
Divulgar a Doutrina Espírita é um ato de caridade para com ela, entretanto, divulgá-la através desse meio é, sem dúvida, deturpá-la em suas bases, causando incalculáveis prejuízos morais, com grande responsabilidade vinculada. Por isso mesmo, mantenho convicção de que a FEB não endossará essa situação, até porque há incompatibilidade total e absoluta entre os objetivos do folguedo momesco e os postulados da Doutrina dos Espíritos. A origem do carnaval remonta as teias primitivas de um passado remoto que devemos, por impulso evolutivo, abandonar urgentemente. O termo carnaval é oriundo de uma festa romana e egípcia em homenagem ao Deus Saturno, quando carros alegóricos (a cavalo) desfilavam com homens e mulheres. Eram os carrum navalis, daí a origem da palavra "carnaval". Há quem interprete a palavra conforme as primeiras sílabas das palavras da frase: carne nada vale. Como festa popular, poderia ser um acontecimento cultural plausível, não fossem os excessos cometidos em nome da alegria.
Acompanhar a espetacularização da imagem de Chico Xavier, de André Luiz e de tantos outros irmãos queridos nossos, que tanto contribuíram e contribuem com seus ensinamentos sublimes, aliadas a uma festa que é a própria apologia às piores viciações do ser humano, é o que podemos chamar de cúmulo do paradoxo entre a teoria e a prática Espírita. Por essas razões, recomenda o Espírito André Luiz para "afastar-nos de festas lamentáveis, como aquelas que assinalam a passagem do carnaval, inclusive as que se destaquem pelos excessos de gula, desregramento ou manifestações exteriores espetaculares, pois a verdadeira alegria não foge da temperança.” (2)
Estudos demonstram que durante os delírios e farras dos carnavalescos, para cada 100 casais que caem juntos na folia, setenta terminam a noite brigados (cenas de ciúme etc.); que, desses mesmos 100 casais, posteriormente, sessenta sucumbem ao adultério, cabendo uma média de trinta para os homens e trinta para as mulheres ; que, de cada 100 pessoas (homens e mulheres indistintamente) no carnaval, pelo menos setenta se submetem espontaneamente a coisas que normalmente abominam no seu dia a dia, como álcool, entorpecentes etc. Dizem ainda que tudo isso decorre do êxtase atingido na “grande festa”, quando o símbolo da “liberdade” e da “igualdade”, mas também da orgia e depravação, somadas ao abuso do álcool, levam as pessoas a se comportarem fora do seu normal. O Espírito Emmanuel adverte: "Ao lado dos mascarados da pseudo-alegria, passam os leprosos, os cegos, as crianças abandonadas, as mães aflitas e sofredoras. (...) Enquanto há miseráveis que estendem as mãos súplices, cheios de necessidades e de fome, sobram as fartas contribuições para que os salões se enfeitem." (3)
Na ribalta dos carros alegóricos, os obsessores "influenciam os incautos que se deixam arrastar pelas paixões de Momo, impelindo-os a excessos lamentáveis, comuns por essa época do ano, e através dos quais eles próprios, os Espíritos, se locupletam de todos os gozas e desmandos materiais, valendo-se, para tanto, das vibrações viciadas e contaminadas de impurezas dos mesmos adeptos de Momo, aos quais se agarram." (4)
"É lamentável que na época atual, quando os conhecimentos novos felicitam a mentalidade humana, fornecendo-lhe a chave maravilhosa dos seus elevados destinos, descerrando-lhe as belezas e os objetivos sagrados da Vida, se verifiquem excessos dessa natureza [CARNAVAL] entre as sociedades que se pavoneiam com os títulos da civilização.” (5) Os foliões inveterados alegam que o carnaval é um extravasador de tensões, liberando as energias (?!) Ora!... transbordador de tensões é a capacidade de se arregaçar as mangas e colaborar em regime permanente (sem ôba-ôba) na recuperação das vítimas das cidades serranas do Rio de Janeiro, destroçadas pelas chuvas recentes). É verdade! No período carnavalesco, não encontramos diminuídas as taxas de agressividade e as neuroses. O que se vê é um verdadeiro somatório da violência urbana e de infelicidade familiar. As estatísticas registram como consequências do "reinado de Momo", por exemplo, gravidezes indesejadas e a consequente proliferação de abortos provocados, acidentes automobilísticos, aumento da criminalidade, estupros, suicídios, incremento do uso de diversas substâncias estupefacientes e de alcoólicos, assim como o surgimento de novos viciados, disseminação das doenças sexualmente transmissíveis (inclusive a AIDS) e as ulcerações morais, marcando profundamente certas almas desavisadas e imprevidentes.
