Obsessão e Reciprocidade
A obsessão corresponde a certa influência perniciosa na mente. Etimologicamente o termo tem sua origem no vocábulo obsessione, palavra latina que significa impertinência, perseguição. Os dicionaristas costumam definir a palavra como sendo uma preocupação com determinada ideia, que domina doentiamente o espírito, resultante ou não de sentimentos recalcados. A terminologia obsessão é usada, comumente, para denotar ideia fixa em alguma coisa, tique nervoso, gerador de manias, atitudes estranhas etc. Na perspectiva espírita, o termo tem uma acepção e explanação mais amplas. Consubstancia-se na influência maléfica relativamente inflexível que desencarnados e/ou encarnados, tão ou mais atrasados que nós mesmos, podem exercer sobre a nossa estrutura psicofísica.
Kardec elucida que "se os médicos são malsucedidos, tratando da maior parte das moléstias, é que tratam do corpo, sem tratarem da alma. Ora, não se achando o todo em bom estado, impossível é que uma parte dele passe bem". (1) O psiquiatra tradicional por exemplo, diz que obsessão é um pensamento ou um impulso persistente ou recorrente, indesejado e aflitivo, que vem à mente involuntariamente, a despeito de tentativa de ignorá-lo ou de suprimi-lo.
Os ortodoxos da medicina, sob os antolhos do materialismo decrépito, não admitem nada fora da matéria, portanto, não podem entender uma causa oculta (espiritual). Quando a academia científica tiver saído da extemporânea rotina mecanicista, ela reconhecerá na ação do mundo invisível que nos cerca e no meio do qual vivemos uma força que reage sobre as coisas físicas tanto quanto sobre as coisas morais. Esse será um novo caminho aberto ao progresso e a chave de uma multidão de fenômenos mal compreendidos pela escola psiquiátrica.
Não há razão para que a Psiquiatria condene os processos espíritas no tratamento dos casos de obsessão e auto-obsessão. É muito importante ampliar o entendimento das causas originais de uma esquizofrenia sob o impacto da obsessão e considerar imprescindível o tratamento espiritual [desobsessão, passe, água fluidificada, oração] oferecido pela Doutrina Espírita, com base nos ensinamentos do Cristo, que um dia, inevitavelmente, constará nas propostas científicas para o tratamento de todas as doenças humanas.
Nosso mundo mental é como um céu, contudo do firmamento descem raios de sol e chuvas benéficas para a vida planetária, assim como, no instante do atrito de elementos atmosféricos, desse mesmo céu procedem faíscas elétricas destruidoras. Da mesma forma funciona a mente humana. Dela se originam as forças equilibrantes e restauradoras para os trilhões de células do organismo físico, mas quando perturbada, emite raios magnéticos de elevado teor destrutivo para a nossa estrutura psíquica.
Como máquina, nosso corpo se encontra sujeito a desgastes naturais, até porque muitos obsidiados não sabem usufruir do corpo de forma correta. Nesse sentido, os obsessores (encarnados e desencarnados) sabem explorar, até que o enfermo chegue à patologia de difícil diagnóstico. O estado obsessivo procede da intimidade do homem, exteriorizando-se em forma de tormentos físicos, mentais e emocionais. Suas causas quase sempre remontam a vidas passadas.
Paixões, ódios, fanatismo, avareza e muitos outros fatores são as fontes geradoras da obsessão, que atualmente se constitui um dos mais terríveis flagelos da humanidade. A mente transmite ao corpo, a que se ajusta durante a encarnação, todos os seus estados felizes ou infelizes, equilibrando ou conturbando o ciclo de causa e efeito, portanto, a obsessão é uma patologia que guarda a sua origem profunda no Espírito que delinquiu.
O melhor processo para nos livrarmos de um obsessor é nos tornarmos bons. Chico Xavier disse não “adiantar ao diabo ficar soprando onde não há brasas”. É verdade! As trevas exteriores se ligam pelas sombras interiores. O que nos algema a um obsessor é a iniquidade que alimentamos nas atitudes e intenções. O que nos vincula a um obsessor vingativo é a nossa obstinação de não perdoar. O que nos conecta a um obsessor infeliz é o desgosto que cultivamos no coração.
Muitas vezes procurado pelos obsidiados, Jesus adentrava mentalmente nas causas da sua inquietude e, usando de sua autoridade moral, libertava tanto os obsessores quanto os obsidiados, permitindo-lhes o despertar para a vida animada rumo à recuperação e à pacificação da própria consciência. Entretanto, Jesus não libertou os obsidiados sem lhes impor a intransferível necessidade de renovação íntima, nem ejetou os perseguidores inconscientes sem fornecer-lhes o endereço de Deus.
Em resumo, identificamos sempre na obsessão (espiritual) o resultado da invigilância e dos desvios morais. Para garantirmo-nos contra a sua influência, urge fortalecer a fé pela renovação mental e pela prática do bem nos moldes dos códigos evangélicos propostos por Jesus Cristo, não nos esquecendo da narrativa de Mateus: “vigiai e orai para que não entreis em tentação”. (2)
Referências:
[1] Kardec, Allan. Evangelho Segundo o Espiritismo, RJ: Ed. FEB, 2001, Introd., item XIX
[1] Mt 26,41
Jorge Hessen
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