quarta-feira, 25 de maio de 2011

ARREPENDIMENTO

TRAÇOS DO ARREPENDIMENTO

"Que conseqüência produz o arrependimento no estado corporal?

"Fazer que, já na vida atual, o Espírito progrida, se tiver tempo de reparar suas faltas. Quando a consciência o exprobra e lhe mostra um imperfeição, o homem pode sempre melhorar-se".

O Livro dos Espíritos - Questão 992.

Que adjetivo definiria melhor a nossa condição de Espíritos perante o mundo? Virtuosos, trabalhadores, esclarecidos, caridosos?...

A qualidade comum que estimula os passos da grande maioria das criaturas que agasalham a convicção nos princípios espíritas é o arrependimento. Almas arrependidas. essa é condição espiritual que fielmente nos define perante a vida.

Para muitos arrependimento seria apenas um estado emocional, todavia, é também um estado mental consolidada, que funciona como uma âncora de segurança e um impulso para a caminhada evolutiva das almas submissas aos grilhões da culpa, adquirida no mau uso da liberdade.

Muita vez, para alcançar semelhante estágio, a criatura precisa padecer longamente até saturar-se no "cansaço espiritual", passando a nutrir algum desejo de melhora e progresso em novas linhas de crescimento para Deus.

Três são os traços que caracterizam o arrependimento: desejo de melhora, sentimento de culpa e esforço de superação. Se tirarmos o esforço de superação dessa seqüência teremos o cruel episódio mental do remorso, ou seja, os arrependidos que nada fazem para se melhorar. As tendências mais marcantes dessas experiências interiores podem ser percebidas em algumas manifestações de "dor psíquica corretiva" que se diferencia da "dor psíquica expiatória". O arrependimento impulsiona, o remorso estagna. Esses três traços psicológicos e emocionais que determinam o ato de arrepender-se passam por metamorfoses infinitas, conforme a personalidade que o vivencia. Destaquemos alguns caminhos mais comuns dessa sua transmutação íntima para facilitar o entendimento de suas manifestações.

O DESEJO DE MELHORA no estágio em que nos encontramos está, quase sempre, sob o jugo da vaidade e pode expressar-se por mecanismos psicológicos variados. Desejar melhora é ter que reconhecer a própria penúria moral, assumi-la livremente em razão do idealismo nobre. É doloroso o encontro com as sombras interiores, mesmo quando queremos sinceramente nos ver libertos delas.

O impulso para crescer espiritualmente para nós é um desafio de proporções sacrificiais. Chamemos de "neurose de perfeição" ou perfeccionismo a necessidade obsessiva de fazer o bem com exatidão, uma profunda inaceitaçao de suas falhas e as dos outros, gerando melindre e intolerância, face ao nível de exigência e cobrança para consigo e para com o mundo à sua volta. A angústia decorrente do contato com o ego, o homem velho que queremos transformar, leva a ativar mecanismos de defesa para "acobertar" essa inferioridade que detectamos em nós; então entra em ação o orgulho, criando uma falsa imagem, uma imagem idealizada com a qual procuramos nos forrar de ter que olhar e admitir a pequenez da qual somos portadores. Essa luta nos recessos dos sentimentos e do pensamento traz à baila o conflito, a insatisfação e todo o tipo de incômodo interior, deixando a vida íntima em estado de intensas comoções e mudanças. Damos o nome de sentimento de culpa a todo esse conjunto de reações emocionais, quase sempre "indefiníveis" para quem os sofre.

O SENTIMENTO DE CULPA tem camuflagens e nuanças muito versáteis. Deixemos claro que em osso estágio e aperfeiçoamento podemos tomá-lo como um fator de impulsão para a melhora. Se a criatura arrependida não sentisse culpa, não garantiria a continuidade do seu progresso e desistiria, optando pela loucura ou pela queda moral. Digamos que a culpa é uma energia intrusa, porém necessária na sustentação do desejo de melhora. Jamais tomemo-la no entanto, como essencial, porque é um sentimento aprendido, um resultado de vivências anteriores e não uma virtude com a qual tenhamos sido criados. Suas manifestações podem ser percebidas na autopunição, no sentimento de desmerecimento e desvalor, nas fantasias de carma e dor, nas posturas de vítimas da vida, na inconformaçao, no azedume sistemático, nas crises de autopiedade ou ainda nos hábitos da lamúria e da queixa. É só estudar com atenção e perceberemos as relações entre esses processos de culpa e o orgulho que gerencia os mecanismos de defesa como, por exemplo, a "projeção", que se constitui de transferir para fora aquilo que não estamos suportando em nós mesmos, constatando nos outros o que não queremos ver em nossa intimidade.

