A
pós-modernidade tem lá seus paradoxos. Aliás, o contraditório parece ser uma
característica marcante do presente contexto histórico. É incrível que a
engenharia espacial tenha construído potentes telescópios para observar
estrelas a milhões de quilômetros e, contudo, o homem contemporâneo se
mostre, muitas vezes, incapaz de enxergar as coisas mais triviais e
essenciais do cotidiano.
Tornamo-nos
cegos com olhos sadios. Evoluímos muito em técnicas e tecnologias, mas ainda
somos aprendizes na busca e no reconhecimento da nossa essência, princípio
indispensável à construção de um relacionamento social ético e baseado no
inquestionável dever de respeito às diferenças.
Fechamos
os olhos para os absurdos da intolerância, do preconceito. Recusamos-nos a
enxergar o dever existencial que cada indivíduo tem perante às conquistas e
perdas da sociedade, entendendo que uma vida justa e digna é uma busca que a
todos compete.
Pior
ainda é quando abrimos mão de nossa indubitável condição humana e a liberdade
a ela inerente para nos deixarmos envolver, sem qualquer questionamento, por
discursos ideológicos que nos cegam ainda mais. Culpamos os políticos,
concordamos com o apresentador que manda a polícia agir com violência no
combate à criminalidade, mesmo que isso seja um patente desrespeito aos
direitos humanos, achando que isso é ter consciência política. E, no entanto,
não percebemos que o bem-estar coletivo, a vivência em uma sociedade
verdadeiramente democrática, exige uma visão que desenvolva em nós o espírito
de solidariedade e coletividade a partir da noção de dignidade humana como o
centro de todas as ações.
Querer
a lucidez. Abrir os olhos para perceber que a ética e a solidariedade são
mais que deveres, são necessidades que exigem o nosso despertar na busca pela
efetivação de nossa dignidade. Não basta apenas olhar é preciso ver e se
sentir responsável pelo que está vendo. Reflitamos com Saint-Exupèry: "o
essencial é invisível aos olhos, só se vê bem com o coração".
http://www.assepe.org.br/txt_julio_terolhos.html
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quinta-feira, 24 de janeiro de 2013
Ter olhos e não ver
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