediunato. Todo médium deve ter atividades de assistência material
regularmente.
É importante considerarmos a
prática da mediunidade como um trabalho que não dispensa o serviço do médium na
assistência material. Por acharem que a mediunidade é caridade, apareceu um
grande contingente de médiuns que só vão ao centro "receber"
espíritos e crêem já estar com seus compromissos cumpridos.
Disciplina
Por fim, a disciplina.
Dominar-se é uma das coisas mais difíceis de se fazer. No entanto, aqueles que
vão lidar com os espíritos precisam ter um certo domínio sobre si. Se não
levarem em conta este fator, o melhor é afastar-se do ministério. Deixar o cigarro,
a bebida, a freqüência em ambientes mundanos, melhorar a vida familiar,
profissional, adquirir uma conduta regular frente à prece, tudo isso é
disciplinar-se. Conhecer a si mesmo e trabalhar as próprias imperfeições é o
caminho para uma prática mediúnica sadia.
"Antes de nos dirigirmos
aos Espíritos, convém, pois, encouraçarmo-nos contra o assalto dos maus, assim
como se marchássemos em terreno onde tememos picadas de cobras. Isto se
consegue, inicialmente, pelo estudo prévio, que indica a rota e as precauções a
tomar; a seguir, a prece. Mas é necessário bem nos compenetrarmos da verdade
que o único preservativo está em nós, na própria força, e nunca nas coisas
exteriores; que nem há talismãs, nem amuletos, nem palavras sacramentais, nem
fórmulas sagradas ou profanas que tenham a menor eficácia se não tivermos em
nós mesmos as qualidades necessárias. Assim, essas qualidades é que devem ser
adquiridas" Allan Kardec (Revista Espírita, número de janeiro de 1863, no
Estudo sobre os possessos de Morzine).
O Estudo da doutrina é muito valioso para o desenvolvimento e o aprendizado mediunico o iniciante exercitando a pratica! parabéns o ensinamento é otimo! pesquiso a materia do estudo no proprio google e nos videos do yotube!
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