Os três dias de folia, assim, poderão se transformar em três séculos de penosas reparações. É bom pensarmos um pouco nisto: o que o carnaval traz ao nosso Espírito? Alegria? Divertimento? Cultura? Será que o apelo de Momo faz de nós homens ou mulheres melhores? Edifica o nosso Espírito? Muitos espíritas, ingenuamente, julgam que a participação nas festas de Carnaval, tão do agrado dos brasileiros, nenhum mal acarreta à nossa integridade fisiopsicoespiritual. No entanto, por detrás da aparente alegria e transitória felicidade, revela-se o verdadeiro atraso espiritual em que ainda vivemos pela explosão de animalidade que ainda impera em nosso ser. É importante lembrá-los de que há muitas outras formas de diversão, recreação ou entretenimento disponíveis ao homem contemporâneo, alguns verdadeiros meios de alegria salutar e aprimoramento (individual e coletivo) para nossa escolha.
Não vemos, por fim, outro caminho que não seja o da "abstinência sincera dos folguedos", do controle das sensações e dos instintos, da canalização das energias, empregando o tempo de feriado do carnaval para a descoberta de si mesmo, o entrosamento com os familiares, o aprendizado através de livros e filmes instrutivos ou pela frequência a reuniões espíritas, eventos educacionais, culturais ou mesmo o descanso, já que o ritmo frenético do dia-a-dia exige, cada vez mais, preparo e estrutura físico-psicológicos para os embates pela sobrevivência.
Em síntese, se o carnaval é uma ameaça ao bem-estar social, nós espíritas temos muito a ver com ele, porque uma das tarefas primordiais de nossa Doutrina é a de lutar por dispositivos de preservação dos valores mais dignos da sociedade, sem que se violente, obviamente, o direito soberano do livre-arbítrio de cada um, mas não nos esquecendo que no carnaval sempre ocorre obsessão (espiritual) como resultado da invigilância e dos desvios morais. Somente poderemos garantir a vitória do Espírito sobre a matéria se fortalecermos a nossa fé, renovando-nos mentalmente, praticando o bem nos moldes dos códigos evangélicos, propostos por Jesus Cristo e não esquecendo os divinos conselhos do Mestre: "Vigiai e orai, para que não entreis em tentação; o espírito na verdade está pronto, mas a carne é fraca''.(6)
Jorge Hessen EM http://amigoespirita.ning.com/group/artigosespiritas/forum
http://jorgehessen.net
Referências bibliográficas:
(1) Xavier , Francisco Cândido. Sobre o Carnaval, mensagem ditada pelo Espírito Emmanuel, fonte: Revista Reformador, Publicação da FEB fevereiro/1987
(2) Vieira, Waldo. Conduta Espírita, ditado pelo Espirito André Luiz, Rio de Janeiro: Ed FEB, 2001, cap.37 "Perante As Fórmulas Sociais"
(3) Xavier , Francisco Cândido. Sobre o Carnaval, mensagem ditada pelo Espírito Emmanuel, fonte: Revista Reformador, Publicação da FEB fevereiro/1987
(4) Pereira, Ivone. Devassando o Invisível, Rio de Janeiro: cap. V, edição da FEB, 1998
(5) Pereira, Ivone. Devassando o Invisível, Rio de Janeiro: cap. V, edição da FEB, 1998
(6) Mt 26:41
COMENTARIOS NA POSTAGEM DE JOSÉ APARECIDO...... VALE REFLETIR TAMBÉM.....
- Amigo José Aparecido, quando fiquei sabendo de tal noticia achei simplismente absurda a FEB permitir que algo aconteça.Isso iria por sobre terra todos ensinamentos que a propria doutrina nos alerta "vigiai e orai", portanto resta a FEb ñ permitir que se usem a imagem do nosso querido Chico para promoção de algo que é puramente mundano. Abraços!
- Caro amigo Aparecido. Sem querer fazer apologia alguma, concordo em genero, número e grau e espero que a FEB realmente tome uma posição mais energética pois um evento dessa natureza é totalmente fora dos principio básicos da doutrina espirita.
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