O ESFORÇO é a ação que promove o equilíbrio o processo do arrependimento. Não existe arrependimento real sem reparação. Querer melhorar, sentir-se culpado e nada fazer é muito doloroso. Eis aqui a importância dos serviços de amor ao próximo que alivia e consola alguém, mas que também estabiliza os níveis energéticos de quem o realiza. É comum verificarmos companheiros de ideal doutrinário orando compungidamente e indagando o que falta para sentirem-se melhor e mais felizes, considerando que estão no esforço educativo e no trabalho do bem.

Oram sofregamente e com certa dose de desespero, sem saber as razoes de seus sentimentos de culpa, insatisfeitos com a sua realidade inferior diante de tanta luz que possuem no cérebro com os conhecimentos espíritas.

Todavia, assinalemos, a quantos vivem esses instantes de angústia e solidão das experiências evolutivas, que esse é o caminho dos arrependidos. A felicidade vem logo a seguir quando se consegue superar as refregas, sem desistir dos ideais. Sem exageros, digamos que esses estados doridos assemelham-se a uma "loucura controlada".

Especialmente os corações dotados de sensibilidade mediúnica os padecem com larga intensidade de dor.

Só existe uma solução: a oração do alívio seguida da perseverança libertadora.

Sofrem muito as almas arrependidas, eis as razoes dos sofrimentos dos verdadeiros espíritas!

Temos o desejo da melhora, mas o orgulho afeta a imaginação levando-nos a crer que já estamos redimidos com poucos esforços, cria uma sensação de que já somos o que deveremos ser, gerando a auto-suficiência espiritual, ou seja, hábitos milenares de presunção do conhecimento aliado à crença estéril causando-nos agradável sensação de superioridade, uma falsa superioridade...

Se observarmo-nos, com cuidado, veremos que desejamos o bem, mas ainda não o sentimos. Desejamos esclarecer, mas não sentimos alegria em estudar. Desejamos união, mas não nos sentimos bem na presença de qualquer pessoa.

Um ufanismo ronda os nossos passos, e nada de especial temos para apresentar ao Pai na nossa condição de Filhos Pródigos senão o arrependimento.

Não equivoquemos com virtudes e credenciais... o arrependimento, embora se possa contestar filosoficamente, é uma virtude por se tratar de um estado essencial para o progresso de almas que peregrinaram intensamente pelo mal.

Somos apenas espíritos arrependidos; ativos no bem face ao remorso que nos sensibilizou; cansamos do mal; lamentamos os erros cometidos.

Nada mais somos, os espíritas verdadeiros, que almas profundamente desejosas de recomeçar. Porém, entre os ideais novos e o nosso destino de paz interior está a milenar bagagem que organizamos na "maleta das experiências" inferiores, o orgulho.

Por isso, em muitas ocasiões, a despeito de cansados e arrependidos, ainda ensaiamos algumas "peças" no teatro da vida querendo passar por quem ainda não somos, adornando-nos de virtudes que ainda não possuímos e ansiosos de que os outros acreditem nessas ilusórias conquistas.

Em razão do personalismo, confundimos a luz que existe no Espiritismo com a luz que imaginamos deter, ostentando qualidades que começamos a desenvolver primariamente.

Cegos para nossa real condição, mesmos cansados de sofrer, ainda queremos ser quem não somos, razão pela qual somente no espírito da lídima humildade as almas que se arrependeram encontrarão descanso e um pouco de paz interior.

Por isso não permitamos nos enganar com virtudes que ainda não conquistamos, guardando a certeza de que evitar o mal é uma parte do retorno para Deus, porque o que realmente nos conferirá autoridade e paz perante a consciência será o volume e a qualidade do bem que fizermos o quanto antes.

Em Lucas, capítulo 15, v. 7, O Sábio Nazareno enalteceu a conquista do arrependimento dessa forma: "Digo-vos que assim haverá alegria no céu por um pecador que se arrepende, mais do que por noventa e nove justos que não necessitam de arrependimento".

Ave a humildade! Lembrai-vos disso, todos os que se encontram em luta sob o guante das dores psíquicas.

(Do Livro "Mereça Ser Feliz, Superando as Ilusões do Orgulho" - Wanderley S. de Oliveira/Ermance Dufaux).

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